A Convenção dos Gatos - Parte 8

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Enquanto corria pela floresta, lamentando as bicicletas que ficaram na cabana, Aiyra olhava de relance pra trás, deslumbrava no escuro, assim, bem rápido, uma cauda balançar no ar. Era quase impossível ver o bichinho, o pelo negro o camuflava na penumbra, mas seus olhos amarelos brilhavam feito dois pirilampos, Aiyra sorriu sabendo que aquele era o mais insistente do bando.

Ana foi a primeira a reclamar da corrida, Natasha parecia ser a mais cansada e mesmo assim não dizia nada, Ariel perguntou para Malu se faltava muito e Aiyra quase desistindo de acompanha-las deu graças a Deus quando a menina disse que haviam chegado. Já não estavam mais na floresta, estavam numa campina não muito longe da cidade e a beira de um bosque. As meninas tentavam recuperar o folego, Aiyra sentia uma dor que vinha da lateral do corpo, desejou praticar esportes como Malu e Ariel que eram as que menos pareciam cansadas, puxou bastante ar e tentando ficar ereta olhou o bosque sob o a luz do luar.

— Prestem atenção. — Pediu Malu. — Aqui é igual o clubinho da Ariel.

— Não é clubinho. — Protestou Ariel.

— Vocês precisam jurar nunca contar a ninguém, prometem?

Todos juraram e Malu olhou nos olhos de cada uma, quando deu-se por satisfeita assentiu. Aiyra pensou ter visto movimento atrás delas e até Natasha, que estava ao seu lado, olhou pra floresta que ficara pra trás.

— Gatos? — Sugeriu Ana.

— Tem um me seguindo.

Malu pediu o gorro e Ariel o tirou do bolso. Maria Lucia pegou a garrafa e se afastou uns dois passos do grupo, cochichou algo com o objeto e Ana com Natasha encararam Aiyra em busca de resposta.

— Essa é a aquela garrafa. — Disse Aiyra para Natasha que de olhos bem abertos assentiu entendendo.

— Que garrafa? — Perguntou Ana e todas disseram ser uma longa história.

Malu encarou as garotas sorrindo, parecia esperançosa e um pouco nervosa.

— Agora vocês precisam agir com cautela. — Malu olhou severamente, lembrando um pouco da própria Heloísa. Pegou um apito do bolso. — Não vão assustar meus amiguinhos.

Maria Lucia soprou o apito, um som muito baixo e agudo ecoou pela noite, o tempo esfriava e as meninas esfregavam os braços em busca de calor, a lua lá em cima irradiava luz branca e forte, enquanto as copas das arvores balançavam, produzindo um chiado que acompanhava o guincho do apito, carregando com o vento o cheirinho do campo.

Enquanto todas permaneciam caladas sentindo o vento gelar braços e pernas descobertos, Ana apontou uma luzinha fraca que despontou de entre as arvores, Malu sorriu parando de apitar, outras luzinhas acenderam-se, pequenos pontinhos amarelos, vivos e dançantes.

— Vagalumes? — Perguntou Natasha anima.

— Nah. — Disse Ariel sorrindo. — Muito mais legal que isso.

A primeira fadinha veio voando e se jogou em direção de Malu, a garota sorridente segurou a pequenina na mão.

— Gafanhoto. Como as coisas estão?

A fadinha encostou o pequeno rosto no nariz de Malu esfregando carinhosamente a face, e enquanto Malu ria, uma porção de pequenas luzes precipitaram no ar, mergulharam e cobriram a garota de um brilho amarelo e intenso que crescia e pulsava com a agitação deles. Ana estava paralisada, Natasha sorria radiante e Aiyra observava os pequenos seres, deviam ter no máximo uns oito a dez centímetros, com assas maravilhosas, algumas com cabelos cumpridos outros carecas, as mãozinhas abraçando o pescoço de Malu que sorria contente, de olhos brilhantes e jeito de criança.

Sangue AntigoWhere stories live. Discover now