50. Sem mais outrora

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#CodinomeFlamingo

A mão enfaixada de Baekhyun sobre a mesa estava imóvel. Os efeitos dos analgésicos já haviam passado e ele evitava fazer movimentos bruscos, pois bastava a dor pulsando a cada segundo, como se ameaçasse tomar o seu corpo por inteiro.

Seokjin olhava para Baekhyun como se conseguisse ver o retrato que Jeongguk havia feito, a não ser pelos olhos empedrados. O desenho parecia ter mais emoção do que o corpo em carne e osso à sua frente.

— Onde está Jeongguk? — a voz empertigada perguntou, não combinando em nada com a sua postura visivelmente desconfortável.

— Isso não é da sua conta agora — respondeu, rodando a caneta entre os dedos ágeis.

— Ele vai voltar para a cadeia? — insistiu, deixando que um pouco da fragilidade do seu corpo invadisse o seu tom de voz. — Ou eu realmente o matei?

— Você será acusado por tentativa de homicídio. — Seokjin cruzou os braços. — Ou essa ferida na sua mão não existiria. O que teria acontecido se eu não tivesse te impedido?

— Eu o mataria, com toda a certeza. — Suor começava a se acumular na testa de Baekhyun e o seu corpo dava indícios de que uma febre estava chegando.

Seokjin suspirou. No fundo queria que as coisas se desenrolassem de acordo com as suas vontades: um tiro em Jeongguk e a possibilidade de tê-lo matado perseguindo os pensamentos de Baekhyun para todo o sempre, no entanto, a verdade deveria prevalecer no tribunal e ele não poderia pagar por um crime que não cometeu. Manter Jeongguk seguro de todo o perigo era o certo a se fazer e o seu suspiro carregava um pouco de alívio por saber que ele estava bem longe dali.

— Então eu fiz a coisa certa. — Mirou na mão de Baekhyun, mais pálida que a própria atadura.

— Satisfeito? — Ergueu uma das sobrancelhas em direção ao delegado. — Por que não atirou mais? Por que não acabou com a minha vida?

— Não é como se você fosse ter vida daqui para frente de qualquer forma. — Seokjin deixou um sorriso zombeteiro escapar. — E eu não sou como você. É por isso que estamos em lados opostos desta mesa.

Baekhyun jogou a cabeça para o lado e engoliu em seco. A pulsação na ferida parecia aumentar a cada segundo e mostrar qualquer traço de fragilidade o colocaria em uma situação pior do que a que seu pai um dia ocupou.

Morto, poderia ser visto como um mártir. Um nome deixado no passado e somente as suas grandes ações ecoariam nos ouvidos de quem chegasse perto do que um dia foi. Vivo, preso, baleado na mão por um policial que o impedira de matar à queima roupa o seu delator, era, no mínimo, humilhante.

A sala começava a ficar irritantemente gelada e tremores involuntários começaram a desorientar as suas ações. A pele sem vida e os lábios frequentemente mastigados em uma forma de não demonstrar o que estava sentindo, fora o que incentivou Seokjin a perguntar e o que mais irritou Baekhyun.

— Precisa de um casaco? Já está na hora da sua medicação?

— Vai a merda, delegado Kim — disse, entredentes, fechando em punho a mão boa e a levando próxima ao corpo. — Eu não sei o que ainda faz aqui. Eu não vou assumir nada além do que aquele desgraçado já disse. Não vai achando que vou tornar a sua vida mais fácil só porque caí nas suas mãos.

— Vou chamar ajuda para você. — Seokjin o ignorou e chamou pela equipe médica, deixando Baekhyun ainda mais irado.

Queria ser tratado como trataria alguém naquela situação. Encontrar justamente o contrário apenas o fazia pensar que estava tão mal que era digno de pena e não que, apesar de tudo, ainda era um ser humano que precisava de cuidados.

Asian Scars × jikookWhere stories live. Discover now