09. Chuva de verão

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#CodinomeFlamingo

A sala que antes era bem iluminada, estava mergulhada em uma penumbra. Baekhyun apoiava os pés na mesa e o cotovelo no encosto da cadeira, o rosto pendia sobre uma das mãos e o mais puro silêncio se fazia presente. Ele nem ao menos se movia, sua respiração era muda e a sua mente estava em branco. Seus olhos estavam fechados, mas ele não tinha sono. Já era alta madrugada e a ansiedade não o deixava dormir, precisava saber o que estava acontecendo.

A escuridão foi iluminada pela tela do celular que brilhava e o silêncio quase perturbador se ausentou com a vibração sobre a mesa, o telefonema tão esperado finalmente havia chegado: — Quem é esse tal de Kim Seokjin e por que o Bogum ainda está preso? — Disparou assim que atendeu a ligação de Sunho.

Lee Hyun não pôde fazer nada. — O advogado disse calmamente, já esperando a explosão de seu chefe, mas só o que recebeu como resposta foi um suspiro pesado. — O tal Seokjin está organizando uma grande operação para limpar a cidade, mas Hyun, como agente, consegue saber de tudo o que está acontecendo e vai nos contar cada um de seus movimentos. — Parecia que ainda estavam na frente, afinal, mesmo perdendo um dos seus. E o agente também estava desesperado, não queria perder o dinheiro que ganhava em troca de alguns favores. — Bem... E quanto a Bogum, não sei se sabe, mas a droga que estava com ele apareceu no noticiário e tudo o mais, levantaria muitas suspeitas se caso fizéssemos algo para ele ser solto. O que vai acontecer agora?

— Ele tem uma filha de oito anos de idade, você já sabe o que fazer com essa informação. — Disse pressionando a têmpora que já latejava enquanto a outra mão apertava o telefone contra a orelha.

Pode deixar. — Uma risada sarcástica foi ouvida do outro lado da linha e a ligação foi encerrada.

Jogou o celular de qualquer forma sobre a mesa e encarou os olhos duros de Sungjae, seu pai, no porta retrato. Moveu os lábios, mas as suas cordas vocais não fizeram questão de trabalhar: — Não vou te decepcionar.

E jamais poderia. Quando entrou na chefia e sentiu que fosse perder o poder, juntamente com a carga que o inútil e jovem Jeongguk não conseguiu cuidar, descobriu que deveria tentar ser mais inteligente que o próprio pai, se aliando àqueles que tiraram a sua vida, seu maior inimigo: A Polícia.

Seu primeiro erro teve como consequência o seu maior acerto. Tirou a concorrência de seu encalço e jogou de acordo com as regras do capitalismo. De um lado, o seu negócio estava protegido e do outro, alguns policiais se beneficiavam financeiramente.

Mas a notícia de um policial honesto querendo fazer uma limpa na cidade o fazia querer rir, ao mesmo tempo que um medo começava a lhe afligir. Não poderia ser pego, jamais poderia ter o mesmo destino do pai, ou pior, parar atrás das grades e pagar por todos os crimes que cometera. Estava acostumado a carregar uma culpa que não era sua, assim, era mais fácil culpar os outros.

(...)

Para alguém que vive com a cabeça enfiada nos livros, as palavras possuem poder. E a falta delas também.

Cada palavra inventada possui um significado e banalizar qualquer um que seja, é sacrificar a sangue frio toda uma história de transformações e de novos contextos para que elas sejam usadas. Porque a língua é movimento, nunca para, nunca se estagna. Mas algumas das palavras que usamos em nosso dia a dia nunca mudam em sua essência, como é o caso da morte. Poderia existir algum outro significado para ela? E o ódio? E o que conhecemos hoje como o amor?

Jimin não tinha resposta para nenhuma dessas perguntas, mas nunca brincava com o poder das palavras. Era difícil ele dizer algo que se arrependia, pois como um conhecedor das letras, sabia usá-las muito bem, assim como era difícil o deixar sem ter o que dizer.

Asian Scars × jikookWhere stories live. Discover now