48. O caos inicial

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#CodinomeFlamingo

Na sala pequena da casa de Jimin, ele dividia o sofá com os pais. Nas poltronas à sua frente estavam Yoongi e Seokjin, xícaras de chá intocadas na mesa de centro e uma frota de carros à paisana espalhada pelo quarteirão. Um fio de suor escorria pela têmpora do mais novo, sentia os corpos quentes dos seus pais em cada extremidade, o jeans estava colado na dobra dos seus joelhos e ainda fazia muito frio lá fora.

— Park Jimin faleceu em um acidente de carro — disse Seokjin, usando o verbo no passado para fazê-los acostumarem-se com a ideia. — Seus pais, inconsoláveis, venderam a casa na qual o jovem foi criado e se mudaram para um condomínio fechado. — Olhou para eles, erguendo uma das sobrancelhas e completou com uma informação que era importante somente para eles. — Altamente seguro.

Jimin ficou estático, encarando o vazio, ouvindo o seu nome e uma narrativa sobre a sua vida inventada. As frases repetiam-se dentro da sua cabeça em um eco. Sua mãe repousava a mão em punho fechado sobre a coxa dele, tentando digerir o que ouvia e ter a certeza de que o filho estava ali, presente. Kwan, por outro lado, não levava nada daquilo a sério, ou a sua incredulidade era a sua melhor forma de lidar.

— Seu novo nome será Natsu Inoue — Seokjin continuou. — Estudante de Letras da Universidade da Coreia que conseguiu um intercâmbio para a Universidade de Leiden, na cidade de Leiden, Holanda. Emigrou e nunca mais voltou para o seu país de origem. — Olhou para eles e esperou por alguma resposta, mas os três apenas mostravam reações diferentes, ainda que silenciosas.

— Entendo que isso seja difícil de digerir, ainda mais para os pais que terão que conviver com um luto que de fato não existe. — Yoongi limpou a garganta, tentando amenizar o impacto das informações dadas pelo delegado.

— Como é um luto que não existe? Eu vou perder o meu filho de verdade! Eu nunca mais irei vê-lo?! — Jiyoon se exasperou, deixando as mãos trêmulas aparentes.

— Com muita discrição, a senhora pode ir ao encontro dele depois de um período de segurança, mas dificilmente ele conseguirá voltar para a Coreia. — Seokjin tentou tranquilizá-la, mas tudo o que Jimin conseguia escutar era um zunido em seus ouvidos.

— Eu aceito — disse ele, rompendo com a conversa que se desenrolava sem a sua participação.

— O quê?! — Seu pai finalmente reagiu, a realidade caindo em seus ombros. — Esse tal de Jeongguk vai realmente reger e mudar todo o curso da sua vida?

— A minha escolha não está sendo feita agora. Eu desenhei esse destino quando, mesmo depois de todos os avisos e de tudo o que de fato aconteceu, eu ainda decidi ficar. E eu continuo mantendo a minha escolha.

Jimin não pensava no perigo que correria se dissesse não e continuasse a morar em um lugar já conhecido por Baekhyun. Não pensava no medo constante que sentia a todo momento e no seu eventual alívio quando saísse dali. Jimin só conseguia pensar em Jeongguk, na resposta da sua última carta que nunca chegou porque era assim que o tatuado se fazia acreditar: a resposta viria pessoalmente, sussurrada em seu ouvido.

Seu nome, sua história, sua família e amigos continuariam vivos dentro de si, ainda poderia ser Natsu com um Jimin guardado dentro do peito, mas não continuaria a ser Jimin sem Jeongguk por perto.

Havia fogo ao seu redor, mas ele continuaria queimando longe de Jeongguk.

— Você tem certeza? — Jiyoon perguntou, com os olhos cheios de lágrimas. — Absoluta? Você acha que é para sempre? Que tudo isso vale a pena?

Omma, como eu poderia voltar atrás agora?

— Não pense no que viveu até então como se precisasse continuar só para não perder o tempo que investiu nele. — Jiyoon segurou a mão de Jimin, como se tentasse puxá-lo para a realidade. — É hora de pensar no futuro. Você consegue se ver com ele em outro país? Será só vocês dois por muito tempo. Só me diga, você tem absoluta certeza?

Asian Scars × jikookWhere stories live. Discover now