Epílogo - Laca e ouro

667 124 74
                                    


Jimin e Taehyung apostavam corrida pelos campos verdes de Balbriggan. O céu azul mudava de cor em um gradiente manchado de laranja e amarelo, como se fossem as únicas luzes restantes do fim de tarde. A grama já parecia mais escura devido a noite que se apressava em cair.

As risadas dos dois ecoavam, enchendo os seus ouvidos. Seus amigos o chamavam de Haru, mas havia uma boa parte de si que se encantava em poder ser Jeongguk de novo. Hyunah caminhava ao seu lado com as mãos nos bolsos do casaco, seu cabelo escuro voava com a brisa marítima e ao olhar para trás, esperou que Jiyoon e Kwan os alcançassem.

Namjoon, Hyejin e Hoseok estavam ainda mais à frente, fazendo a linha de chegada. Jimin até que se esforçou, mas não conseguiu ganhar das pernas longas de Taehyung.

Jeongguk estava de olhos abertos e algo em sua mente lhe dizia que tudo aquilo só poderia ser um sonho, mas havia algo mágico em viver e saber que tudo ao redor era apenas a realidade.

(...)

Sentados no chão da sala do apartamento em Leiden, Jimin e Jeongguk desfaziam as malas da recente viagem para Dublin. Seus casacos voltavam para os cabides, suas botas de inverno para o fundo do armário e as malas para debaixo da cama. No quadro de cortiça ainda na parede, Jimin pregou a fotografia que todos tiraram juntos, abraçando uns aos outros com sorrisos enormes nos rostos.

Deitaram-se sobre o tapete, puxando as almofadas para baixo, acomodando-se melhor enquanto observavam em silêncio a pintura que Jeongguk havia feito alguns anos antes. Ao lado, havia uma estante de livros ainda pequena, Jimin decidiu que não os acumularia como antes, só teria os seus preferidos. Logo acima dela estava o seu diploma da Universidade de Leiden e ao lado, o primeiro decalque do primeiro cliente pagante de Jeongguk, ambos emoldurados, cada um com a sua devida importância.

Havia mensagens não respondidas de Laura em seu celular, que havia voltado para a Colômbia para visitar a família. Lamentava-se de ter perdido a noite de comidas típicas coreanas que a sua família havia feito enquanto estavam ali. O apartamento havia ficado pequeno para tantos tatuadores juntos e mesmo assim, Laura fizera falta.

Suspiraram em sintonia, entreolhando-se com as pálpebras piscando lentamente. Jeongguk parecia mais pensativo do que nunca, mas Jimin não tinha mais medo de perguntar no que fazia morada em seus pensamentos.

— Então é isso? — Jimin perguntou. — Iremos nos mudar.

Leiden tornou-se pequena e distante para Jeongguk. As viagens de trem começaram a ficar irritantes à medida que precisava pegá-lo todos os dias para ir até o estúdio em Amsterdã.

Sem que pudesse controlar, lágrimas iluminaram seus olhos e ele deu de ombros, acenando que sim com a cabeça. Aquele brilho fez Jimin pensar que fez bem em ter pintado o olho restante da daruma, agora ela estava de volta ao seu país, pronta para ser queimada em algum templo porque o seu pedido havia se realizado.

— Por que eu sinto que todo dia é um novo começo? — Jeongguk disse, sem saber que a retórica tinha resposta.

— Porque, agora, você pode recomeçar sempre que quiser. Só te peço que sempre recomece junto de mim.

— E como eu poderia iniciar uma nova jornada sem você? Você é o meu caminho inteiro.

Jimin se encolheu na almofada, sorrindo com as bochechas vermelhas, que logo receberam leves mordidas daquele que provocava sem nunca saber qual seria a reação do namorado. Às vezes, ele devolvia na mesma moeda, em outras, ele se desmanchava em seus braços suspirando com um sorriso tímido nos lábios. Jeongguk amava cada uma de suas reações tanto quanto amava provocar todas elas.

Seus beijos estalaram e logo aprofundaram-se no silêncio das línguas ocupadas. Jimin saboreava o gosto bom do seu amor, enterrando os dedos nos fios castanhos que caíam em cascatas sobre a nuca. Amavam-se diariamente com a certeza pairando nas palavras das cartas que ainda escreviam um para o outro de vez em quando, ou nas confissões que saíam tão facilmente pela boca.

Jimin adorava se declarar. E adorava ainda mais ouvir as respostas de Jeongguk seguidas de seus beijos.

(...)

Os sons das máquinas de tatuar ecoavam pelo estúdio em uma sinfonia desordenada, cada uma regendo o próprio concerto de peles sendo machucadas para serem preenchidas com tinta. Jeongguk limpou a superfície depois de concluir uma das folhas do ramo de espinhos e olhou para Jimin, que estava de olhos fechados, esperando o traço terminar e a dor aliviar por alguns segundos.

— Tudo bem, meu amor? — Jeongguk perguntou.

— Uhum... — Jimin resmungou, querendo dizer que não.

— Já estou quase terminando. Essa parte é mais chatinha mesmo — disse, levantando-se apenas para selar os lábios dele, que precisava de um pouco de carinho.

Jimin respirou fundo e escolheu apreciar o rosto concentrado de Jeongguk. O aclive das sobrancelhas cheias só não era mais bonito do que os cílios que protegiam os olhos. Naquele ângulo, o nariz fino escondia a boca rosada e de alguma forma, Jimin se sentia hipnotizado pelo brilho suave que as lâmpadas do estúdio faziam na tez bronzeada pelo recente verão. Talvez devesse fazer mais tatuagens só para ter a permissão de observá-lo em silêncio sem ser percebido.

— Pronto. — A voz de Jeongguk o acordou de seus devaneios lúcidos e delicadamente, ele espalhou a espuma pela recente tatuagem que tomava todo o colo.

Jeongguk o ajudou a se levantar e o levou em direção ao espelho. E quando se viram no reflexo, cenas de um passado distante saiu do canto das memórias e tomou conta de todo o ambiente. A concha no meio estava ali, com algumas flores saindo de dentro. Os ramos de espinhos continham alguns brotos, que poderiam se espalhar e florescer em seus ombros. Jimin ainda estava se decidindo sobre isso.

— Agora é de verdade — Jeongguk sussurrou em seu ouvido, os dedos dedilhando a sua cintura nua e o nariz criando caminho do seu cabelo escuro até o pescoço que exalava o seu perfume suave.

— Sempre foi — sussurrou de volta, tomando as mãos dele nas suas, entrelaçando os dedos e o fazendo ficar tão próximo das suas costas que sentia o tecido da camiseta alheia querer se fundir com a sua pele. — Na minha cabeça, ela sempre esteve aí.

Nos seus ouvidos, a respiração cortante de quem segurava o choro sem sucesso, seguida de uma risada por se achar tão bobo. Ao redor, a vida continuava, com conversas em outras línguas, um álbum que se repetia porque ninguém tinha coragem de pular a música e havia aqueles dois, perdidos no próprio mundo, em um universo que habitava certos olhos.

Suas tatuagens, cicatrizes. Sua dor, latente. Jeongguk se sentia, finalmente, inteiro.

Asian Scars × jikookHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin