Capítulo 23

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Henry Bianchi

Era por volta das dez horas da manhã, quando recebi a mensagem de Monique, falando que estava me aguardando no endereço informado, o local era um restaurante comum e que ficava bem distante do hotel. Cogitei a possibilidade de não ir, mas como posso negar uma coisa que poderá me ajudar em um futuro próximo? Não avisei nenhum dos seguranças, saí escondido, porém com uma arma no coldre. Aluguei um carro e fiz o percurso bastante nervoso, não sabia exatamente o que ia encontrar, mas preferi dar a cara a tapa e descobrir mais sobre "Enrico Ferrari"

Deixei o carro estacionado em uma distância segura e caminhei receoso até o restaurante. O lugar não estava muito cheio e de longe avistei Monique sentada, digitando algo em seu telefone, aproximei-me, puxando a cadeira e sentando. Ela se assustou, mas logo sorriu simpática, o que foi bastante estranho vindo dela.

— Então você veio. — o batom vermelho chamativo em seus lábios roubou toda a minha atenção. Aquela mulher era muito linda.

— Você tem histórias para me contar, estou aqui pronto para ouvi-la. — ela sorriu novamente e chamou o garçom.

— Tragam-nos Bourbon, por favor. — pediu, ainda me olhando.

Respirei fundo totalmente impaciente, Monique ficou em silêncio até a bebida chegar e fez questão de nos servir.

— Ok, você pode começar... — peguei o copo com o líquido e dei um gole generoso.

— Apressadinho. — deu uma risada baixa, fazendo-me rolar os olhos. — Você está entrando em uma situação um pouco complicada. Tenha em mente que vai descobrir coisinhas vindo do seu pai e...

— Tenho certeza que nada que você contará aqui irá me surpreender. Conheço o pai que tenho, infelizmente. — apressei-me em dizer. Se ela pensa que vai me colocar contra o meu pai usando a violência e as coisas perversas que ele fez/faz está muito enganada.

— Henry, não sou a vilã da história, disso você pode ter total certeza. O vilão é o meu pai e ele não medirá esforços para destruir o seu.

— Se você puder contar a história certa, ficarei feliz em ouvi-la. — Monique assentiu, respirando fundo.

— Nossos pais se conheceram na adolescência e tinham uma amizade invejável, até que cresceram e seus caminhos foram separados. Eles se dividiram e fizeram tudo para se destruírem, mas nem sempre foi assim. Há muitos anos, Enrico tinha uma boa convivência com o seu avô, ele era o filho dos sonhos que o velho nunca teve, Giancarlo o invejava por não ter a atenção do pai e tudo piorou quando Enrico conseguiu seu primeiro emprego na empresa da sua família. Entre brigas, discussões e até violência, Enrico denunciou seu avô para uma máfia rival, comprometendo todo o império da família Bianchi. Seu avô foi destruído, morto e apedrejado em praça pública. A vingança de Ferrari atingiu completamente tudo.

— E onde meu pai entra nisso tudo? Você falou sobre "coisinhas" feitas por ele. — lembrei-a e ela assentiu, continuando a história.

— Todos acreditaram nessa história, mas foi provado que não foi Enrico que denunciou seu avô. — meu coração começou a palpitar rápido e tive a leve impressão que o que vinha a seguir iria me destruir completamente. — Giancarlo fez isso, colocando a culpa em Enrico. Ele fez tudo pelo poder, até mesmo tirou a vida do próprio pai!

— Está blefando! Isso não é...

— É verdade sim! Enrico se revoltou, prometendo a si mesmo que mataria Giancarlo custe o que custar. E essa vingança rendeu inúmeras mortes. — Monique bebeu seu Bourbon praticamente todo. — Meu pai virou um monstro completamente sedento por vingança e ele não irá parar. Giancarlo matou o próprio pai e matará quem estiver no caminho dele, não importa quem seja! Estamos todos correndo risco, entrando em uma briga que dura há décadas...

— Onde quer chegar, Monique? — perguntei, sentindo-me tonto com toda essas informações.

— Quero lhe propor uma aliança para acabar com os dois! — engulo seco, sem reação ao ouvi-la falar aquilo.

— Você não está falando sério. Quer destruir seu próprio pai? — tentei levantar da cadeira, mas a mulher segurou a minha mão.

— Já deve ter ouvido falar dos maridos que tive ao longo da vida, não é? Todos eles foram escolhidos pelo meu pai e todos sem nenhuma excessão me destruíram psicologicamente. Enrico não ama ninguém, não se importa, seu único objetivo é acabar com seu pai. Por que irei ficar do lado de alguém que só me machucou no decorrer dos anos? — era essa a pergunta que eu me fazia desde que comecei a entender a brutalidade de Giancarlo.

— Você está me propondo uma aliança para destruí-los, correto? — ela assentiu. — E o que ganha com isso?

— Muito, você não imagina! Inclusive tem algo do passado da sua namoradinha relacionado ao seu pai, se eu fosse você buscaria mais informações. Acredite, Giancarlo acabou com a vida de muita gente e sem necessidade nenhuma.

— Olívia? — o que meu pai havia feito com Olívia? Que porra é essa?

— Ah, sim! Parece que a senhorita Miller não é só uma pobretona do Brooklyn afinal.

Monique levantou da cadeira, deixando alguns dólares na mesa.

— O que sabe sobre ela? — levantei-me e Monique piscou.

— Pergunte ao seu pai, querido. Tenho certeza que você ficará bastante surpreso. — colocou seus óculos de sol. — Entro em contato muito em breve. Não preciso lembrar que esse assunto é segredo, não é?

Sem esperar minha resposta, a mulher de cabelos pretos e levemente ondulados desfilou até a saída do restaurante, sumindo da minha visão logo depois. E se for mentira? Não conheço Monique, nem sabia do nome do inimigo do meu pai até agora. Na verdade, nem ele mesmo sabia. Sempre ficava se preocupando, querendo descobrir de quem se tratava, perdendo noites de sono criando paranóias, gastando rios de dinheiro com detetives... Oh céus! Giancarlo mentiu esse tempo todo! É óbvio que ele sabia quem era seu inimigo.

Parece que não conheço o meu pai como achava que conhecia. Agora preciso saber de onde ele conhece Olívia, pois tenho a leve sensação que ela está correndo perigo. Monique estava certa quando disse que Giancarlo matou o próprio pai e matará quem estiver em seu caminho.

Caminhos QuebradosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora