Julgamento do Século - Parte 13

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Jandir foi muito mais gentil com Ariel. Mostrou como a amizade entre ela e Luan era verdadeira. Como quando Luan topou entrar no mar só para visitar a amiga doente, e todos sabem como ele odiava água, e a ideia de ser tragado pelo oceano era realmente assustadora fazendo todos admirarem um pouco mais a coragem de Luan.

— Nós também já entramos no mar. — Comentou Insônia ao lado dos pais. — Quer dizer eu... Eu também... Mas Luan é corajoso sim, ele é tudo isso que dizem, ele... Ele é demais.

Soni encarava o menino com os olhos brilhantes, Maiara procurou o olhar do marido e ele arqueou as sobrancelhas.

Jandir fez questão que Ariel narrasse o episódio em que Luan e ela tentaram fazer nevar em Campo Claro, um absurdo já que no interior de São Paulo tal coisa era impossível de se fazer, os deuses já estavam de cara amarrada, e até os repórteres se remexiam nos bancos. Mas quando a menina detalhou o dia, contando a busca pelas fadas brancas, como se perderam nas montanhas, sobre o gigante da serra, as estrelas, e como Luan olhava o reflexo de Jaci onde sua mãe o esperava, quase não ficou um olho seco naquele lugar. Mesmo Roberto ao lado da mulher enxugou o canto do olho com as mãos, todos sorriam se deliciando com o final lindíssimo da história, duas crianças, cheias de sonhos e aventuras e mesmo sabendo que as coisas eram impossíveis de acontecer, elas tentavam.

— Só pela aventura sabe? — Disse Ariel. — E ele me carregou nas costas, quando acordei estava em casa, sem saber se tudo era um sonho ou não.

— E era? — Perguntou Yebá Bëló.

— Não, avó do universo. Não era.

Yebá sorriu tanto por Ariel ter usado um de seus inúmeros títulos como pelo fim da história. As pessoas praticamente suspiravam, apesar de um outro deus mais durão permanecer impassível, como o caso de Tupã, que ouviu atentamente a história mas não demonstrou nenhuma reação. No banco do público presente Insônia se acabava de chorar, a mãe tentou a acalmar, mas a história era tão linda... De cortar o coração, dois amiguinhos contra o mundo, como não chorar, Luan era mesmo o maior. As pessoas começavam a encarar Aiyra e seus pais envergonhados tentavam calar a menina, Malu se abaixou levemente no banco pra que ninguém a visse perto de Aiyra, Isabel sorrindo adorava o barraco e Cris olhou para as irmãs mais velhas tentando entender o que estava acontecendo.

— Tudo bem, já passou. — Disse Soni nos braços da mãe. — Ufa, é assim mesmo, minhas emoções vão de zero a cem num piscar de olhos, meu coração é uma Ferrari.

Com a ordem restabelecida Tupã dispensou Ariel, a garota foi até a avó e as duas conversaram, Amanara pareceu concordar com algo e Ariel ao invés de sair do tribunal foi até os bancos do publico se aproximando de Insônia e os pais.

— Posso me sentar com Aiyra? — Pediu a menina olhando Maiara e Roberto.

— Claro, querida, vem, senta aqui.

Eles abriram espaço e Ariel sentou ao lado de sua amiga, suspirando e relaxando o corpo. Os deuses juízes liam uma carta enquanto o povo comentava baixinho as coisas que estavam sendo ditas.

— Você foi espetacular. — Disse Insônia e Ariel sorriu.

— Acha mesmo? Eu meio que...

— Fantástica, eu até chorei com a história.

— É, eu vi.

— Esse Jandir tem cabeça, ele é ligeiro, manja das parada, agora todos estão amolecidos, é sério que Luan abriu mão do tesouro por um floco de neve só para cumprir o seu sonho Ariel?

— Sim.

— Caramba parece até uma parábola meu!

Ariel riu da empolgação da amiga, nunca a tinha visto assim, Aiyra sempre fora discreta e comedida, claro que antes já era possível ver essa empolgação na menina, mas como se estivesse submersa, apenas refletindo na superfície das águas, mas agora era como se tudo viesse à tona, transbordando a garota de emoções e sorrisos fáceis, Ariel adorou, adorava tudo que era exagerado.

Sangue AntigoWhere stories live. Discover now