44. Silêncios e conexões

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#CodinomeFlamingo

Jeongguk desejou que a televisão estivesse ligada, ao menos os personagens do dorama estariam resmungando sobre alguma coisa. A cela ficou tão silenciosa que ele podia julgar estar sozinho, mas apoiou-se nos cotovelos para ver o que estava acontecendo. Os colegas entreolhavam-se confusos, sem saber o que dizer.

— Por que você escondeu isso? — Dong-wook perguntou, estreitando os olhos.

— Por que vocês acharam que era uma mulher? — devolveu a pergunta, fazendo todos pensarem sobre a resposta.

O silêncio constrangedor era sinal dos pensamentos que tomaram a cabeça de cada um deles, pois nunca pensaram na possibilidade de Jeongguk ter um relacionamento amoroso que não fosse heretossexual. Kouyou, que julgava ter a mente mais aberta entre os dois, sentiu-se tão desconfortável que não conseguia olhar para Jeongguk. Desaparecer parecia ser a melhor coisa que poderia fazer.

— Porque eu conheci uma Jimin — Dong-wook tentou se justificar, mas logo se lembrou da sua irmã que cogitou esse nome para colocar em seu sobrinho e apertou as pálpebras com força. — Nomes são confusos, ok?

— Então você é gay? — Sung-min perguntou, abraçando os joelhos com toda a naturalidade do mundo.

— Sim, minha mãe me expulsou de casa por isso e acabei entrando no tráfico.

Kouyou arregalou os olhos, mas se manteve em silêncio. De todos ali, ele era o único que não entrara no mundo do crime por necessidade. Seus motivos estavam ligados à ganância e à vaidade, nunca entenderia o que seria aceitar condições que iam contra a sua índole por um prato de comida. Não que ele tivesse tanta índole assim.

— Nunca conheci um gay — Sung-min continuou, jogou a cabeça para o lado, observando Jeongguk.

— Muito prazer! — Estendeu a mão e Sung-min o cumprimentou no automático. Dong-wook riu e Kouyou apertou os lábios para segurar a risada, sem saber se era certo rir daquilo.

— E como é o Jimin? — Sung-min continuou a conversa, pela primeira vez, sendo mais comunicativo que os outros dois.

— Como assim? O que você quer saber? — Jeongguk franziu o cenho, sentando-se no futon.

— Ele é bonito? — Dong-wook perguntou. — Porque assim, você está acabado.

— Eu estou careca! — Jeongguk disse mais alto sem querer. — A única pessoa dessa cela que combinou com a careca é o Sung-min-hyung.

— Sério? — incrédulo, ele perguntou de volta e os outros dois concordaram.

— É meio estranho te imaginar com cabelo — Kouyou concluiu. — Parece que você nasceu assim.

— Sim, quando eu era um bebê. — Sung-min franziu o cenho e nem Jeongguk se aguentou, acabou rindo também.

As risadas foram dando lugar ao silêncio lentamente e entreolharam-se desconfortáveis.

— Como que saímos da revelação do Jeongguk para a careca de bebê do Sung-min? — Dong-wook riu soprado, sentando-se no próprio futon.

— Acho que isso não importa muito para a gente — Kouyou disse, referindo-se ao início da conversa, olhando para Jeongguk, que assentiu e piscou os olhos lentamente.

— Jimin é a coisa mais linda que já me aconteceu — respondeu aos questionamentos que queriam saber mais sobre ele. — É nele que eu penso toda vez que pego o pincel em mãos e me obrigo a pintar com as poucas cores que tenho, me segurando para não acabar pintando o rosto dele sem querer. Ele é uma das poucas certezas que tenho nessa vida. Tudo ao redor pode desmoronar, mas eu sei que ele vai estar lá por mim e eu por ele.

Asian Scars × jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora