Sangue Antigo

Julgamento do Século - Parte 8

Quando abriram a porta e viram Luan sentado na cadeira um silêncio completo reinou por alguns instantes, até ele levantar e dizer bem alto o nome de Heloísa. Ele abraçou as irmãs maravilhado por vê-las reunidas, Cris disse que ele estava mais alto e Luan negou, ela se pôs ao lado dele.

— Viu? Já até me passou.

Ele riu dizendo que já havia passado a altura da irmã no ano passado. Isabel se aproximou e abraçou o garoto ele elogiou o cabelo dela.

— Gostou? — Perguntou Isabel distraída. — Mas você... Você tá um lixo.

Luan riu concordando com a irmã, até Malu ele abraçou e a garota fechou os olhos sorrindo de leve. Aiyra observava tudo com um sorriso no rosto, ele parecia bem, realmente estava com um ar abatido que não era seu comum, mas tantos dias longe de casa só poderiam ter esse efeito. Aiyra sabia como era esse sentimento, ficar em lugares contra a vontade própria, clínicas e casas de repouso, casas que não a sua.

Luan viu a garota e sorriu, passou pelas irmãs e ficou em frente a Aiyra.

— Parece que a gente se meteu em outra furada né? — Disse ele. Olhou os pais de Aiyra e depois novamente a garota. — Sinto muito te envolver nisso, e também não estar com você com tudo que tava acontecendo lá na...

Aiyra abraçou o garoto bem apertado e, Luan desprevenido, aos poucos foi correspondendo o abraço.

— Vocês vivem dizendo isso. — Resmungou Aiyra olhando o garoto. — Que você me envolveu, Mas fui eu que te prejudiquei, eu trouxe o saci, fingi ser uma "Amiga Nossa" eu...

Luan a calou com um aceno e todos permaneceram em silêncio por algum tempo.

— Isso... Isso é verdade? — Perguntou Jandir.

— Não dê ouvidos a ela. — Começou Heloísa.

— Ora, isso muda tudo. Com essa espécie de testemunho Luan será...

— Não! — Exclamou Luan ficando nervoso, Beatriz pediu calma, e ele segurou o muiraquitã em seu pescoço. — Não, ela não sabia de nada e não é justo, descontariam tudo...

— Mas...

— Manteremos a defesa Jandir. — Disse Heloísa olhando para Aiyra. — Isso já foi discutido entre nós, é o mais justo e... A vontade de Luan.

Todos começaram a conversar, discutir alguns assuntos sobre a defesa e principalmente, a quantidade de deuses no julgamento. Aiyra meio deslocada sentiu-se estranha, já vinha achando isso ao longo do tempo e agora compreendia bem, a estavam protegendo de tudo, Luan assumira a culpa, toda a aflição que vinham sofrendo, tudo era culpa dela. Aiyra sufocada não conseguia discernir o que as pessoas falavam, um emaranhado de vozes, a sala cada vez menor, o tanto de gente, o abafado, sentiu um toque no ombro e a voz da mãe perguntando se estava bem.

— Não, quer dizer sim, eu só... Preciso ir ao banheiro.

Aiyra de maneira inconsciente colocou a mão na maçaneta da porta.

— Eu mostro o caminho. — Disse Anahí se aproximando de Aiyra.

As duas deixaram a sala, o corredor estava um pouco mais ventilado, Anahí mostrava o caminho enquanto mal tirava os olhos do celular, escrevia mensagens, lia outras, sempre com ar eficiente, parou e olhou a porta.

— É aqui.

— Obrigada. — Disse Aiyra empurrando a porta.

— Você consegue fazer o caminho de volta sozinha? É que eu preciso...