Coelhos, Clubes e Um Tênis Utopia Dixe - Parte 5

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Aiyra ficou no corredor esperando por Natasha, um grupinho de garotas se aproximou entre risadas e ela contraiu o rosto, já prevenindo a alma. Mas elas simplesmente seguiram caminho. Aiyra ficou mexendo no zíper de sua blusa, ouvindo o som dele subir e descer, pensando em como tudo estava mais difícil, um clima pesado, sempre acuada, esperando piadinhas e maldades de pessoas que nem conhecia, aquilo doía a cabeça, pesava os ombros e entristecia o dia, complicado não saber de onde os golpes viriam, apenas saber que uma hora eles viriam, eles sempre vinham.

— Pronto. — Disse Natasha sorrindo e saindo do banheiro. — Bora nessa?

— Bora.

Ao soar o sinal do intervalo, o refeitório enchia com alunos vindos de diversos corredores, falando, formando filas na cantina, até todas as mesas serem ocupadas, também o jardim e as sombras das árvores. Um amigo puxava o braço do outro tentando conseguir sua atenção, um garoto falava muito alto querendo aparecer para uma menina que nem ao menos o olhava, risadas se perdiam no meio de vozes, gritaria, sacos de salgadinhos amassados, cadeiras arrastadas, zoeira, e todo tipo de sons de celulares, musicas, vídeos, ligações e flashes de fotos.

Aiyra olhava para o jardim lá na frente, o sol iluminava a grama, as árvores proporcionavam partes mais frescas, sossegadas. Na favorita dela e de Luan, quatro meninas olhavam alguma coisa num caderno, elas riram de algo e Aiyra mal percebeu um sorriso formar-se em sua boca, pessoas passavam quase esbarrando na menina estátua.

— Aiyra! — Gritou Natasha acenando em frente a uma mesa. — Aqui, achei lugar.

Três garotos lanchavam na mesa onde Nati já se sentava, ela desembrulhou seu sanduíche e quando Aiyra se aproximou os três meninos a olharam depressinha, a ignoraram e começaram a conversar sobre o que parecia ser um filme, pelo menos Aiyra esperava que fosse um filme, pois falavam de assassinatos e vampiros sedentos por sangue.

— Legal, salada de frango. — Disse Natasha abrindo o sanduíche e observando o recheio enquanto Aiyra sorria. — Servida?

— Não, eu trouxe o meu.

Aiyra mostrou um pão francês com marcas escuras do grill da sanduicheira, havia queijo derretido querendo escapar pelas bordas e, Aiyra, bem esperta, começou a comer por ali. As meninas ficaram conversando sobre as aulas que passaram, sobre o trabalho de historia que teriam que fazer, e como estava sendo difícil conseguir um grupo que aceitassem as duas, sempre usavam alguma desculpinha, ou não dava pra aceitar duas pessoas ou já estavam completos contando alguém que faltara mas que fazia parte do grupo mesmo assim, no fundo tanto Nati quanto Aiyra sabiam que as evitavam, a maioria não queria andar com as garotas mais alopradas da sala, outros tinham medo de Cinthia que parecia colocar qualquer um que falasse com Natasha em sua lista negra, e alguns poucos realmente achavam que Aiyra era louca e preferiam nem falar com ela, por isso um trabalho que era para ser feito por cinco pessoas elas teriam que fazer em dois. Mas mesmo assim Nati sorria, planejando como poderiam dar conta de tudo. Aiyra apenas sorria e agradecia em silêncio por ter Natasha, mesmo que se sentisse egoísta com isso, pois ela sabia que Natasha só estava sendo maltratada por ter tido a coragem de ser sua amiga, havia perdido os clubes, seu lugar no grêmio, suas outras amizades, popularidade, mas nunca, nem por um momento, perdera seu sorriso.

Quando os três garotos que comiam na mesa foram embora, Natasha perguntou novamente sobre o sonho de Aiyra.

— Tem certeza que um dos coelhos era Luan?

— Aham. — Respondeu Aiyra mastigando. — E a outra era Ariel, e... Acho que não era bem um sonho.

— Como assim?

— Acho que eles estavam lá de verdade.

— Isso é possível?

Aiyra deu de ombros, ela não sabia com certeza, mas avaliando todos os acontecimento desde quando se mudou para Campo Claro ela já não duvidava de tanta coisa.

Sangue AntigoOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz