Amiga Nossa Parte 2

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O dia até que foi agradável, o pai voltou feliz por conhecer o novo escritório, começaria na segunda igual Aiyra e Cauê na escola. Eles ajudaram o pai com o quintal dos fundos, cortaram a grama, pegaram laranja da arvore, estava bem azeda mas Maiara disse que dava pra fazer suco. Eles se divertiram correndo e brincando na grama curta. Roberto pendurou uma rede na varanda e Aiyra acabou pegando no sono ali junto de Felix seu melhor amigo no mundo todo. Sonhou com ancestrais indígenas, todos dormiam em redes, não tinham problemas de ficarem isolados, eram todos família.

Aiyra acordou escutando uma pancada forte. Abriu os olhos com dificuldades e escutou o som novamente. Desceu da rede e viu o céu já escuro, o gatinho ronronou ainda sonolento. Cigarras escondiam-se no enorme quintal, e mosquitinhos brincavam na lâmpada da varanda. Lá longe viu o pai desferindo um golpe de facão, o barulho, e um pedaço de bambu caindo no chão. Aiyra se aproximou e seu pai sorriu ao percebe-la.

– Dorminhoca. – Disse ele sorrindo e dando mais um golpe num outro bambu, os cabelos castanhos do pai estavam grudados na testa, a pele branca ficando vermelha e suada, ele era bem diferente de Aiyra que puxou mais a mãe e seu sangue indígena, cabelos bem lisos e negros, olhos levemente puxados e lábios carnudos. – Acho que não vamos precisar disso, mas a laranjeira vou deixar.

Aiyra concordou com a cabeça, conseguiam ver estrelas dali, bem mais do que em São Paulo, mesmo Campo Claro não sendo uma cidade tão pequena com certeza não tinha a poluição da capital.

– Sua mãe contou sobre a escola, não caiu na mesma sala de Ana.

– Pois é.

– Olha pelo lado bom, chance de fazer novos amigos né? – Aiyra ficou trombuda e encarou o pai, ele riu limpando o suor do rosto. – Tô brincando, eu sei. É meio difícil pra você né? Como você está... Não voltou...

– Não! Sério eu tô bem, só que... Não sou como Ana e Cauê eles... Parecem se enturmar tão rápido. Demorei anos pra ter as amigas em São Paulo e a maioria era minha amiga porque crescemos juntas. Aqui eu não vou ter isso.

– Eu sei como se sente. – Disse o pai. – Olha não conta pra sua mãe, mas o pessoal do escritório é meio arrogante e me deixaram de lado porque não sou da cidade.

– Mas o senhor tinha dito que tudo era bacana.

– Eu não queria preocupar sua mãe. Ela já se sente culpada por arrastar vocês aqui. Ela pensou em não vir, por vocês sabe?

– Mas ela tinha que aceitar. A pesquisa dela, um laboratório todo pra ela, e o mar aqui, bem pertinho.

– Eu sei, ela sabe e fico feliz que você saiba também. Bom, acho que todos tivemos problemas pra se adaptar, mas todos temos coisas boas também né? – Roberto deu mais alguns golpes e cortou outro bambu.

– Exemplos?

– Bom, eu adoro essa casa, esse quintal, bem melhor que nosso apartamento hein? – Aiyra sorriu concordando. – Sua mãe obviamente o laboratório de pesquisa marinha, finalmente ela vai ter a chance de realizar seu sonho e o trabalho da vida dela. E você tem Ana. Vai me dizer que não está contente de morar com sua prima favorita.

– Claro que sim. E Cauê?

– Bom, Cauê é Cauê, acho que se morássemos debaixo da ponte ele encontraria o que fazer.

Os dois riram e Roberto preparou mais um golpe no bambu.

– Posso tentar? – Perguntou Aiyra.

– Pode, olha, tenta bater no mesmo lugar, isso, boa, caramba acho que vou descansar e deixar você com o resto. Vou ver se sua mãe fez o suco, pode ser?

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