08. Something

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#CodinomeFlamingo

O som agudo penetrava os ouvidos de Jeongguk e a agulha vibrante, a sua pele. Estava deitado na maca com a blusa de botões aberta enquanto Hyejin estava próxima de seu rosto, em uma posição não muito confortável para melhor tatuar o coração em seu peito. A luva negra que cobria as suas mãos segurava a máquina de tatuar com agilidade e um papel toalha manchado de tinta preta.

A nova tatuagem estava sendo feita com as agulhas recém compradas, aquelas que Jeongguk se encarregou de trazer, indo de encontro a Kim Jiwon em seu apartamento espaçoso, que servia de estúdio de tatuagem, como o Something, mas também revendia os produtos e maquinário utilizado para a sua execução. Essa com certeza, era uma das melhores coisas que Jeongguk fazia como Flamingo, mas ele nem ao menos gastava seu tempo se apresentando como tal. Era recebido como Jeon, com um sorriso de dentes tortos e charmosos de Jiwon, que oferecia uma limonada ou uma cerveja e o enchia de perguntas: "Quando é que você vai começar a tatuar, cara? Seus desenhos são bons demais para serem tatuados por outra pessoa, você precisa vestir a luva e fazer tudo do seu jeito!"

E Jeongguk sempre respondia alguma coisa diferente, mas naquele dia, ele só tomou um gole da cerveja amarga, olhou para a pequena letra grega na lateral de seu pulso, um beta, e deu de ombros. Não havia um dia sequer que não pensasse em como teria sido melhor conhecer Kim Namjoon antes de Byun Baekhyun.

Antes que pudesse fechar os olhos para se concentrar no ardor que a agulha fazia na pele ao passar pelo mesmo local já machucado, foi distraído com uma melodia antiga ecoando no ambiente bem iluminado.

"Something in the way she moves, attracts me like no other lover"

(Alguma coisa no jeito que ela anda, me atrai como nenhum outro amor)

Olhou para o lado, apenas movendo o pescoço e pegou Namjoon cantarolando enquanto observava Hyejin tão concentrada, se perguntando se existia algum ser tão mais lindo do que ela, usando uma máscara cirúrgica ao mesmo tempo que encharcava mais um pedaço de papel toalha com um pouco de sabão líquido diluído.

— Pronto para o sombreado? — Ela disse, já regulando a máquina e sorrindo com os olhos. O mesmo sorriso se transformou em uma gargalhada ao ver que Hoseok havia puxado Namjoon para dançar, abraçadinhos e girando em círculos, lentamente, um passo de cada vez. — Esses dois...

A música conseguia encher seus ouvidos e dessa vez com mais afinco, já que a voltagem para aquele tipo de sombreado era menor e a máquina fazia menos barulho, o que não deixava de arder. Fechou os olhos e logo se lembrou dos primeiros versos da canção, o golpeando de forma violenta, pois a imagem de Jimin andando com aquele jeitão decidido, as pernas longas em passos largos... O atingiram como um soco no estômago. Se lembrar do beijo já o fazia ficar quente, mas a sensação das mãos recém lavadas e entrelaçadas, um toque fresco que o deixava morno. Porque Jimin era assim: nem quente demais para fazê-lo se queimar, nem frio a ponto de ser estilhaçado se caso fosse jogado ao chão. Seu corpo tinha a temperatura certa para as mãos de Jeongguk, como o bater lento de um coração e a cabeça repousada no peito enquanto se recebe um cafuné em meios a ronronos. Só de pensar em vê-lo mais uma vez, seus lábios se esticaram em um sorriso bobo.

— Gguk, se estiver fazendo cócegas, por favor, engula a risada. — Hyejin avisou, o corpo dele não podia tremular. — Já estou quase acabando.

— Desculpe. — Fechou os olhos e apertou os lábios finos, sem conseguir escapar da lembrança da feição de prazer de Jimin refletida no espelho e a sua voz escapando da boca em um gemido contido. Sem perceber, acabou prendendo a respiração e a soltando lentamente, de forma dolorida. Céus, como ele conseguia ser tão... tão... Suspirou pesadamente.

Asian Scars × jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora