Julgamento do Século - Parte 7

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O pai saiu do banho todo perfumado, teve dificuldades com a gravata e Maiara o ajudou. Aiyra sentada no sofá observava os sapatos no pé, alisou o vestido sentindo o coração palpitar, Roberto elogiou o nó, Maiara se olhou no espelho, Aiyra com o coração acelerado e dificuldade de respirar se levantou num salto e os pais a encararam. O rosto da menina estava ficando vermelha, os olhos marejados e a respiração entrecortada.

— Eu vou explodir. — Anunciou Aiyra quase sem fôlego.

Maiara foi até a filha e a abraçou. Aiyra apertou a mãe sentindo a segurança de seus braços, um ninho que jamais queria deixar, a vontade era se trancar no quarto e não sair, enfrentar um tribunal, pessoas estranhas, jornalistas e... Deuses!

— Mãe eu não vou conseguir... Eu...

— Você disse que queria ajudar seu amigo não foi?

Aiyra com os olhos molhados fez que sim com a cabeça.

— Então não há outro jeito, vocês não fizeram nada de errado e é só dizer a verdade.

Aiyra concordou e abraçou mais uma vez sua mãe.

Saíram do quarto e desceram o elevador calados, o pai vestindo terno e gravata, a mãe com um belo vestido social parecia uma advogada e Aiyra sua assistente. No saguão alguns hospedes os encararam, agora já sabiam quem eles eram, alguns desejaram sorte outros apenas se afastaram. Malu já estava sentada no sofá da recepção usando um vestidinho rosa e conversando com Isabel e Cris. As irmãs Campos sorriram ao ver a família de Aiyra e Cris perguntou se a garota tinha melhorado. Na noite anterior Aiyra teve uma crise de ansiedade e agravada com a esquizofrenia precisou tomar remédio pra dormir, mas antes disso Aiyra tinha passado parte da noite com as irmãs assistindo televisão, ouvindo sobre a banda de Isabel e confessado que já a conhecia, o que agradou muito a rockeira, comentou como Natasha insistira em mostrar as músicas e Isabel sorriu dizendo que Nati era uma das melhores fãs da Trago Lunar. Cris também pareceu gostar de Aiyra, conversaram sobre gatos por um bom tempo e Cristiane adorou saber que Maiara era bióloga-marinha. Mas quando a crise apertou Aiyra precisou voltar pro quarto dos pais para se acalmar.

— Eu tô melhor agora. — Respondeu.

— Que bom.

— Tamo só esperando Helô e Bia. — Comentou Malu esparramada no sofá.

— Não precisa mais esperar. — Disse Heloísa caminhando com Beatriz pelo saguão. — E levanta daí Maria, tá amassando toda sua roupa.

Juvenal também estava no saguão, vestindo uma roupa formal e sorrindo. Ele já não fazia tantas perguntas, mas filmava tudo ao redor, principalmente as irmãs e Aiyra com a família, só parando para fazer algumas anotações.

Enquanto esperavam os carros Heloísa repassou algumas coisas, todos tinham conversado com o advogado na noite anterior e até Roberto com Maiara ficaram por dentro do assunto, sobre as acusações contra Luan, sobre o saci, as transformações dele, e por ter revelado a uma Ami sobre segredos das raças antigas, e essa parte era a que correspondia a Aiyra. Todos pareciam estar cientes de tudo e preparados, mas Aiyra conseguia enxergar nervosismo em todos, até em Malu que vira e mexe era pega encarando o nada, distraída e até mordendo as unhas, coisa que Heloísa detestava e dizia que iria passar pimenta nos dedinhos da menina. Beatriz também se agitava a seu modo, checando anotações, consultando o plano de defesa que formulara com os advogados e Heloísa. Os pais de Aiyra também estavam preocupados e perguntavam como a garota se sentia a todo instante, talvez com medo dela ter outra crise no tribunal, mas Aiyra sentiu-se estranhamente mais calma, talvez saber que os outros estavam tão nervosos quanto ela dava um senso de normalidade a coisa e aos poucos a garota se focou, esvaziou a mente, pensou em seu amigo, pensou em Campo Claro e todos que ficaram lá, suspirou dizendo a si mesma que tudo daria certo e que tinham a verdade ao seu lado, embora, sinceramente, Aiyra nem sabia o que tinham feito de tão errado, não entendia as acusações e regras do povo antigo, e pensar nisso fazia a preocupação querer voltar. Desejava ter Fumaça ao seu lado.

Sangue AntigoWhere stories live. Discover now