10. Angst

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#CodinomeFlamingo

Os fortes pingos que caíam do céu faziam música em sua janela. O quarto iluminado somente por um abajur era o cenário perfeito para que Taehyung revezasse entre a pintura de uma aquarela e o livro que estava lendo. Ler o inspirava a pintar. Não era muito fã de retratar fielmente os cenários descritos pelos autores, gostava mesmo de criar algo completamente diferente, inspirado pelas palavras que dançavam sobre o papel, o levando para um lugar distante.

A sequência de pingos que batiam no vidro da janela deram voz a uma ilustração de um menino em meio a tempestade. Ele estava de costas, os seus trajes não eram o foco e sim a mudança de cor em seu corpo, a alma sendo lavada em um degradê se espalhava pela sua carne, tão perfeito que dava inveja a qualquer profissional. Mas Taehyung era só um amador, que pintava por instinto, por obedecer uma voz criativa que sempre estava presente em sua cabeça.

Assim como as ideias flutuavam soltas, prontas para serem colocadas em prática, quase em emergência, se levantou de súbito após observar por um instante a própria pintura e saiu do quarto, rumo ao quintal de grama bem aparada. Sem se importar com a intensidade da chuva, apenas fechou os olhos e retratou o que estava no papel, mas não havia alma para ser lavada, apenas uma cicatriz no coração, pronta para que as cascas fossem retiradas. A pele brilhando abaixo em um tom mais claro, ainda sensível e precisando de um maior cuidado, mas não sangrava mais ao ser tocada.

E ali, com o tecido do pijama grudando em sua pele e o cabelo encharcado caindo sobre os olhos, se sentia parte da tempestade, mas por ter sentido tantas outras lavarem o seu peito. Forte, intensa, levando tudo o que via pela frente sem medidas, mas no fim, era só um evento passageiro, assim como todas as paixões que emaranharam a sua garganta e a boca do estômago.

Sabia que no dia seguinte o grande astro se faria presente, iluminando todo o céu sem nuvens. Era uma pena ter parado de chover ainda de madrugada, pois não havia luz para que um arco-íris fosse visto por todo o percurso até a Yonsei, até que ele se perdesse entre os prédios e as janelas de neve o impedissem de fitá-lo até que o mesmo desaparecesse.

Dois dias eram o suficiente para que a grama secasse por completo, pronta para servir de descanso para os estudantes entre uma aula e outra. O gramado era enfeitado por pequenos passarinhos amarelos, que andavam em busca de alimento

— Eu me sinto bem, sabe? — Jimin olhava para o céu azul decorado com as folhas das árvores, deitado sobre a sua bolsa, uma mão atrás de sua cabeça e a outra acariciando os fios castanho de Taehyung, enquanto o ouvia falar deitado em sua barriga. — Não dói mais... Pelo menos não tanto.

— O que você está sentindo exatamente? — O moreno sempre escutava tudo o que o amigo falava atentamente, porque Taehyung era alguém que mergulhava de cabeça em todas as suas relações e com Yukhei não foi diferente. Ele era o seu melhor livro de romance, mas naquele momento, havia um aperto que nunca antes fora sentido ao escutar tais palavras, talvez fosse medo, ele ainda não sabia.

— Sinto que tudo vai ficar bem algum dia, mas por enquanto eu prefiro ficar sozinho. Eu gosto da minha companhia, de ler e pintar os cenários que os autores me fazem imaginar, escutar as minhas músicas em paz... — Suspirou e fechou os olhos, apreciando o cafuné.

— É bom ser inteiro sozinho. — Jimin disse e assistiu parte de seus dedos sumirem entre os fios que ficavam mais longos e ondulados a cada semana.

— Mas isso não quer dizer que você não possa transbordar. — Taehyung abriu os olhos e o encarou profundamente. A mão cessou o carinho em seu cabelo, assim como o abdômen parou de subir e descer. — É bom transbordar, é bom amar e ser amado.

Asian Scars × jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora