Julgamento do Século - Parte 1

342 79 49
                                    


Depois do turbulento início, o mês de setembro revelou dias mais calmos para Aiyra e sua família, embora ainda nem tudo estivesse normalizado. Como no caso de seu pai que despertava nervoso ao menor ruído, olhando sempre pensativo para Fumaça, o novo gato de Aiyra, e também sua mãe que voltou a rezar por algum motivo que ninguém sabe qual. Mas fora essas coisas aos poucos eles regressavam a velha forma, cafés da manhã agitados, beijos na porta da escola, jantares onde cada um contava seu dia, coisas velhas, que ajudavam a controlar crises, ninguém tocava em assuntos estranhos, nada de gnomos, fadas, nem nada do tipo.

No dia sete de setembro, todos foram ver o desfile, como combinado Natasha acompanhou a família de Aiyra e lá encontraram Ana. Aiyra animadíssima com seu primeiro desfile apontava ao ver os blocos que se moviam, gigantes de pernas de paus, carros enfeitados com Dom Pedro em um cavalo, viram também o bloco da escola e nesse momento as amigas puderam notar os olhos de Natasha, perdidos, observando a fanfarra mas talvez nem a notando, de repente a menina sorriu, declarando que o grêmio tinha se saído muito bem. Nati tinha acabado de ser excluída do grêmio, alegaram pouco envolvimento da menina, faltas não justificadas em reuniões importantes, e como ela não podia alegar casos com gnomos, sereias e gatos acabou apenas baixando a cabeça e aceitando a decisão dos demais. Ana e Aiyra abraçaram a amiga e voltando pra junto dos pais de Aiyra assistiram o resto do desfile comendo algodão doce.

Pequena Ju ia nos ombros do pai, e tio Valter sorria balançando e fingindo que deixaria a menina cair, ela gargalhava e quando realmente se assustou agarrou os cabelos do pai que fez uma careta e todos riram. Cauê apressado esbarrou em Aiyra que reclamou, ele e Lucas corriam na frente falando sem parar, Natasha sorriu sozinha e Ana xingou o irmão malcriado. Eles voltavam para os carros, tinha sido uma boa tarde e o céu escurecia, alguns panfletos eram arrastados pelo vento, quando Aiyra percebeu um clarão, olhou pro céu pensando que poderia chover, mas ele estava limpo com o sol de fim de tarde, olhou as casas em volta e todos se surpreenderam com mais um clarão.

— Tem alguém batendo fotos. — Comentou tio Valter colocando Ju no chão.

— Verdade. — Disse Ana. — Bem ali, olha, aquele cara.

A garota apontou para esquina e todos puderam ver um sujeito de bigode e paletó segurando uma máquina grande e antiga, bateu mais uma foto e sumiu dobrando a rua.

— Que esquisito. — Comentou tia Erica e Natasha concordou com a cabeça.

— Que nada. — Disse Roberto desarmando o alarme do carro. — Devem estar fazendo fotos do desfile e viu uma família bonita como a nossa e resolveu bater algumas fotos.

Aiyra, Natasha e Ana foram no carro do tio Valter e tia Erica. Conversavam sobre o desfile perguntando o que Aiyra tinha achado, ela falava sobre os carros, a fanfarra e a cavalaria que liderou a ponta da passeata quando tio Valter xingou, todos o encararam e perceberam que ele baixava o vidro e se dirigia para uma dupla numa moto, que de celular na mão filmavam o carro deles.

— Perderam alguma coisa? — Perguntou Valter de rosto vermelho. Os motociclistas estavam de capacetes e aceleraram a moto ignorando o sinal vermelho. — Imbecis.

— Calma amor. — Pediu tia Erica.

— Esses caras estavam filmando a gente por um tempo, não sei que tá acontecendo hoje.

No banco de trás as meninas se olharam e Aiyra começou a sentir o coração acelerar, aquele sentimento de estranheza que já estava tornando-se familiar. Tio Valter se acalmou e gargalhou, acelerando o carro assim que o sinal abriu.

Aiyra escovou os dentes e depois arreganhou a boca num sorrisão forçado, todos branquinhos, bateu os dentes algumas vezes como se mordesse o vento e riu para o espelho.

Sangue AntigoOnde histórias criam vida. Descubra agora