Julgamento do Século - Parte 9

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O tribunal de Andurá era luxuoso, a tribuna enorme e adornada ostentava três cadeiras e Aiyra ficou imaginando se teriam três juízes para ocupa-las. A cadeira do meio era quase um trono e bem maior do que as outras. A tribuna continuava pelas laterais com várias cadeiras dispostas ali, o que pra Aiyra pareceu ser onde o júri ficaria, e logo de frente para tudo isso havia dois conjuntos de cadeiras e mesas onde provavelmente ficaria a parte acusada e a acusatória. Porém o mais peculiar de tudo ficava ao fundo da sala, logo atrás da tribuna, uma árvore sem folhas, de galhos retorcidos, toda branca. Aiyra com os pais sentaram nas cadeiras alocadas para os que iriam assistir o julgamento, ela estava localizada logo atrás do conjunto de cadeiras onde Luan e os advogados sentaram. Das irmãs apenas Beatriz e Heloísa se sentaram com Luan. Cris, Izabel e Malu sentaram-se com Aiyra e os pais. Luan sentado de forma desconfortável ouvia o que Jandir dizia, Aiyra olhava aflita para o amigo que do nada a encarou, sorriu um tanto nervoso e ela acenou sorrindo mais do que gostaria. Maiara tocou o ombro da filha a acalmando.

O tribunal começou a se encher, pessoas vinham testemunhar a audiência, alguns repórteres se instalaram atrás de todo mundo, armando tripés e câmeras. Mas Aiyra percebeu que já havia algumas câmeras e cinegrafistas distribuídos pela corte, provavelmente tudo aquilo seria transmitido.

— Só sou eu ou aqui tá ficando quente? — Perguntou Malu sacudindo o colarinho da camiseta.

Cris disse para ela se acalmar, e Aiyra também pensou que estava com calor, as mãos começando a suar, percebeu que estava tencionando os dentes a ponto de rangerem, tentou se acalmar, e quando uma enorme porta se abriu todos fizeram silêncio. Dessa vez não era parte da plebe que entrava, Aiyra percebeu logo de cara, talvez por causa dos ternos e roupas luxuosas, pelo jeito de andar ou as pinturas no rosto, mas provavelmente foi pela reação dos que testemunhavam a entrada daqueles seres, o silêncio, respeito, o temor. Deuses. As coisas foram ficando mais evidentes quando Aiyra observou absorta um sujeito com pele igual de cobra, talvez jacaré, branco e preto e dentes sorridentes, dentes afiados de encaixe perfeito, lembrando pontas de flechas. Os olhos amarelos dele se encontraram com os de Aiyra que tudo o que conseguiu fazer foi desviar o olhar pra árvore no fundo do salão.

— Roberto. — Disse Maiara segurando a mão do marido. Aiyra olhou a mãe que parecia assustada e fascinada ao mesmo tempo. — Eles...

— Eu sei. Melhor fazer silêncio.

A mulher concordou, e Aiyra também achou boa ideia. Fotógrafos tiravam fotos e cochichavam entre si, alguns deuses paravam antes de subirem na tribuna, poses leves, apenas para saírem bem na foto. Aiyra observava maravilhada, todos os deuses, os cocares, as pinturas e joias, viu alguém com um muiraquitã na forma de um sapo, penas coloridas, uma mulher alta e morena de cabelos lisos, a pele mais perfeita que a garota já vira.

— É ela. — Disse Malu sorrindo para Isabel.

— Sim, tá com o cabelo preto, o original.

— Gostava dela loira. — Disse Cris. — Apostam quanto que Ariel vai pintar de preto o cabelo?

— Quem é ela? — Perguntou Aiyra tentando não elevar a voz.

— Só a Iara. — Disse Malu. — Senhora das aguas, ídolo numero um de Ariel, mesmo que ela não admita o clichê.

Aiyra encarou a sereia mais uma vez, a mulher sorria para os fotógrafos e todos tiravam fotos como se não houvesse amanhã.

— Ela anda popular. — Comentou Cris.

— Ela sempre foi popular. — Disse Isabel. — Mas ela tá mesmo em alta ultimamente, as pessoas redescobriram as serias, acho que de todos ali ela é a única que não precisa de holofotes.

Sangue AntigoWhere stories live. Discover now