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Larissa 🧿

Eu tava no meu quarto deitada assistindo série até a Beatriz entrar quase arrancando a porta do quarto e se jogando em cima de mim.

Beatriz: Tão falando que o Sérgio subiu o morro, tá lá com o Nego.- Olhei pra ela dando pausa na série.- Faz um tempinho já, mas o Marcos só falou agora.

Lari: Tem certeza? - Me sentei na cama vendo ela concordar.

Beatriz: Marcos viu, disse que tá maior confusão de sempre lá.- Ela me olhou curiosa.- Você vai lá?

Lari: Não, tá doida? - Ela fez cara de tristeza.- Eles sempre se resolvem.

Beatriz: Eu tava doida pra subir pra poder ver de perto, mas sozinha eu não vou.- Se levantou, deitando na cama dela.

Lari: Eu vou comer alguma coisa.- Falei amarrando meu cabelo e sai do quarto.

Sérgio era o pai do Nego, quando a mãe dele morreu, quem cuidava era o Sérgio. Mas ele é até hoje viciado em cocaína e bebida, se não fosse a Sandra o Nego tinha morrido de fome, pois o pai dele saia e deixava no máximo dois pães e em tudo isso, o Nego só tinha 5 anos.

Me sentei na cozinha pra comer pão e fiquei sozinha lá, minha mãe já tava dormindo provavelmente, após limpar minha bagunça, u fui subindo pro meu quarto bem tranquila, mas chega me assustei quando abri a porta e me dei de cara com o Neguinho sentado na minha cama conversando com a Beatriz e a janela da varanda aberta.

Lari: É sério isso, Beatriz? - Encarei da fechando a porta.

Beatriz: Vamo jogar banco imobiliário.- Falou animada se levantando pra pegar.- Tô doida pra jogar, faz tempo que a gente não brinca.

Lari: Não.- Tranquei a porta pra minha mãe não abrir de surpresa e parei colocando a mão na cintura.- Tá fazendo o que aqui? Pode ir metendo o pé.

Neguinho: Que nada, vou jogar esse bagulho aí.- Olhei pra Beatriz que dava a maior corda.

Lari: Sabe nem fazer conta e quer jogar, da licença.- Apontei pra ele indo sentar na minha cama.- Sérgio subiu foi?

Neguinho: Foi atrás de dinheiro.- Falou meio bolado e eu olhei pra ele.- Na real ele só vai lá pra isso né.

Beatriz: Não sei porque você ainda ajuda.- Falou montando as coisas no chão.

Neguinho: Pai é pai. Pelo menos o malandro fica perto de mim sem me julgar.- Me olhou de lado.

Lari: Ele só faz isso por dinheiro, você não precisa dele por perto.- Olhei pra Beatriz.- Na verdade de ninguém, você vive muito bem sozinho.

Neguinho: Daria tudo pra te ter do lado.- Colocou a mão na minha perna.

Lari: Não esqueci o que você fez ou falou hoje.- Me afastei.- Quando você me relembra o que você fez com o João Victor me dá nojo.

Neguinho: Já te pedi desculpa por isso mano.

Lari: Pede desculpas pra mãe dele, vai vê lá se isso vai trazer o filho dela de volta.- Falei grossa saindo de perto dele e indo sentar na cama da Beatriz.- Não quero papo contigo.

Beatriz: E o jogo? - Falou olhando pra gente e eu me deitei ficando calada, ele ficou encarando a janela e ela pegou o celular.

João victor era meu melhor amigo, fazia parte das crianças que eu tinha crescido juntos. Inseparáveis, a dupla perfeita desde pivetes.

E desde crianças, o Neguinho não gostava dele.

A gente cresceu juntos fazendo de um tudo, todo mundo falava que um só respirava se o outro estivesse juntos.

Eles estavam certos.

No meu aniversário de 15 anos, o Neguinho tinha sido convidado. Nessa época ainda ele era bem vindo, Maria e Sandra gostavam de ter ele por perto mesmo ele sendo esse bandido, era uma família linda de qualquer maneira, mesmo sendo toda quebrada.

Mas aí, o Neguinho teve que ir embora resolver os corre e a festa continuou. João dormiu aqui em casa como toda vez, mas nesse dia alguém simplesmente resolveu espalhar o boato que a gente tinha ficado.

E eu não sei quem, ou o porquê disso tudo, mas isso acabou com a minha vida. Eu passei o dia dormindo, tava numa puta ressaca, quando acordei foi com grito, foi com desespero da minha irmã e da minha mãe.

"Mataram o João victor, o Neguinho matou o João."

E meu mundo acabou tão fácil, após esse dia eu fui parar no hospital semanas depois, eu não conseguia simplesmente comer. Fiquei internada por um mês, e quando eu voltei o Gabriel agiu como se não estivesse acontecido nada, como se ele não tivesse arrancado uma parte tão importante de mim.

Por isso hoje em dia é fácil falar que ele não é aceito, não é amado e é rejeitado. Mas o que passou ele não conta e ainda paga de louco, como se não tivesse acontecido, mas pra mim isso nunca vai morrer.

E pensar que deve ser fácil né, apesar de tudo ainda sentir algo por ele depois de anos. Ter que reprimir, se sentir culpada ou sentir que tá fazendo tudo errado. Prefiro a indiferença pra não me sentir culpada, por isso ele sempre correu atrás de mim, ele sabe tão bem que é o culpado que tenta me compensar, mas talvez isso nunca aconteça.

Crime PerfeitoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora