Coelhos, Clubes e Um Tênis Utopia Dixe - Parte 2

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Aiyra ofegava, alguns vizinhos sorriam ao ver a menina correr pela rua, a mochila batendo nas costas e os cabelos balançando. Planejava tudo em sua mente, como jogaria os sapatos pelo quarto, o uniforme da escola, tomaria um banho, não, banho não daria tempo, ela cheirou a própria camiseta, não estava fedida mas se continuasse a correr... Quando Aiyra percebeu já estava em frente a sua casa. Abriu a porta com pressa, os olhos tentando se acostumar com o escuro, sentiu cheiro de café e viu a mãe sentada no sofá.

— Ah, filha você...

— Agora não dá mãe tô super atrasada e não quero deixar...

— Olha quem já tá aqui.

Aiyra tentava tirar o sapato esquerdo com o pé direito enquanto descia a mochila das costas, parou tudo como se fosse uma contorcionista, percebendo que já tinham visita. Ticê sentada na poltrona parou de beber de uma xícara e encarou Aiyra com um leve sorriso.

— Está atrasada.

No quarto Aiyra tirava a camiseta enquanto sua mãe escolhia alguma roupa.

— Pega qualquer coisa mãe. — Disse Aiyra com a cabeça dentro da camiseta. — Não quero deixar ela esperando sozinha lá.

— Eu sei. Aiyra! Olha isso, você joga de qualquer jeito aqui e amassa tudo o que eu passei.

A garota atirou a camiseta no chão e pegou a primeira peça de roupa que sua mãe segurou, o que convenientemente era um vestido, assim nem precisaria de calças. Maiara saiu catando o uniforme jogado da filha. A garota se olhou no espelho do guarda-roupa, alisou o vestido e ajeitou os cabelos, suspirando nervosa. Maiara dobrava a camiseta da escola quando percebeu a menina triste no espelho.

— O que foi?

— Dei mancada no primeiro dia.

Maiara sorriu e colocou o uniforme delicadamente em cima da cama de Aiyra, que já estava feita, o quarto era impecável, não como o de Cauê com lençol no chão, pacotes de bolacha e tênis largados por aí. Aiyra sempre fora organizada e esforçada, Maiara abraçou as costas da filha.

— Mas agora você está pronta, vai lá e pede desculpas.

A garota olhando a mãe pelo espelho concordou com a cabeça. Fumaça sonolento olhava as mulheres de cima da cama.

— Acho que tudo vai dar certo né mãe? Ela foi bem legal em se oferecer... E-e não deve ser todo mundo que tem uma deusa na sala de estar né?

Maiara riu.

— É melhor a gente não deixar uma deusa esperando vamos. — Maiara parou e fungou a filha. — Aiyra, isso é cheiro de produto de limpeza?

Ticê olhava retratos numa estante, membros da família enquanto crianças, depois mais crescidinhos até chegar em fotos recentes, algumas reuniam a família toda, sorrindo e se abraçando. Talvez ela devesse ter algo do tipo, decorar algum cômodo do casarão com fotos, alguma coisa diferente do grande retrato pintado, mas Ticê não conseguia imaginar Anhangá e muito menos Eilena pousando para uma foto, teria que se contentar com o quadro.

— Desculpa a demora. — Disse Aiyra parada na sala junto de sua mãe, Ticê encarou Maiara e sorriu.

— Tem uma bela casa. — Maiara agradeceu e Ticê começou a caminhar para a porta. Aiyra confusa encarou a mãe e a deusa olhou para elas. — Que foi? Vai ficar parada?

As duas caminhavam pelas ruas, Ticê parecia adorar o tempo, um solzinho fraco e aconchegante, junto da brisa vinda do mar. O começo da caminhada foi esquisito, Aiyra não sabia aonde iam, pensou em perguntar mas se calou, sem saber como se comportar ao lado da deusa hora olhava para frente, depois os céus, o chão, calada, cheia de minhocas na cabeça. Às vezes Aiyra olhava para a deusa, a pele parda, os cabelos lisos, dessa vez Ticê não usava maquiagem pesada nem pintura tribais, estava usando um vestido como o de Aiyra, simples e leve que balançava com o vento. Elas caminharam pela orla da praia e parando num ponto de ônibus, Aiyra ficou ao lado da mulher olhando ao redor, ouvindo as ondas brabas e imaginando Ariel. Então pegariam ônibus, pra onde? Talvez...

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