Julgamento do Século - Parte 14

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Aiyra acordou com uma baita dor de cabeça. Abriu os olhos que pareciam pesar toneladas, aos poucos reconheceu o tribunal, ele só parecia estar mais distante, com a tribuna dos deuses lá longe, assim como a árvore e até mesmo os bancos do público. Maiara sorriu aliviada ao ver Aiyra acordada, Roberto também estava perto dela e segurou a mulher pelo braço a impedindo de dar um abraço na filha.

— O que foi? — Perguntou a mulher.

— Aiyra? — Indagou Roberto olhando a filha. — É você?

A menina ficou confusa, o julgamento parecia continuar e bem tenso, enquanto os deuses debatiam e liam alguma coisa, as pessoas murmuraram e Aiyra pode ouvir a voz de Malu protestar.

— Não se preocupem é ela mesma. — Disse uma voz serena, só então Aiyra percebeu Ticê ao seu lado, sentada no banco, a cabeça da garota deitada no colo da deusa. Aiyra se levantou assustada e sem jeito.

— Desculpa... Eu...

— Tudo bem, eu que te deitei assim, e então? Melhorou?

— Acho que sim... O que aconteceu?

Os pais de Aiyra relataram tudo sobre o testemunho dela. A garota se espantou quando eles mencionaram o nome Insônia.

— Como vocês...

— Todos agora sabem sobre ela. — Disse Ticê. — Ela se apresentou de uma forma e tanto. Ah e aliás, belo nome.

Aiyra sorriu pra mulher e os pais continuaram o relato. Maiara contava tudo assustadíssima, morrera de medo do jeito de Aiyra, dara pra perceber que não era a menina, falando alto, cheia de expressões e atitude, mas Roberto admitiu que mesmo assim algo de Aiyra residia naquela tal de Insônia. Ticê disse ser assim mesmo, uma mescla e que na realidade Insônia é Aiyra, e que essa personalidade surge quando os poderes são reprimidos. Os pais de Aiyra ficaram perguntadores, queriam saber dos poderes, o que eram, podiam ser perigosos? Insônia voltaria? Ticê sorriu e disse que mais tarde explicaria. Algumas pessoas se revoltaram no tribunal e todos olharam pra frente, Jandir gesticulava debatendo, e Tupã pediu ordem. Aiyra deixou as lágrimas escorrerem, sentia-se um lixo.

— Que foi amor? — Perguntou Maiara envolvendo os ombros da filha.

— Eu arruinei tudo, confiei nela e... Compliquei Luan.

— Por mais estranho que pareça... — Começou Roberto. — Acho que no fim você ajudou.

Aiyra encarou o pai.

— Sério?

— Pior que é.

— Mas não sei se foi o suficiente. — Comentou Ticê que ainda olhava para a tribuna lá na frente. — Eu votei a favor da soltura do rapaz, mas a maioria dos deuses foi contra. Bom, preciso ir, o julgamento vai acabar, olhem, estão lendo a sentença, preciso voltar pro meu lugar. — Ticê começou a caminhar e Aiyra sentiu o coração acelerar ao perceber que realmente leriam a sentença de Luan. Ticê parou e encarou a menina. — Depois precisamos conversar, tenho uma proposta e quando eu a fizer... Por favor, aceite.

Ticê voltou pro seu lugar junto aos deuses e Aiyra pediu para os pais a ajudarem a se levantar, ela ainda estava tonta e as pernas fraquejaram, Soni usara muita energia, fora o feitiço lançado por Ticê para adormecer Aiyra que ainda surtia um resquício de efeito. Eles caminharam para seus lugares e Juvenal filmava tudo com sua câmera de mão, estava calado e sem sorriso costumeiro. As irmãs de Luan pareciam arrasadas, Malu abraçada a Isabel e Cris com as mãos entrelaçadas como se fosse cair de joelhos e rezar, até Ariel parecia aflita, mordendo os lábios e torcendo os dedos da mão. Todos esperavam por algo, e Aiyra percebeu que os três deuses Juízes estavam fora da tribuna, perto da árvore Andurá, debatendo entre si. Aiyra encarou Luan, ele permanecia sentado enquanto os outros todos encontravam-se de pé, ele olhava pro chão, parecia abatido cena dura de se ver, talvez por ele sempre estar sorrindo, o que tranquilizava os outros, sempre o ultimo a deixar a esperança morrer, e agora ela percebia como era ruim ser assim, porque sendo o alicerce dos outros quem seria o seu? Quem sorriria pra ele? Quem daria esperanças, quando aflito quem diria as palavras certas? Por isso Aiyra fez algo que surpreendeu a si própria.

Sangue AntigoWhere stories live. Discover now