Amiga Nossa Parte 10

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Heloísa não queria despertar a curiosidade dos vizinhos. Esperou até que a ruas estivessem desertas. Pediu ajuda de Beatriz, Malu veio apressada com uma cadeira de rodas, arrastaram Luan do carro até a cadeira, e com agilidade meteram o menino dentro de casa. Ariel e Aiyra ainda estavam assustadas, viam as mulheres cuidarem do irmão, o colocarem na cama, tentavam ajudar como podiam, Luan gemia, as vezes abria os olhos, falava alguma coisa enrolada e logo apagava. Cortaram a camisa que já estava grudada ao corpo, revelando o ventre do menino muito ensanguentado, limparam, e no mesmo tempo que o sangue velho sumia no algodão, um novo e mais vivo borbulhava da ferida esparramando-se pelo abdômen de Luan.

A cena era horrível, Aiyra mal podia acreditar no que tinha acontecido e Ariel as vezes soluçava ao seu lado, havia gritado com a avó, recebera um colar com uma concha e a mandaram embora junto com Luan e Aiyra, emergiram na areia arrastados por uma onda, e por coincidência ou não, Heloísa e as irmãs já esperavam com a picape.

Luan gemeu mais uma vez e Heloísa o acalmou passando as mãos em seus cabelos, sussurrando algo ao ouvido, ele se acalmou, e as meninas tão tranquilas e precisas; limparam o ferimento, estancaram o buraco da lançada, deram algo para Luan beber que, ainda inconsciente quase engasgara com a beberagem, mas a meninas levantaram a cabeça dele, e com paninho já em prontidão limparam o resquício do liquido que escorreu pelo canto da boca. Aiyra observou a acalma delas, trabalhavam em equipe e cada uma já sabia bem o que fazer, ela se perguntou quantas vezes as irmãs já tinham feito aquilo.

Heloisa sorriu olhando o irmão tratado, olhou para Aiyra e Ariel que ainda estavam espantadas, tremiam, assustadas e molhadas.

— Prontinho. Ele vai ficar bem.

Aiyra não sabia se poderia acreditar naquelas palavras, a lança atravessara o menino, saiu pelas costas, o sangue era tanto, precisaria de uma transfusão com certeza, e o ferimento haveria de ter pontos, talvez uma cirurgia, e se algum órgão...

— Ele vai ficar bem. — Repetiu Heloísa olhando diretamente para Aiyra como se pudesse ler sua mente. Aiyra assentiu e todas deixaram o quarto.

Malu foi gentil e cedeu roupas suas para Aiyra já que eram quase do mesmo tamanho, Ariel ganhou roupas antigas de quando Malu era menor. Na verdade todas roupas pareciam velhas e gastas, estavam limpinhas e perfumadas, mas muito usadas.

— Não são nada demais. – Disse Malu. — São velhas. A maioria eu herdei de Cris que as ganhou de Isabel e que as vezes recebia as de Bia. A maioria das minhas coisas são assim, de quarta ou quinta mão.

— São ótimas. — Disse Ariel baixinho, ela suspirou e sentou na cama de Malu. Os olhos enchendo d'água, o narizinho rosado.

Aiyra passou a mão pelas costas da menina que a olhou agradecida. Depois secaram os cabelos com uma toalha, e quando desceram Heloísa e Beatriz as esperavam com bolo, chá e biscoitos. Todas sentaram à mesa da sala. Aiyra olhava sua xícara, a fumaça subindo cheia de curvas, o sol entrando pela janela e ao longe podia ouvir o som dos sinos de vento, eram de bambu, a madeira chocando-se, fazendo uma sinfonia regida pelo próprio vento. Tomou um gole de chá. Ninguém dizia nada. Nem se olhavam muito. Ariel tinha as duas mãos numa xicara, levantou a cabeça, os cabelos úmidos, as lagrimas escapando pelo cantinho dos olhos.

— Me desculpem, eu sou a culpada.

Todas disseram que não era verdade, pareciam estar esperando esse momento para começarem a falar. Malu disse que Luan era esquentadinho e encrenqueiro e que a culpa era dele, Heloísa a repreendeu e disseram que pelo menos as coisas já estavam acertadas e que Luan ficaria bem. Ariel assentiu e recebeu um abraço de Helô. Aiyra ficou olhando a cena queria perguntar mas não tinha coragem de interromper, mas Bia percebeu e perguntou o que era.

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