Capítulo 46

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Henry Bianchi

A residência do senhor Montês era praticamente no meio do nada. Não tinha casas próximas, basicamente ficava em um ponto escondido das outras casas.

Era um casarão antigo grande, havia um jardim muito bem cuidado e uma piscina fechada. Pelas minhas informações, Montês era um homem de negócios, que expandiu diversos postos de gasolina pelo país. Com a popularidade e o ótimo investimento, o homem envolveu-se em outros negócios, aumentando ainda mais a fortuna que tem. Fomos recebidos por uma doce senhora, que nos levou até a sala de visitas gentilmente.

Olívia estava completamente desconfortável, porém conduziu muito bem os primeiros minutos. Montês desceu a grande escadaria com ajuda de uma possível enfermeira. O homem já estava em uma idade avançada, porém parecia tão lúcido como qualquer outro jovenzinho. Ele usava uma bengala banhada a ouro para mover-se, o esforço por dar alguns míseros passos era visível em seu rosto enrugado. Com educação, Olívia e eu permanecemos em pé, esperando o anfitrião nos receber.

— Nunca pensei que fosse receber um Bianchi em minha casa. — o velho homem disse sorridente, aproximando-se com a mão estendida.

Depois dos cumprimentos, Montês sentou-se no sofá da sala e com um imenso suspiro comecei a falar sobre as gravações das câmeras de segurança.

— Eu tenho informações que nossas mercadorias passaram ou até mesmo abasteceram no posto do senhor. Nós necessitamos das gravações do dia em questão e é exatamente por isso que estamos aqui. — expliquei e ele assentiu.

Olívia estava quieta, apenas observava nós dois.

— Entendo. Pedi que viesse em minha casa, pois devido a idade, não consigo me locomover para lugares distantes e como pode ver, a minha residência fica longe de tudo. — a mesma funcionária que nos recebeu, apareceu novamente, dessa vez com uma bandeja servida com café e alguns biscoitos amanteigados.

— Compreendo perfeitamente, senhor Montês. — peguei uma xícara e fui servido com o café forte, do jeito que eu gosto. Olívia também serviu-se.

— Eu pedi que um funcionário de confiança trouxesse as gravações do dia do roubo e ele me garantiu que aparecerá em algumas horas. Incomodam-se de esperar?

— De forma nenhuma. — sorri.

▪️▪️▪️

O senhor Montês subiu para descansar enquanto o tal funcionário não chegava e por ser de manhã, convidei Olívia para andarmos pelo vasto jardim. Ela estava bastante pensativa, quase não respondia as minhas perguntas.

— Você está bem? Ficou quieta a maior parte do tempo.

— Estou cansada, não dormi direito essa noite. — explicou, sentando-se em um balanço preso à uma árvore.

Sentei na grama, aproveitando a sombra que a árvore proporcionava e encarei o céu azul, tão limpo e ao mesmo tempo tão cheio de vida. O sol estava quente, quase insuportável, mas a sensação gostosa de ficar naquele jardim regado por flores era melhor do que ficar preso na residência.

— Acha que conseguiremos alguma pista nessas gravações? — perguntei, ainda encarando o céu.

— Acho que estamos dando um tiro no próprio pé, Henry. — meu olhar rapidamente encontrou o seu.

— O que está querendo dizer com isso?

— Tive alguns minutos para pensar sobre tudo o que aconteceu e para a minha surpresa, tudo está tão óbvio como o céu azul e as pequenas nuvens formadas. — explicou, olhando o céu.

— O quê?!

Ela respirou fundo, completamente irritada comigo e então levantou-se do balanço. Olhando-me com as mãos na cintura.

— Estamos caindo em uma possível armadilha! Que diabos de ladrões são esses que passariam em um posto de gasolina logo após roubarem mercadorias valiosas para nós? Nossas famílias são poderosas e, creio que ninguém em sã consciência faria algo desse tipo. Precisamos ir embora!

