Coelhos, Clubes e Um Tênis Utopia Dixe - Parte 3

239 55 28
                                    

Natasha respirava tranquilamente no sofá, dormindo coberta quase até o pescoço enquanto a luz azul da televisão a iluminava, Claudia também notou Max deitado no chão, imitando a dona num soninho bom dos inocentes. Era a chance. A mulher se levantou da poltrona torcendo pra não fazer muito barulho, a cadeirona era mesmo confortável e quando o patrão estava em casa ele sempre assistia TV espreguiçado nela, Claudia nunca teria coragem de sentar ali se não fosse a insistência de Natasha, mas o que antes estava gostosinho e relaxante agora se mostrava uma armadilha barulhenta. A empregada se apoiou nos braços da poltrona, ergueu o quadril, sentiu uma fisgada nas costas e quase caiu sentada, mas conseguiu se manter firme e levantar de vez. Natasha se revirou no sofá enquanto na televisão as noivas ainda tentavam escolher o vestido ideal. Claudia sentiu um peso na consciência, abandonar a garota assim, como se fosse um ladrão fugido, mas essa seria a terceira tentativa de voltar pra casa desde que o expediente acabara. Da primeira Natasha convidou todo mundo, José, Maria e Claudia para experimentarem o novo suco que chegou numa encomenda, vinha de uma outra cidade e era coisa estranha de se tomar, quente e fria ao mesmo tempo, misturando sabores na boca, foi interessante mas era extravagância demais para o paladar de Claudia mas o velho José e Maria adoraram. Natasha ficou puxando assunto e servindo bebida até acabar com a garrafa, disse que tinha pensado em experimentar com os pais mas como eles precisaram viajar novamente... José e Maria foram mais espertos, perceberam a carência de Natasha e na primeira chance escafederam-se, Claudia ficara com dó e quando Natasha chamou para assistir um programa novo na TV ela bem que tentou recusar mas acabou ali, sentada na poltrona do patrão enquanto o sol sumia e a hora avançava. Por isso quando viu a garota dormindo precisou aproveitar a chance, se desculpou em pensamento e andou bem mansinho até a porta, os tacos de madeira reluzente, os quadros a julgando da parede como se reprovassem seu ato insensível, mas ela tinha obrigações em casa o que poderia fazer? Chegou na porta e girou a chave apertando os olhos, bem devagar, girando... Click. A porta abriu e Claudia suspirou aliviada.

— Já vai? — Perguntou Natasha sentada no sofá ainda com a coberta no colo, Max também encarava Claudia que sentiu o rosto esquentar e a vergonha a diminuir a ponto de ficar do tamanhinho de um camundongo. — Já tá escuro até né?

Natasha olhava para a enorme porta de vidro dos fundos, o jardim iluminado pelas lâmpadas na grama.

— Pois é filha, preciso ir pra casa.

— Ah, Claudia, eu tava esquecendo! Comprei aqueles Bombons do Padre Antônio, eu sei que você adora, a gente podia comer assistindo um filme, tem um novo na Netfli...

— Ô meu anjo não dá não, preciso olhar o marquinho hoje. Se não eu ficava.

— Ah, claro, já tá até escuro, e eu te segurando aqui.

Claudia olhou Natasha que sorria pra mulher.

— Vai ficar bem sozinha?

— Claro, já tô acostumada você sabe, e quem disse que eu tô sozinha né Max? Né garoto?

O pastor alemão havia voltado a dormir e nem mesmo quando seu nome foi dito ele se levantou. Natasha sorriu mais uma vez apertando o cobertor.

— Sim, vou ficar legal.

Claudia se despediu da menina e passou pela porta, lá na garagem o frio tava mesmo de arrepiar, abotoou a blusa e seguiu passando pelos carros, sentindo uma tristeza no peito, ainda mais quando ouvia aquele silêncio esmagador, quando foi que aquela casa ficara tão quieta? Meteu a chave no portão e quando abriu escutou Natasha gritar seu nome. Ela veio correndo de meias e shortinho.

— Vai ficar doente menina.

— Aqui, Claudia. — Natasha estendeu uma caixa de Bombons. — Leva, pra você e Marquinho, eu sei que ele gosta bastante também.

Sangue AntigoWhere stories live. Discover now