Capítulo 64

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Monique Ferrari
(Capítulo Bônus)

Rafael estava brincando comigo, ele não fazia ideia do que eu era capaz quando se tratava da minha família, principalmente agora que carrego uma criança em meu ventre. Eu tinha que agir, impedir que ele arruinasse todo o império de meu pai. Se juntar aos irmãos Bianchi era a minha única solução naquele momento, Olívia era inteligente, mas não tinha o sangue frio, não sabia quase nada dos negócios da família. Ela era um pouco ingênua, boazinha demais e isso atrapalhava. Olhei para a minha barriga — que havia ganhado uma saliência visível nos últimos dias, e respirei fundo, pensando em outras opções, mas nada me vinha a mente. Para me unir à eles, eu teria de contar sobre a criança e não sei como eles receberão esse tipo de notícia agora, com tudo o que está acontecendo.

A enfermeira me ajudou a tomar um banho, me arrumei da melhor maneira possível e me sentei na cama, pronta para enviar uma mensagem para Matteo. É agora ou nunca! Digitei trêmula, quase desistindo e aguardei. Em alguns minutos, Matteo respondeu que já estava a caminho e meu coração palpitou rapidamente.

— Chegou agora do seu pai saber sobre você. — mordi os lábios e acariciei minha barriga. — Espero que ele reaja bem.

Como eu estava muito nervosa, tentei me acalmar, bebi água, cantarolei algumas músicas e encarei o teto sem graça daquele quarto. Não sei por quanto tempo fiquei assim, mas logo ouvi batidas na porta, era ele. Ansiosa, falei não muito alto "entra" e assim ele fez. No primeiro momento, pensei em desistir, mas ao ver seu semblante preocupado não consegui.

— Finalmente você teve a consideração de me chamar até aqui. Já tem semanas da sua internação e eu não entendo o porquê. — cruzou os braços.

O ar-condicionado parecia mais frio do que o habitual, não sei se pelo meu nervosismo ou porque desacostumei. Com cuidado, levantei da cama e não foi preciso de muito para ele notar a saliência da minha barriga. Estava bem visível para o terceiro mês e meio de gestação.

Matteo observava silencioso a minha barriga. Foi um martírio aquela situação, todo aquele silêncio e as olhadas que ele me dava. Pensei em falar alguma coisa, mas quem disse que eu tinha voz para isso? Na minha cabeça seria muito mais fácil, pobre engano, não estava sendo nada fácil, muito pelo contrário, eu estava me sentindo um lixo, sufocada com aquela droga de silêncio. Oh céus! Até quando iremos ficar assim?

— Pode me explicar? — ele murmurou, a voz falhou um pouco, como se Matteo estivesse embasbacado.

— Estou grávida. — confessei, sentindo algumas lágrimas me traírem.

O choque de realidade o atingiu em cheio. Era óbvio que ele estava vendo, mas parecia não querer acreditar ou sei lá o quê.

— E você me fala assim?— eu ia respondê-lo, mas Matteo não deixou. — Há quanto tempo? Quando pretendia me contar? Acha que eu não gostaria de saber que vou ser pai?

— Eu não ia contar! Na verdade, nem pretendia. Por mim, essa criança seria só minha e demais ninguém! Mas o destino sempre é traiçoeiro e...

— Eu não acredito que estou ouvindo isso! Você ia esconder o meu filho? Porra, Monique! Que merda, caralho! É o meu filho também! Eu tenho o total direito de saber! — apontou o dedo em minha direção.

— Com o seu pai maluco? Como acha que me sinto com essa situação? Meu filho está em risco por ter o seu sangue! Eu quero protegê-lo da sua família maluca! Isso é errado? — estufo o peito para enfrenta-lo, ele não ia me atingir.

— E acha que eu não o protegeria também? Você é maluca...

Senti uma pontada certeira no meu útero e me sentei de imediato. Eu não podia estar passando por raiva, como sou teimosa! Prontamente, Matteo correu ao meu alcance, estava preocupado... Comigo?

— Eu não posso passar raiva, Matteo. Estou internada aqui para gerar essa criança em paz, sem correr o risco de perde-lo. — expliquei, limpando o rosto banhado em lágrimas.

— Por que você não me disse, Monique? Ele está bem? — um pouco sem jeito, Matteo encostou a mão na minha barriga. Fiquei surpresa com a sua atitude, porém não o afastei.

— Estamos lutando dia após dias, como guerreiros. — forcei um sorriso.

— É de se imaginar que ele seja forte, carrega o sangue de duas famílias... Hum... Peculiares. — sentou ao meu lado. — Eu quero cuidar dele, ser o pai que nunca tive. Você permite isso?

Ele realmente me pegou de surpresa com aquelas atitudes, jamais pensei que fosse ouvir aquilo dele.

— Nossos pais foram dois monstros em nossas vidas, sofremos, fomos deixados de lado, desprezados. Nunca tivemos amor, afeto e carinho daqueles que deviam cumprir seus papéis. Eu não quero que meu filho passe por isso, quero que ele tenha amor de sobra... Quero ser melhor por ele e pra ele!

— Eu quero isso também. — me encarou, parecia estar falando a verdade.

— Seja bem-vindo, então. — sorri e ele acabou sorrindo também. — Precisamos conversar.

— Vai me pedir em casamento? — brincou e eu revirei os olhos.

— Preciso da sua ajuda para lidar com Rafael Castilho. Assim que o bebê nascer, vou recuperar tudo o que me foi roubado e colocar aquele golpista no olho da rua. — suspirei. — Não tenho mais soldados, amigos e sócios para me ajudar nessa, então quero formalizar uma parceria entre nós.

— Esse foi um ótimo jeito de me pedir em casamento, eu topo! — riu debochado. — Não se preocupe, Rafael tem seus dias contatos como dono do império Ferrari.

— É isso que eu quero! Olívia e Henry estão juntos como você deve saber, ele aceitou a proposta no momento em que ela propôs. Nós temos um plano, porém é um pouco arriscado, já que enfrentaremos alguém poderoso.

— Não se preocupe, eu sou mestre em lidar com esse tipo de situação. Você tem o meu apoio! — garantiu, me deixando aliviada.

Matteo passou algumas horas no hospital, acompanhando cada detalhe da minha rotina. Quando anoiteceu, ele só foi embora com muita insistência minha e me prometeu que viria no dia seguinte.

Ao ficar sozinha, fiz algumas ligações. Apesar de não ter um completo apoio, eu ainda tinha pessoas infiltradas por todos os lugares e não demorou muito para que me contassem as novidades.

Rafael pretendia abrir as boates novamente, já estava planejando trazer mulheres para trabalharem como mula em depósitos onde nossos produtos eram tratados. Que filho da puta!

Do outro lado, o juíz Xavier comemorava a reinauguração da boate — provavelmente ganhou aquilo de Rafael por ter ajudá-lo na audiência. É, ele estava indo com muita sede ao pote e isso me deixou pensativa.

Era como se ele quisesse aproveitar tudo, como se de alguma forma soubesse que estava no caminho certo para perder toda a fortuna.

Caminhos QuebradosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora