Coelhos, Clubes e Um Tênis Utopia Dixe - Parte 17

216 44 63
                                    


De noite o parque perdia parte de sua vida, toda aquela gente que andava, ria, correndo e vendendo, pipas paradas no céu, as bicicletas velozes, as vozes. Nas horas de lua alta e céu escuro nada disso era visto ali, embora outra vida, mais miúda e nativa, aflorasse. Tirando a cabeça pra fora da toca, espiando com olhões iluminados, corujas, morcegos, grilos, ratos, toda uma agitação natural e espontânea que achava seu caminho em horários com licença daqueles que dormiam, uma vida tão agitada quanto aquela de horas mais claras. Mas nessa noite alguns bichos se esconderam, correndo pela grama alta, entrando em buracos nas árvores, atrás de pedras, outros como a cigarra continuavam a cantar, desafiando, chamando um amor invisível e possivelmente surdo. A coruja com sua visão aguçada observava os coelhos se reunirem, mas esses ela não se atreveria a caçar, cravar suas garras e devorar a carne, esses eram enormes, bem vestidos e falantes, e alguns deles, até seus amigos.

Enquanto o grupo falava Flores viu a coruja e acenou pra ela, a ave piou profundamente e a garota sorriu.

— Ela me reconheceu.

— O que? — Perguntou Black e os outros se calaram.

— Mesmo eu usando máscara.

— Flor dá pra prestar atenção aqui? — Perguntou Lobo.

— Ah, me desculpe.

— As coisas estão sérias. — Comentou Black e Golfinho com Tocha permaneceram calados. — Não vai dá pra ficar brincando assim de se fantasiar e andar de noite.

— Só se reunir no clube. — Comentou Tocha.

— Como? Se todo mundo já sabe qual é? — Perguntou Black. — Até arranjarmos um novo...

— Eu consegui. — Comentou Flores.

— Sério? Boa, Flor, mandou bem.

A garota ficou sorrindo por dentro da máscara feliz por ajudar.

— Mas ainda assim precisamos terminar com tudo isso, parar de se reunir em locais públicos.

— Relaxa. — Pediu Tocha. — Com a máscara ninguém reconhece a gente.

— Aiyra reconheceu. — Comentou Lobo. — E parece que foi fácil, fiquei com cara de idiota e tive que mentir.

— Acho que ela não se ligou ainda Lu. — Disse Golfinho. — A gente confundiu a cabeça dela, ela nem sabe que...

— Ela sabe. — Insistiu Lobo, Golfinho tentou falar e ele repetiu. — Ela sabe Ariel.

— Ei, ele tá falando o nome dela.

— O local está seguro. — Comentou Flores. — Minha amiga ali está vigiando.

— Não confio nessa coruja, ela é invejosa. — Comentou Tocha e a ave inchou as penas abrindo bem o bico. — Ah é? Você também. Tá vendo? É uma folgada.

— De qualquer forma. — Começou Black. — Iremos aceitar logo Aiyra e terminar com isso, as coisas lá nos lagos estão meio estranhas.

— Verdade. — Comentou Flores. — Em casa papai anda preocupado, até falaram o seu nome Lobo, bastante vezes, eu... — Flores parecia envergonhada. — Eu escutei escondida.

— Que menina má. — Comentou Tocha rindo com Golfinho.

— Eu sei. — Disse Lobo. — As coisas estão estranhas, o pessoal parece agitado com toda essa história de eu ter entrado pros Aoki.

— Por isso vamos ficar quietinhos no nosso canto. — Explicou Black. — A questão da arvore já repercutiu acho que não vamos mais ter problemas ali.

Sangue AntigoOnde histórias criam vida. Descubra agora