53. Não há tulipas sem o inverno

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#CodinomeFlamingo

O alarme tocou, tirando Jimin do seu sono bom. Poderia adiá-lo para tirar uma soneca, mas a falta de Jeongguk na cama o despertou de vez e, notar um envelope feito com folha sulfite dobrada nas pontas, o fez franzir o cenho e sorrir abobado. Que facilidade era aquela de escrever e entregar cartas? Havia até mesmo um selo desenhado que, de longe parecia fazer sentido, mas de perto, eram apenas linhas tentando imitar algo que ele viu na internet.

Jimin abriu o envelope e o peito se apertou um pouco ao ver a caligrafia de Jeongguk, cuidadosamente desenhada emitindo os seus pensamentos da madrugada. No entanto, a sua pele ainda se lembrava vividamente dos toques dele da noite anterior e o lençol conseguia cheirar a Jeongguk mesmo sendo novo. O momento até podia evocar lembranças dolorosas, mas as palavras que lia apenas deixavam cada vez mais claro que vivia um romance melhor do que qualquer livro que já havia lido.

Enterrou a cabeça no travesseiro, sorrindo tão feliz que era impossível não se levantar e tentar achá-lo, sabendo exatamente onde ele estava devido ao zunido da máquina de tatuar que ecoava da sala. A cena que viu assim que se esgueirou entre a porta para não fazer barulho não parecia apenas uma parte dos sonhos de Jeongguk, mas dos seus também.

Jeongguk estava sentado no chão, as pernas dobradas, luvas cirúrgicas pretas cobrindo as mãos que seguravam a máquina com firmeza enrolada por uma bandagem azul. Linhas longas eram feitas na pele artificial, a agulha em movimento de pêndulo, a mão indo no limite do que conseguia, saindo lentamente do contato com a pele e voltando aprofundando-se aos poucos, fazendo da linha algo contínuo e sem emendas aparentes.

Limpou a pele com o papel e satisfeito, assentiu para si mesmo, notando a presença de Jimin. Um nó de felicidade apertou a garganta dele e não se conteve ao ir abraçá-lo. Jeongguk desligou a máquina, sentindo a pele ainda quente do cobertor de Jimin. Beijos foram traçados em sua nuca e sorrindo, ele retirou as luvas para melhor aproveitar o carinho e logo Jimin sentiu o toque das mãos dele, provando que estava em um conto de fadas, onde todos os seus desejos eram atendidos. Ler suas cartas e conseguir satisfazer suas vontades de tê-lo em seus braços era, com toda a certeza, o melhor dos cenários.

— Há quanto tempo está aqui? — Jimin perguntou, ronronando no pescoço alheio.

— Não faço ideia, nem vi quando o sol começou a aparecer. — Beijou o braço atravessado em seu peito e algo na forma como Jimin cheirava quando acordava era completamente viciante. — Meu Deus, como você é cheiroso! — exclamou, jogando o corpo para trás, deitando-se entre as pernas dele e desajeitadamente, enroscaram-se um no outro.

— Podemos ficar aqui para sempre? Desse jeitinho? — Suspirou, acariciando as tatuagens que desciam do peito ao abdômen, as sakuras que saiam das costas e invadiam os ombros, pétalas em um rosa tão claro que pareciam quase imperceptíveis. O coração ao lado esquerdo do peito ainda estava lá, com um pedaço faltando.

— Acho que, se quisermos mesmo, temos licença poética para isso.

— E qual seria? — Jimin perguntou, entre risos.

— Quem iria julgar um belo casal que quer ficar mais tempo junto depois de passarem tanto tempo separados? Quem iria nos obrigar a cumprir com as nossas obrigações depois de tudo isso? — Pegou a mão de Jimin, entrelaçando os seus dedos aos dele, levando-a aos lábios e depositando um beijo casto no dorso.

— Um monstro, com toda a certeza. — Encostou a bochecha na têmpora de Jeongguk e olhou para a bagunça organizada sobre a mesa de centro: papéis toalha cortados, réguas e canetas jogadas sobre o tampo de madeira coberto com plástico filme, peles artificiais à espera de serem vítimas dos erros e acertos de um futuro tatuador talentoso. Sorriu, com ele aconchegando-se ao seu corpo, descansando de uma noite de pesadelos tentando ser esquecidos e sonhos começando a ser realizados. — Mas sabe o que seria muito bom também?

Asian Scars × jikookTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang