As paredes de coloração verde clara e o cheiro de flores que preenchiam o quarto hospitalar pareciam causar um certo desconforto em Eduardo. Sentado na maca, com os pés e as mãos entrelaçadas, ele se perdia nos lapsos de suas memórias de vida. As lembranças do último suspiro de sua genitora eram mais dolorosas do que o curativo que a enfermeira fazia em seus ferimentos. Mesmo sem ter demonstrado nenhuma reação suspeita, Eduardo foi puxado para a realidade ao ouvir a voz de Nicholas.
- Edu, está tudo bem?
- Eu estou vivo, então acho que sim! - Respondeu Eduardo, segurando o choro.
- Ah, okay.
Nicholas podia ver nos olhos de Eduardo a dor, e em suas palavras o vazio presente naquele momento. Embora desejasse oferecer um abraço amigo, Nicholas não queria ser invasivo, pois Eduardo não passava de uma criança desconhecida que pediu ajuda. O relógio pendurado acima da janela indicava a Nicholas que ele havia perdido o primeiro dia de aula. Antes que pudesse lamentar, seu celular começou a tocar, atraindo a atenção de Eduardo e da enfermeira, que o advertiu:
- Por favor, atenda essa ligação fora da sala.
- Claro, desculpe. - Levantando-se da cadeira, Nicholas se preparava para sair do quarto quando sentiu Eduardo segurando pela borda da camiseta.
- Onde você vai? - Perguntou Eduardo, deixando a preocupação transparecer em seu olhar.
- Eu só vou atender a ligação e pegar um café! - Respondeu Nicholas. - Relaxa cara, eu vou voltar! - Acrescentou Nicholas, tentando acalmá-lo.
- Tem certeza? - Perguntou Eduardo, demonstrando desconfiança.
- Fizemos uma promessa, lembra? - Respondeu Nicholas. - Vamos fazer assim: eu vou deixar minhas chaves com você, e você me dá algo em troca. - Eduardo concordou com a proposta e retirou do bolso um cordão aparentemente de ouro, com um brasão desconhecido cravado em um dos lados. Ele entregou a Nicholas, que guardou o objeto no bolso ao sair rapidamente para atender o telefone.
No corredor, Nicholas atendeu o celular e, antes que pudesse falar algo, ouviu a voz de JP disparando perguntas sem parar. Nesse momento, Nicholas percebeu que, mesmo com menos de um ano de amizade, JP havia se tornado a pessoa mais próxima de uma família que ele poderia ter. Após ouvir JP o enchendo de perguntas, Nicholas interrompeu-o de forma irônica.
- Sim, mãe.
- Meu pau, você perdeu a aula. - Respondeu JP, usando uma das palavras mais usadas em seu vocabulário chulo. - Por que não veio para a faculdade?
- Eu tive que vir ao hospital. - Afirma Nicholas, caminhando em direção à máquina de café.
- O que aconteceu? Você está bem? - Pergunta JP, suavizando o tom de voz.
- Tudo tranquilo, eu só tive que acompanhar alguém!" responde Nicholas, equilibrando o celular entre o ombro e a orelha, pegando moedas da carteira para comprar um café.
- Acompanhar alguém? Não me diga que você tem uma namorada? - JP faz uma pergunta atrás da outra.
- Como assim, namorada? Eu achei que você fosse meu camarada. - Perguntando e respondendo sua própria pergunta com um breve sorriso.
- Meu camarada, meu pau. - Fala JP soltando uma gargalhada.
- Okay, okay. Te vejo amanhã. - Afirma Nicholas desligando o telefone.
Nicholas ainda com um breve sorriso no rosto, bebe um gole de café enquanto caminha de volta para o quarto. Em seguida, pega o celular para ver quanto tempo passou, distrai-se um pouco e esbarra em alguém, derrubando todo o café na pessoa desconhecida. Temendo um possível escândalo, Nicholas alcança alguns guardanapos que estavam em uma mesa não muito distante da máquina de café e, sem olhar para o rosto da pessoa, começa a se desculpar enquanto limpa a camisa daquele indivíduo desconhecido. Antes de continuar a limpeza, Nicholas sente uma mão segurar seu pulso com força e ouve uma voz áspera e fria:
VOCÊ ESTÁ LENDO
Do desejo ao Acaso (BL)
General FictionNicholas, um dançarino solitário vê sua vida mudar a medida em que Otávio cruza seu caminho e , na linha tênue entre solidão e o desejo amar será um desafio. Eduardo terá sua vida transformada ao descobrir sua origem e, entre a dor e a mentira ele e...