Coelhos, Clubes e Um Tênis Utopia Dixe - Parte 21

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Maiara riu servindo um pouco mais de suco, a jarra estava na mesinha de centro da sala, suando sobre um pano.

— Mas ela insistiu em calçar o número menor? — Perguntou Maiara.

— Não teve jeito, ela dizia que engordar não mexe com a numeração dos sapatos, mas eu sei que mexe e ela pelo jeito tinha aumentado um ou dois números. Saiu toda orgulhosa, tentou fingir mas eu vi ela mancando, os dedos quase estourando lá dentro, deve ter sido um sufoco chegar em casa.

Maiara riu e Rebeca tomou mais um gole de suco.

— Como esse pessoal é orgulhoso. — Maiara sorriu para a menina e olhou no relógio. — Caramba, já tudo isso? Preciso voltar pro trabalho.

Rebeca se levantou do sofá pegando a jarra da mesinha de centro.

— Coloco na cozinha?

— Por favor.

Rebeca caminhou admirando a bela casa, não era sobrado nem nada, mesmo assim muito bonita e grande. A cozinha com eletrodomésticos prateados, geladeira enorme, fogão com dois fornos, tudo limpo e arrumadinho. Deixou a jarra na pia assim como os copos, um gato a encarou, olhos amarelos que pareciam estudar cada movimento da garota.

— É uma pena ter que sair assim. — Disse a mãe de Aiyra lá da sala, Rebeca podia ouvir os passos acelerados da mulher, som do zíper da bolsa e das chaves.

— Eu também estava gostando da nossa conversa senhora.

Rebeca apareceu na sala e Maiara sorriu dizendo pra não chamá-la de senhora, só Maiara estava bom. Enquanto a mulher conferia se tinha tudo o que precisava, Rebeca observava os retratos na estante, imagens de Aiyra ainda bem pequena e até bebê, ela com o irmãozinho no colo, todos juntos, o pai e a mãe no casamento deles, quando percebeu estava com Maiara ao seu lado.

— Sabe, viemos morar aqui por minha causa, um emprego que não dava pra recusar, a pesquisa da minha vida, mas eu tive medo, meu marido também, tudo novo entende? Os trabalhos, a escola das crianças, e principalmente por Aiyra. Você deve saber, todos naquela escola sabem, não é fácil pra ela, mas... Quando vejo os amigos que ela conseguiu, pessoas como você Rebeca, isso me alivia, me deixa feliz.

Rebeca encarou a mulher sem saber o que responder, Maiara riu pedindo desculpas por falar tanto. Elas foram saindo da casa.

— Eu fico empolgada com os amigos dela, Luan, até a doidinha da Ariel e principalmente Natasha, nossa ela é um amor. Você deve conhece-la também né?

Maiara trancou a porta e Rebeca sorriu.

— Sim, eu conheço.

Maiara insistiu numa carona mas Rebeca recusou, disse que preferia caminhar um pouco, as duas se despediram com um beijo e a mãe de Aiyra saiu com o carro. Rebeca viu o veículo diminuir descendo a rua, um ciclista passou por ela, assim como alguns pássaros no céu. Rebeca ficou imaginando o que Maiara diria se soubesse que a filha não era a santa que ela pensava, de como mentiu e destruiu seus tênis, talvez tudo mudasse e ela não fosse tão legal com Rebeca, a julgariam sem educação, sem um bairro legal como aquele, nem mãe amorosa, como poderia ser uma pessoa boa? Lá no colégio todos achavam que Rebeca havia conseguido os tênis de maneira ilícita, o roubando ou através de dinheiro sujo, ninguém nunca gostaria de saber do seu Antônio, de que ela trabalha desde os quatorze anos, e que não tem o pai desde os oito, talvez a culpa fosse sua, ela levou Aiyra a fazer essas coisas, pressionando, humilhando, alguém doente. Rebeca sentiu as lagrimas e começou a caminhar. Agora não interessava mais nada, as coisas tinham chegado aquele ponto e ela precisaria botar um ponto final.

Sangue AntigoWhere stories live. Discover now