03. Olhos de Capitu

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#CodinomeFlamingo

Em passos largos e apressados, Jimin ia em qualquer direção que não fosse a saída do prédio de artes plásticas. Seu coração ainda estava em um completo descompasso, um nervosismo que nunca havia sentido antes, aquele cheiro ainda parecia estar impregnado em suas narinas e ele desejava ter tido tempo de olhar para as pernas cobertas por desenhos, os quais não pôde identificar. Tudo o que queria era dar mais uma olhada no tal do Flamingo.

Passou os dedos entre os fios de cabelo, como se quisesse afastar os pensamentos sobre o calor da mão dele na sua e aqueles malditos olhos. Não sabia que era assim que se comprava maconha.

— Não acredito que você me deixou ir sozinho! — Praguejou tampouco viu Taehyung na cantina, com a boca cheia e um bico nos lábios devido a mastigação interrompida.

O mais alto acenou com a mão para que o amigo esperasse e assim pudesse engolir antes de dizer: — Ninguém mandou você passar nessa matéria sozinho e me deixar pra trás.

Jimin se sentou na cadeira, fechou a cara e os seus olhos quase reviraram: — Ninguém mandou você matar aula pra ficar se agarrando com o Yukhei.

No mesmo instante, Taehyung abaixou os olhos e mordeu mais um pedaço do salgado que comia, engolindo junto a ele um nó que se formou em sua garganta.

Jimin percebeu que o fato de somente dizer aquele nome ainda o afetava.

— Tá, eu não deveria ter dito o nome dele. — Pediu desculpas. Taehyung apenas deu de ombros e os dois ficaram em silêncio por algum tempo.

Conheceram Yukhei na mesma época em que Jimin e Chanyeol se aproximaram, mas diferentemente do amigo, Taehyung se deixou levar e se apaixonou perdidamente pelo cara de sorriso fácil e piadas sempre prontas na ponta da língua. Namoraram por um tempo, eram o típico casal invejado entre os corredores da Yonsei; mãos dadas por todo lado e onde um ia, logo o outro aparecia. Mas tudo deu errado. Ninguém controla o que sente, os sentimentos de Yukhei não duraram tanto quanto Taehyung esperava, – para sempre – e assim, tudo acabou.

Os primeiros dias foram complicados, acordava como se um pedaço o faltasse, pois assim que os seus olhos se abriam, lá estava ela: A falta de uma presença que ele sabia que não estaria consigo em mensagens de bom dia e um beijo no fim da aula. Construir uma rotina ao lado de alguém é sempre bom, mas nunca é fácil rompê-la.

A sensação de ser insuficiente foi inevitável: "Por que eu não consegui te fazer ficar? O que tem de errado comigo?", pensamentos que rondaram a cabeça de Taehyung por algumas longas semanas. O vazio parecia ser do tamanho do pedaço que ele precisava preencher com o amor que deveria sentir por si mesmo.

Já sabia que não era sua culpa, no fundo, ele sabia que não era. Esse tipo de coisa simplesmente acontece. O seu coração estava partido e só havia uma forma de curá-lo: Deixar que o tempo fizesse o seu trabalho.

E era disso que Jimin tinha medo. Não sabia exatamente o que o amigo havia sentido quando escutou tal nome, mas sabia que era ruim e doloroso. Se não fosse, não teria passado noites e noites escutando lamentações e dizendo que Taehyung era justamente o contrário do que tanto se dizia ser; não se sentiria mal apenas por ter dito um nome e relembrar de uma situação que, com toda a certeza, o trazia algum tipo de saudade.

— E o Chittaphon? — Taehyung foi o primeiro a se manifestar após o silêncio desconfortável, mudando completamente de assunto.

— Quem?

— Meu deus do céu, Jimin! Você dormiu na casa dele ontem, como pode já ter se esquecido do cara?

— Ah... — Colocou os cotovelos sobre a mesa e coçou as têmporas. — Você sabe que eu sou péssimo com nomes...

Asian Scars × jikookWhere stories live. Discover now