A Convenção dos Gatos - Parte 5

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Ana adorava o cheiro de Bruno, quando ele a abraçava e o nariz dela roçava em seu pescoço. Era um amalgama de aromas, a colônia que ele usava, o sabonete, e o cheiro inconfundível dele mesmo, mas quando ele vinha pedir um abraço jogando basquete, todo suado e sujo, Ana recusava. Às vezes ele aproveitava a distração dela conversando com as amigas e a segurava por trás, a garota gritava e tentava fugir, os dois rindo, ela empurrava o menino e dava só um selinho, coisa rápida e o mandava de volta para a quadra. Ela adorava viver assim, conversar com Bruno, marcar de sair, ir ao cinema, simplesmente andar de bicicleta, ela sempre o achara bonito, mas agora era muito mais, ficar sem ele era perder um pedacinho de seu dia a dia, era deixar de viver um tanto da vida. Então por quê, Ana, sentada na arquibancada observando o namorado sorrir pra ela, sentia-se tão mal?

*

— Ela não está normal Ana. — Disse tia Maiara.

— Coisa da esquizofrenia? — Perguntou Erica.

— Não sei, parece diferente. — As duas mulheres pareciam preocupadas, enquanto Ana fitava a janela da sala da casa de Aiyra, as cortinas emplumando com o vento, vazando sol e luz. — O problema é que vocês sabem como ela é, não se abre, anda cheia de segredos, não adianta eu e Roberto tentamos e... Pensamos que você Ana, talvez soubesse de algo, continuam com aquela coisa do relatório médico dela?

— Não. — Respondeu Ana. — Não que eu saiba, a diretora pegou pesado com isso.

— Mas tinha que ser mesmo. — Comentou Erica bebendo chá. — Onde já se viu, divulgarem assim coisas tão pessoais, cabia processo já te falei Maiara.

A mãe de Aiyra não disse nada, apenas encarava Ana, a garota não sabia onde olhar, pras xícaras que soltavam fumaça na mesa? Pra cortina, pra mãe ou tia?

— Não vai ser traição nem nada do tipo. — Explicou a tia. — Se tiver algo que precisamos saber nos conte, por favor.

— Ana. — Chamou a mãe em um tom mais alto. — Se você estiver escon...

Maiara fez um sinal negativo com a cabeça, calando Erica, tocou a mão da sobrinha.

— Por favor.

— O negócio é que eu não sei muita coisa. — Disse Ana olhando as mulheres. — Eu... Eu ando meio afastada e na verdade não sei tudo o que acontece, mas sei que Aiyra está andando novamente com a Natasha.

— É boa menina. — Comentou Erica.

Elas conversaram mais um pouco e Ana realmente não conseguiu saber de muita coisa, se despediram da tia, e no caminho de volta Ana foi ouvindo a mãe, que discursava sobre as dificuldades de se criar uma filha, e outras coisas que a garota não conseguiu prestar atenção. Pensava na prima, e de como se afastara dela, só agora percebia que nas ultimas semanas mal andara com a menina, aquilo estava errado, e desde então toda vez que se encontrava com Bruno sentia um incomodo, uma vozinha que não parava de falar, precisava fazer algo a respeito.

*

Aiyra adorava ver as crianças menores, o jeito que corriam, falando sempre alto, sem nada a esconder, rindo, brincando, gritando sem vergonha, se perguntava se algum dia já fora assim; criança.

— Ei, você viu aquela nova quadra que vão construir? — Perguntou Natasha trazendo dois sucos de uva, deu uma caixinha para Aiyra e ficou com a outra. Aiyra não gostava de suco de uva mas Natasha adorava, e sempre trazia uma caixinha para Aiyra, aos poucos foi se acostumando e agora até mesmo parecia ansiar pela bebida. — Vai ter piso encerado e tudo, de madeira, pro time de basquete, as outras escolas vão poder vir jogar aqui, vai ter campeonato também. Super legal né?

Sangue AntigoOnde histórias criam vida. Descubra agora