Capítulo 45

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Olívia Miller

Beijar Henry Bianchi foi a pior loucura que cometi nesses últimos meses e agora estou aqui, completamente imóvel pensando no acontecido. Onde eu estava com a minha cabeça? Fazia tanto tempo desde o nosso último beijo, não podia ter acontecido! Somos comprometidos e o pior inimigos decretados. Sentindo todo o caos proporcionado por um simples beijo, enchi uma banheira e me joguei dentro.

Romeu voltará da Inglaterra nos próximos dias e eu não podia recebê-lo dessa forma, era injusto e nojento, ele não merecia! Não sei por quanto tempo fiquei na banheira, mas só acordei do meu transe de arrependimento quando Judite me avisou do jantar. Era a minha mais nova funcionária, que me ajudaria a cuidar da casa e dos afazeres, as outras iriam começar o trabalho amanhã, mas a doce senhora resolveu adiantar-se, chegando ao amanhecer do sol.

O jantar estava delicioso, porém solitário. Acabei deparando-me pela primeira vez com a solução e não gostei dos sentimentos negativos que ela me causou. A casa era grande demais e, apesar dos belíssimos móveis e objetos, ela parecia vazia, triste. Depois de terminar o jantar, peguei o meu carro e decidi passear pela cidade.

Contrariando todos os meus pensamentos, meu carro foi estacionado em frente à um pub da cidade. Fazia muito tempo que eu não curtia uma festa e agora me parecia a hora certa.

Deixei o carro no estacionamento e entrei. O lugar estava lotado de pessoas e a música eletrônica me fez despertar.

Pedi um drink ao barman e sentei juntamente de pessoas desconhecidas, que nem notaram a minha presença — o que me deixou contente. O som estridente, as risadas e danças fizeram-me lembrar da minha vida em NY. Eu não tinha dinheiro, roupas de grifes, sapatos e bolsas caras, mas tinha amigos verdadeiros, que me amavam do jeitinho que eu era. Infelizmente, a vida corrida que a família Ferrari trouxe não me permite visitá-los com frequência ou trazê-los para me fazerem companhia. Hoje foi um dia raro e talvez preciso para a minha saúde mental, que já estava abalada há meses depois da descoberta de uma nova e estranha família.

Passei umas três horas no pub e depois resolvi ir embora. Amanhã será um dia cheio e estressante, não preciso e nem quero uma ressaca terrível para me acompanhar.

Andando distraída até o estacionamento, não notei quando esbarrei em alguém. O cheiro doce do perfume de tal pessoa, fez com que meu nariz pinicasse e quase espirrei.

— Que coincidência. — era a voz de Alicia.

Ergui a sobrancelha intrigada por ela estar ali. Apesar de que, coincidências existem, mas não tão precisas como essa.

— Alicia, que honra vê-la aqui. — debochei, vendo-a ficar vermelha.

— Acho que esqueceu isso no apartamento do meu noivo. — pegou minha mão com certa agressividade e colocou um dos pares do brinco em que usei mais cedo.

Engoli seco ao ver a jóia e encarei os olhos azuis da mulher a minha frente. Era óbvio que ela estava me seguindo.

— É, isso realmente é meu. Obrigada!

— E você nem se dá o trabalho de negar. — forçou um sorriso. — Fique longe de Henry ou você vai se arrepender!

Em um movimento rápido, segurei o braço da mulher com força antes que ela pudesse sair.

— Não me ameaça! Não sou mais aquela bobinha que você levou para uma armadilha. — a loira ficou ainda mais branca. — Sim, eu sei de algumas coisas, querida. Mas não se preocupe, por enquanto o segredo está muito bem guardado.

— E o que me garante que não irá contar tudo para Henry? Você sempre o quis! Deve estar se roendo porque iremos nos casar. — o veneno escorria pelos seus lábios e o sorriso de vitória quase tomou conta deles, no entanto, algo maligno e vingativo apossou-se de mim.

— Eu não irei usar a minha boca para conta-lo sobre o seu segredinho pobre,  querida... Talvez eu use para outro tipo de coisa.

Bingo! A mulher parecia estar em chamas com a minha afronta e com raiva puxou seu braço, virando-se depressa e saindo ainda mais rápido dali.

Exausta, andei até o meu carro e ao sentar no banco respirei fundo. Se ela pensa que pode me atingir, está muito enganada! Meu celular começou a tocar, puxei-o do bolso e o nome "Henry" brilhou na tela. Quase o amaldiçoei por tanta coincidência envolvendo ele em uma noite só, mas atendi o telefonema.

"Olívia? Acordei você?"

"Não, eu... Estava lendo um livro. Notícias sobre o container?"

"Sim, sim! Pedi que fossem até uma das lojas próximas ao cais e que me trouxessem as gravações do dia em questão e pasmem... O container e a minha mercadoria foram levados pela mesma direção..."

"Ok, e qual conclusão você tirou disso?"

"Deixe-me terminar! Fui mais afundo nas investigações e descobri que na direção que nossas mercadorias foram, é a mesma direção de um posto de gasolina. Infelizmente, não consegui obter as gravações do local, entretanto, o dono ficou de nos ajudar, mas precisamos ir lá o quanto antes. Se possível, estou disposto a comparecer amanhã mesmo no lugar, o que acha?"

"Excelente! Conte comigo."

"Ótimo! Mandarei o horário por mensagens e... Olívia, sinto muito pelo acontecido de hoje mais cedo."

"Já está esquecido, Henry. Não precisamos lembrar"

"Ok."

Desliguei o telefone e parti o mais depressa possível para a minha residência. Ao chegar, cancelei todas as minhas reuniões do dia seguinte. Quanto antes esse assunto fosse resolvido, melhor!

Dormir foi uma tarefa difícil, mas quando finalmente consegui, meus ombros relaxaram e o pouco de sono que tive foi excelente. Pela manhã, acordei algum tempo antes do horário previsto para sair, tomei café — sozinha como sempre. Tomei um banho, me arrumei conforme a ocasião pedia e dispensei o almoço, não sabia que horas iria voltar para casa.

Henry estava me esperando próximo ao Coliseu, não foi muito difícil de acha-lo, visto que o homem estava cercado por seguranças e de terno em um calor surreal. Ele sorriu ao me ver e beijou delicadamente a minha mão, quase sorri também, mas me segurei.

— Sua noiva não vai atrás da gente? Ela é obcecada por você. — falei ao entrar em seu carro.

— Alicia está em uma reunião com os futuros sócios do ateliê dela, não atrapalhará nada. — entrou, porém no banco do motorista.

— Suas geladeiras de terno não irão nos acompanhar? — Henry riu.

— Não acho necessário, iremos fazer uma pequena viagem.

— Viagem? Você disse no telefone que iríamos à um posto de gasolina próximo ao cais. — lembrei, quase surtando com a possibilidade de uma viagem com Henry.

— E eu estava falando a verdade, senhorita. Porém, o posto de gasolina está fechado hoje por motivos pessoais do dono, que nos ofereceu ajuda, contanto que fôssemos na residência dele. É lá que estão as gravações do dia do roubo.

Ergui a sobrancelha totalmente incrédula com aquela informação. Quase me arrependi de ter vindo até aqui.

Caminhos QuebradosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora