Amiga Nossa Parte 1

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Quinze anos depois.

Cauê hesitou. Olhou pro primo que o observava de cara feia, os outros garotos riam e o chamavam de covarde, pequena Ju dizia que ele conseguia, mas até ela tinha medo, Cauê conseguia ver. Ele não queria fazer o primo passar vergonha logo no primeiro dia que andavam juntos. Estufou o peito e olhou pro grupo.

– Eu aceito.

– Caramba. – Disse o garoto mais velho. – Seu primo até que tem coragem Lucas.

– Eu disse. – Lucas sorriu orgulhoso, Cauê não sentia-se tão corajoso, principalmente quando olhava pro cachorro.

– Preciso de uma reunião familiar. – Pediu Cauê. Pequena Ju e Lucas se aproximaram, eles se fecharam numa rodinha apertada e cochicharam, os meninos mandaram eles não amarelarem e Cauê nem deu bola. – Então, qual o plano?

– Plano? – Perguntou Lucas. – É só pegar a bola que ficou presa na arvore e você será um herói.

– Herói. – Concordou pequena Ju.

– Mas o cachorro parece bravo e o muro é bem alto, quero ser herói, mas não morrer.

– É só subir pelo portão e zás, pula direto na arvore, tranquilaço.

– Então por que que você não vai?

– Não sou eu que acabei de me mudar, você que tem que provar a valentia aqui, todos sabem que sou corajoso, já nadei até o fundo do mar e voltei, né não Ju? Já entrei na velha casa do rio sozinho, e também briguei com o Tonho bigode, e todos sabem que ele é o mais forte da nossa série.

Cauê já tinha visto Tonho bigode num dia que passou as férias na casa dos tios, ele era mesmo grande pra idade deles. Ele sabia que Lucas era corajoso, só não imaginara que pra entrar no grupo teria que ser também. Mas ele não queria passar o resto dos dias sozinhos como sua irmã, sem amigos e trancado no quarto.

Desmanchou a reunião e olhou pros garotos que esperavam.

– Eu vou, mas a bola vai ser minha.

– Nada disso, é do Rodrigo. – Exclamou Marquinho.

– Pô eu ganhei da minha vó. – Disse Rodrigo.

– Ele ganhou da vó dele.

– Mas eu que vou subir, me arriscar, vou ficar com ela. É justo e todos sabem, né não Ju?

– É sim.

– Beleza.

– Beleza o que? Eu ganhei por tirar nota boa, eu nunca tiro nota boa, eu me esforcei, minha vó que me deu não tá certo não.

– Tá bom, pra ser justo a gente faz assim – Começou Marquinho. –, de segunda a quinta a bola fica com você e seu primo. Rodrigo fica com o resto dos dias, também vésperas e feriados. Tá justo pra todos?

Cauê e Rodrigo concordaram, cuspiram na mão e selaram o acordo.

– Qual o Plano? – Perguntou Marquinho.

– Vou correr, subir no portão e zás, pular direto na arvore.

– Parece bom, boa sorte.

Cauê olhou pros primos, Lucas assentiu e pequena Ju estendeu o polegar. O cachorro era grande e peludo, parecia um urso despenteado, mas estava dormindo, era agora. Tomou distância e correu, os meninos incentivavam Cauê, ele pulou no portão e teve que se agarrar para não cair, pois o portão não estava trancado e abriu com o tranco, o garoto ficou pendurado enquanto o portão ia e voltava.

Sangue AntigoOnde histórias criam vida. Descubra agora