Bel

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Alguns anos atrás.

O vai e vem da rede era aconchegante, assim como o ranger das cordas no suporte de ferro, o sol fraco e a brisa do quintal, tudo somado, ajudava embalar Belinda. Se ficasse mais tempo ali com Luan provavelmente pegaria no sono, o corpo amolecido e a mente leve. O garoto resmungava nos braços da irmã que o apertou de leve.

— Ai, meus machucados. — Reclamou Luan.

— Você é forte, aguenta.

— Queria ver se fosse com você.

Bel com um pé fora da rede deu um impulso e o balançar recomeçou.

— Quem mandou brigar, seu brigão.

Luan fez uma careta se remexendo nos braços de Belinda. O esparadrapo no supercílio esticando a pele do menino, assim como o Band-Aid no queixo.

— Eles começaram, eu só terminei.

— Coisa feia, eu vi o que você fez, um garoto se machucou pra valer, o nariz dele, você viu bem o nariz dele?

— Você não sabe o que aconteceu, eles xingaram a gente, toda a família.

— É?

Bel sentiu quando Luan confirmou com a cabeça.

— E daí? Eles mudaram de opinião depois da surra? Eles vão querer voltar a ser seus amigos?

— Não preciso de amigos, não preciso de ninguém, só de você.

Belinda parou a rede com o pé sentindo o peso dela e do irmão, sentou na rede e Luan resmungou por ter que se endireitar. Alguns pássaros cantavam em algum lugar do quintal, e o sol batia em só uma parte da grama, Bel suspirou.

— As coisas não são assim, eu sei Lu, pode acreditar.

— Mas...

— A gente sempre vai precisar da ajuda de alguém, sempre. Ser solitário não é bom, afastar os outros... Por exemplo o que aconteceu com você e Malu? — Luan olhou pros pés suspensos na rede. — Eu ouvi a gritaria, a rua toda deve ter ouvido, o que foi dessa vez?

— Ela vive me provocando, nem sei porque. Ela não me entende.

— E você?

— Que tem?

— Entende ela?

Luan jogou o corpo pra frente tentando fazer a rede balançar novamente, mas a perna de Bel ainda travava tudo. O garoto bufou e saltou, caminhou pelo gramado entrando na casa. Belinda pensou em chama-lo, até brigar com ele, obriga-lo a entender as coisas, mas apenas suspirou, deixou a rede se soltar e balançar novamente, ouvindo o ranger das cordas. O céu era imenso ali, tão vasto que dava um frio na barriga, como algo que pudesse te engolir.

Heloísa assistia televisão com Bia na sala e apenas lançou um olhar quando Bel entrou, perguntou se tudo estava certo e a garota confirmou com a cabeça, pegou água na cozinha e deixou o copo no escorredor, observando a pocinha se formar no granito branco. No andar de cima vagou pelo corredor, espiou Isabel e Cris pela porta entreaberta, as duas riam com algum vídeo da internet, olhou bem o cabelo de Isa, repicado, até que tava legal, mas Bel não saberia dizer se compensou por todo o drama que teve, Isa ainda estava magoada com Heloísa pela bronca, e Helô ainda triste com Isa por não ter sido consultada. Bel se afastou e deixou as duas em paz. Ouviu a voz de Luan chamando Malu e a dela mandando ele sumir, escutou alguma coisa ser atirada no chão e Luan resmungar que doeu.

— Idiota. — Disse Luan saindo do quarto, ele viu Bel, baixou a cabeça e desceu as escadas. Deu pra ouvir quando o volume da TV diminuiu lá embaixo e Luan avisou Heloísa que iria sair.

Sangue AntigoWhere stories live. Discover now