Amiga Nossa Parte 3

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O despertador tocou e Aiyra nem se moveu. Sua mãe passou avisando que estava na hora, e depois deu pra ouvir ela dizer a mesma coisa no quarto de Cauê que já estava de pé, e que obviamente respondeu:

– Já tô de pé.

Maiara voltou e viu Aiyra ainda na cama, acendeu a luz do quarto e disse que iria se atrasar, voltou pra cozinha onde dava pra ouvir Roberto mexer nas panelas. Aiyra cobriu a cabeça lembrando da noite passada, os olhos se encheram de lagrimas e desejou ainda estar dormindo, dormir pra sempre. Felix de Souza, também na cama, a encarava com olhos amarelos parecendo entender perfeitamente, seu último amigo. Ouviu passos que pararam em frente ao seu quarto.

– Mãe a Aiyra ainda não levantou.

– Sai daqui seu enxerido. – Disse Aiyra jogando um travesseiro no irmão.

– Mãe a Aiyra tá naqueles dias.

– Seu...

Maiara apareceu e mandou Cauê ir tomar café, mas antes o menino mostrou a língua pra irmã que respondeu na mesma moeda. A mãe fechou a porta e sentou na cama, abraçando a filha, enquanto o gato sentava, comportado, vigiando as duas.

– Eu não quero ir mãe.

– Eu sei, mas tem coisas que não podemos evitar.

– Eu vou ficar sozinha de tudo, e Ana... – Aiyra segurou o choro.

– Ela vai te perdoar, vocês se adoram, ela vai esquecer seu descuido e....

– Eu não fiz nada, ele tava inteiro quando deixei ali. Já falei que não tive crise nem nada...

– Eu sei querida, ela vai te perdoar, agora vamos, seu pai fez pão na chapa e você sabe que ele gosta que todo mundo coma quente.

Foi uma amanhã agoniante, tudo que Aiyra fez, fez se arrastando. Se arrumou, colocou o uniforme e abriu a janela, mas só um tantinho, pois quando se mudou viu que no canto da janela, lá no fim do trilho, tinha uma teia de aranha maravilhosa, deixou ali na esperança de ver quem criara tal beleza, mas ela nunca apareceu. Aiyra suspirou, nem as aranhas a queriam mais. Pegou a mochila, tomou café e entrou no carro. Primeiro deixaram Maiara no laboratório que ficava à beira mar, ela desejou sorte aos filhos e beijou todos do carro, olhou pra Aiyra e a abraçou.

– Você consegue, pode haver alguém bem legal lá, né?

Aiyra sorriu.

– Pode sim mãe, arrasa na pesquisa.

– Valeu.

Eles foram direto pra escola e quando Roberto parou o carro na frente até Cauê se assustou.

– Isso que eu chamo de superlotação. – Disse Roberto vendo o oceano de crianças e adolescentes. – Vão e boa sorte aos dois.

Eles desceram do carro. Ficaram parado, as pessoas se cumprimentavam felizes de se reverem depois das férias do meio de ano, Roberto buzinou e os filhos olharam pra trás, ele fez um sinal positivo e disse alguma coisa que eles não entenderam outros carros buzinaram e ele teve que se mover. Aiyra suspirou.

– Não achei que era tão grande. – Disse Cauê. – Ainda bem que caí com o Lucas. Olha eles ali.

Cauê correu na direção dos primos e Aiyra viu Ana que deu as costas pra prima e se misturou na multidão. Dois minutos depois não havia mais nenhum rosto conhecido.

Os corredores cheios de pessoas, cada qual seguindo seu caminho, conversando e rindo, empurrando, bocejando, havia aqueles que andavam feito zumbis desacostumados a acordar cedo, e os que corriam esbarrando nos outros, geralmente as crianças menores da quinta série. Portas eram abertas, cadeiras arrastadas, os corredores finalmente esvaziavam-se. Na secretaria o pessoal trabalhava, ouvia-se o som de teclado, uns sopravam o café quente fazendo a fumaça dançar pelo ar. Aiyra foi bem atendida, a secretaria lembrou da pronuncia correta de seu nome e a garota recebeu um papel, ele devia ser apresentado a todos os professores para colocarem o nome de Aiyra na chamada.

Sangue AntigoWhere stories live. Discover now