Ariel insistiu tanto que precisaram parar na barraca de yakisoba. Ela nunca tinha visto um macarrão assim; tão não vermelho, com molho escuro cheio de legumes e carne. Olhos até brilharam quando provou, o sorriso manchado de shoyo arrancou risadas de Aiyra e Luan, ela ofereceu a comida pros amigos detalhando como era maravilhosa. Precisaram empurrar Ariel que parava em cada barraca perguntando o que era tempurá, gyoza, comiam peixe cru? Igual o pessoal do mar. Ela gostou das iluminarias nas ruas, do jeito educado do povo, sempre desejando bom dia, caminhando, trabalhando, atravessando a rua na faixa de pedestre, tudo ali era legal, mas Luan não parecia tão animado, olhava o relógio, mandava as meninas se apressarem e quando viu Helô os esperando do outro lado da avenida sorriu de forma nervosa.
— Já sabe o que vai dizer? — Perguntou Heloísa arrumando a camisa do irmão, enquanto os pedestres passavam por eles.
— Ué, só permissão pra Aiyra andar aqui.
— Nem sei pra quê. — Reclamou Ariel. — Você agora é um Deus, põem isso na cabeça, a gente tem poder rapaz, vai na minha.
— É preciso ser cordial e educado Ariel. — Disse Heloísa sorrindo para a menina. — Estamos na casa deles, por isso comunicar nossa presença não é nada demais, fora que... Luan não é tão bem-vindo por aqui.
— Ainda não entendi tudo isso. — Comentou Aiyra.
— Bom, é uma longa história amor, mas...
— Envolve vingança e guerra entre famílias. — Disse Ariel. — Essa história é um ouriço no pé.
— Vamos logo. — Pediu Luan se desvencilhando das mãos ordeiras de Helô. — Atrasar só vai piorar.
Enquanto caminhavam pela rua e ouviam a voz perguntadora de Ariel, Aiyra imaginava o quanto de coisas já haviam acontecido naquela cidade, meninos lobisomens, crias d'água, japoneses, fadas e caiporas, quantas historias que ela não conhecia. Pensou em Amanda, tinha avisado que se atrasaria, mas sentiu uma preocupação na voz de Tomas que foi quem atendeu o telefone, esperava não estar sendo um fardo muito pesado para o casal, mas dificilmente não o seria.
Desceram por uma ruazinha estreita cheia de casas bonitas, a maioria sobrados, muros com muros, tão estreito era o lugar que só um carro por vez poderia passar ali, Aiyra pode ouvir sons de televisão, vozes nas casas, e numa delas um menino chutava bola no quintal, um garotinho de olhos puxados que sorriu ao ver Ariel e seu cabelo de volta a velha cor azul, bem brilhante na altura da nuca, combinando com os belos olhões da menina.
Luan liderava o caminho e parou olhando a fachada de uma das casas, bem numa esquina e Aiyra percebeu que deveria ser a maior da rua, o muro era altíssimo mas o portão vazado permitia espiar o quintal enorme da frente, a grama bem aparada, as árvores espalhadas e o caminho de pedra que levava até um sobrado.
— A gente devia ter chamado Bia ela...
— Você sabe que ela não vem mais aqui. — Disse Heloísa acarinhando as costas do menino.
— Não esquenta. — Disse Ariel. — Minha vó tem ótima relação com a galera daqui. — Ela correu e apertou a campainha. — Vocês vão ver.
Uma garota saiu da casa falando alguma coisa para alguém que ficou lá dentro, viu Luan e acenou séria para ele que respondeu o gesto. Enquanto ela se aproximava Aiyra percebia que já havia visto a menina em algum lugar, ela não era muito mais velha do que eles e quando se aproximou o bastante Aiyra sabia que a menina estudava no colégio de Campo Claro.
— E aí Miriam? — Cumprimentou Ariel sorridente e a garota apenas acenou com a cabeça.
— Como estão as coisas lá dentro? — Perguntou Luan. A garota abriu o portão e olhou pro grupo.
BINABASA MO ANG
Sangue Antigo
FantasyAiyra é uma garota de 15 anos que sofre de transtornos mentais. Luan nasceu com uma antiga e rara maldição. Quando Aiyra se muda para a cidade de Campo Claro ela passa a ser vitima de uma série de eventos inexplicáveis e enquanto é ajudada por Luan...