31. Insanidade

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A madrugada parecia calma, apesar do frio que fazia Byul-yi esconder as mãos geladas nas mangas de seu moletom. Estava dentro do carro com Yeonjun e só o que escutava eram as goladas sopradas dele no café fumegante.

Seu parceiro era cheio de manias irritantes, mas ela não poderia negar que era melhor estar com ele do que sozinha. Aquelas noites de observação eram um tanto estranhas para si, pois parecia que tudo daria errado a qualquer instante, mas não dava. Era uma ansiedade que roía as suas unhas e beliscava os lábios, uma tensão que crescia e se dissipava com o fim do expediente do observado.

As suspeitas contra Hyun faziam tanto sentido que, ver dias e noites se passarem sem conseguirem ter qualquer prova concreta contra ele, deixavam-na anestesiada, as esperanças evaporando aos poucos e tudo se tornando meio apático. Quantas noites ficariam à espreita sem que nada acontecesse até que percebessem que tudo não passou de um devaneio e a culpa era de outra pessoa?

De vez em quando, imaginava que era ela quem devia ter perdido algum ponto. Ainda bem que Yeonjun estava ali para não a deixar pensar dessa forma por muito tempo.

— Essa demora toda se deve ao fato do Joong-ki estar sendo o parceiro de Hyun nesses últimos dias — dizia ele, ao seu lado, a câmera fotográfica no colo e o vapor do café abrindo os seus poros. — Acho que o parceiro antigo dele está doente.

— Parabéns, Kim Seokjin. O digníssimo delegado está atrasando o nosso trabalho — rebateu, já sem muita paciência.

— Ou talvez ele queria adiantar o processo. Você não acha que a índole de Joong-ki foi colocada à prova?

— Pode ser. — Deu de ombros, bufando logo em seguida ao que olhava para a janela.

— Eles conseguiram apreender uma boa quantidade de drogas na rota Busan X Seul durante uma blitz. Joong-ki disse que Hyun tremia mais do que o traficante. — Yeonjun prendeu a gargalhada com a mão livre, mal se aguentando com as imagens que a sua imaginação criava.

— Você é um fofoqueiro — Byul-yi comentou, tentando disfarçar o próprio sorriso.

— Apenas compartilho informações — disse, em um tom falsamente zangado, dando mais um gole em seu café. — Pelo menos hoje ele volta sozinho na viatura. — Apontou com o queixo para a tela que mostrava a rota alheia, o ponto vermelho mostrando a rodovia onde a blitz acontecia, os giroflex brilhando não muito longe da entrada escondida para a floresta onde os investigadores estavam.

Byul-yi observou a tela com o olhar desanimado, repensando sobre todas as suspeitas apontadas contra Hyun: — Você não acha que isso é coisa da cabeça da Wheein? Eu sei que ela não gosta do cara, talvez–

— Eu acho que ela é bastante profissional — Yeonjun a interrompeu, a cafeína deixando-o inquieto. — Assim como Hyun está tentando ser. Qual é, é óbvio que ele sabe que alguma coisa está acontecendo: troca de parceiros, patrulhas em lugares que não eram sequer citados e nisso alguma informação foi revelada, porque esse negócio do Flamingo ter escapado não me desce. Ele era o traficante do campus e não tinha um grama de nada naquela noite? Fala sério...

Byul-yi arqueou as sobrancelhas, suspirando pelo cansaço de Yeonjun estar sempre certo: — E esse traficante que foi preso? Também não disse nada?

— Eles nunca dizem.

Yeonjun deixou o café de lado e apoiou o cotovelo na janela, olhando para toda a escuridão que os cercavam, não só da floresta, mas também naquele caso. Não conseguir resolver as intempéries da segurança pública fazia com que aquilo escapasse para a sua vida pessoal e tudo virava uma bola de neve emocional. Afinal, nenhum dos dois queriam ler mais notícias sobre jovens morrendo de overdose em casas noturnas, nem olhares desesperançosos de traficantes na mesa de interrogatório ao pensar que tudo poderia ser diferente.

Asian Scars × jikookDonde viven las historias. Descúbrelo ahora