54. Oblívio

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Jiyoon observava a paisagem da rodovia pela janela sem se atentar às placas, seus pensamentos estavam em um lugar que nenhuma outra pessoa poderia acessar, apenas outra mãe. Kwan estava no banco do carona enquanto Yoongi dirigia em direção à Busan, ambos conversavam sobre trivialidades enquanto Jiyoon se mantinha em silêncio. Não sabia porquê estava fazendo aquilo, talvez fosse por Jimin, quem sabe por Jeongguk, mas no fundo, sentia que poderia ser por Eunbi e apenas por ela.

Passaram pelo centro da cidade e logo o carro perdeu-se no interior de algum bairro. Quando pararam em frente a uma casa simples e aparentemente pequena, Jiyoon ergueu o olhar e conseguiu vê-la parada diante da varanda, encostada na coluna de sustentação enquanto dedilhava o sino de vento que, se não fosse pelos seus dedos, se manteria em silêncio.

Eunbi viu no rosto de Jiyoon o espelho das suas feições se não tivesse sido tão amarga consigo mesma. Jiyoon tinha o cabelo curto, o que a deixava mais jovem. E os fios brancos distribuíam-se igualmente, tomando a escuridão natural aos poucos. Apesar disso, sua pele era brilhante e as bochechas rosadas. Os olhos de uma mãe sempre são espelhadas nos dos filhos e ali, Eunbi reconheceu a quem Jimin havia puxado, talvez fosse devido a quantidade de horas que elas mantinham-se ao lado daquele ser que um dia foi frágil e o tempo apenas a mostrava que, por toda a vida, precisavam de cuidado.

No entanto, por alguns minutos, Eunbi se esqueceu desse fato e era por isso que o filho de Jiyoon também não estava mais ali. Das atitudes do passado criaram-se os ramos que conectaram as duas, o que a fez pensar que Jiyoon poderia estar zangada consigo.

— Olá, Srª Jeon. — Yoongi curvou-se para cumprimentá-la. — Quanto tempo.

— Olá, querido. — Eunbi deu alguns passos na direção dele, olhando para os outros dois, que foram apresentados em uma formalidade digna de completos desconhecidos. A distância fora mantida, Eunbi não os chamou para entrar. Algo na ideia de eles perceberem a simplicidade da sua casa a aterrorizava, apesar do chá quente na chaleira os esperando. O silêncio foi atingindo algo além do desconfortável, não existia nome para aquilo.

— Podemos entrar? — Yoongi perguntou, tomando as rédeas da situação.

— Claro — Eunbi respondeu e pigarreou, como para se colocar no momento presente.

Todos sentaram-se em volta do chabudai desgastado na sala. Eunbi só conseguia se atentar a marca feita pelo tempo na borda da madeira, mas também precisava servir o chá sem que derramasse.

— Obrigada — Jiyoon disse, com o seu sorriso gentil

— Jimin se parece muito com você. — Colocou o bule de volta à mesa, cruzando as mãos sobre o colo.

— Jeongguk também se parece muito com você! — disse, mais animada do que Eunbi esperava, recebendo o sorriso gentil do marido.

— Não... Não estou falando de aparência física. — Balançou a cabeça em negativa, fazendo Jiyoon estreitar as sobrancelhas. — Jimin foi gentil comigo, apesar de tudo.

Jiyoon suspirou e jogou a cabeça para o lado, alisando a borda da xícara ainda apoiada sobre o chabudai.

— Às vezes, o tudo não é nada. Jeongguk ainda é jovem, vai viver essa nova vida por mais tempo do que a anterior. — Jiyoon encarou os olhos grandes de Eunbi processando o que dizia, no mais puro silêncio.

— É uma boa forma de olhar para os acontecimentos agora, mas nada disso apaga o que eu fiz, ou o que ele viveu...

— Não apaga e nem muda o que aconteceu — Kwan disse, depois de um gole no amargo da matcha. — Talvez a resposta seja focar no que temos agora.

Asian Scars × jikookWhere stories live. Discover now