Parei para pensar e Olívia realmente tinha razão. Na verdade, muitas coisas não faziam sentido, mas essa estava clara o suficiente para nós.

— E como vamos sair daqui? — ela revirou os olhos.

— Da mesma forma que entramos. — sorriu, confiante.

Mesmo com um bolo na garganta, resolvi seguir Olívia e para a nossa certeza, os seguranças do Sr. Montês impediram a nossa saída.

— Está querendo dizer que nós não podemos sair? Sabe com quem está falando, mocinho? — Olívia encarou os olhos do segurança, que se remexeu desconfortável.

— São ordens do Sr. Montês.

E antes que eu pudesse argumentar, Olívia sacou uma arma da bolsa e atirou ligeiramente na perna do homem, chamando a atenção de todos os outros.

— Que merda você fez, Olívia!

Ela me puxou e então começamos a correr. Os seguranças atiraram em nossa direção, escapamos por pouco ao escondermos-nos por trás de uma parede proxima à saída.

— Atire também, seu idiota! Ou então iremos morrer aqui mesmo. — ela disse enquanto atirava e se escondia ao mesmo tempo.

Saquei a minha arma da cintura e atirei, imitando os passos da minha parceira. Eram cinco seguranças contra nós dois, mas Olívia os driblou, acertando três deles.

— Você sabe que outros virão, não sabe? — ofegante, tentei enxergar onde os que sobravam estavam. E para a minha surpresa, os malditos também se esconderam, protegendo-se dos nossos tiros.

— Não quando tenho um plano B. — mostrou o celular e um tipo de GPS na tela informava que alguém estava a caminho.

— Como você pensou nisso tudo em pouco tempo de conversa com o Sr. Montês, Olívia?

— Monique me ensinou a não confiar em homens como esse senhor. Percebeu que ele não conversou comigo? Que sequer olhou em meus olhos? É nesse ponto que sabemos o quão arriscado é confiar em alguém assim. Sem falar que, por que diabos as provas do crime não chegaram até aqui antes de nós? — fazia sentido, muito sentido. — E se você perceber também, a casa não é movimentada com frequência. Não tem fotos de família, a piscina está fechada... — ouvimos vozes e então Olívia voltou a apontar a arma.

— Saiam imediatamente! Essa brincadeirinha acabou. — era a voz do velho. O maldito realmente nos enganou!

Olhamos receosos na direção do homem e ele estava em pé, encarando o lugar em que estávamos com ódio.

— Se ousar atentar contra nós, irá se arrepender amargamente! — Olívia gritou ameaçadora.

— Como posso atentar contra pessoas do meu interesse?

Olívia e eu nos encaramos perplexos.

— Interesse no que?

— Sei exatamente quem roubou vocês dois e o que peço em troca dessa informação não é nada para vocês.

— Não sei se podemos confiar em alguém que nos coloca em maus lençóis. — Olívia rapidamente disse, deixando-me sem palavras.

— Você não tem muitas escolhas, senhorita Ferrari. Sabemos que caso o container não apareça, a senhorita ficará em maus lençóis de qualquer maneira.

E deixando-me ainda mais nervoso, Olívia saiu do esconderijo. O que diabos essa mulher está fazendo? Sem escolhas, acompanhei ela sob os olhares atentos dos seguranças e do velho homem a nossa frente.

— Depois da morte de Enrico, um parente distante dele entrou com um processo de investigação sobre você. Ele está disposto a recorrer o testamento e arrancar toda a fortuna deixada para você e a filha de Enrico.

— Como sabe disso? — Olívia perguntou, estava desacreditada de tudo aquilo.

— Ora, acha que todo o meu dinheiro vem da gasolina? Sou melhor amigo e sócio do seu tio, bambina. Venha, vamos deixar essa situação caótica para trás, você precisa de mim, assim como preciso de você. — sorriu.

Caminhos QuebradosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora