Capítulo 41

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*GATILHO

Olívia Miller

A minha cabeça doía a ponto de fazer com que meu corpo inteiro estremecesse, era como se eu tivesse levado uma surra. Abri os olhos com dificuldade e notei que estava amarrada em uma cadeira, com uma mordaça na boca e em um local completamente escuro. Eu não me recordava sobre o que tinha me levado aquela situação, mas sabia que tinha algo a ver com Alícia, visto que ela foi a última pessoa com quem tive contato naquele carro.

Não sei por quantos dias permaneci ali ou se fizerem algo de muito ruim comigo - essa parte me desesperou. Chequei minhas roupas e notei que ainda estavam no lugar, agradeci mentalmente e comecei uma prece silenciosa para sair dali o quanto antes. Algum tempo depois, a única porta do lugar fora aberta, revelando um homem todo de preto com uma máscara da mesma cor na cabeça.

Ele começou a me desamarrar entre meus questionamentos e pedidos de socorro e me pegou com força, arrastando-me para fora do lugar em questão. A luz do dia cegou-me fortemente, fazendo com que minha cabeça doesse ainda mais. O desconhecido me levou até um carro e me jogou sem nenhuma delicadeza lá dentro.

Esperei pelo pior e desejei que as coisas terminassem bem. Eu não fazia ideia do que estava por vir, o desespero deixava-me chorosa e em alerta o tempo todo.

Mais algum tempo passou-se e o carro foi parado. Notei que estávamos em um deserto, precisamente próximo à Las Vegas. Reconheci aquele lugar, não era a primeira vez que eu estava ali.

A porta do veículo foi aberta e o mesmo homem me puxou com força para fora, notei que meus braços estavam roxos devido ao jeito com que ele me puxava. Olhei ao meu redor e respirei o ar fresco e quente daquela manhã ou tarde de Las Vegas. Antes que eu pudesse questionar qualquer coisa, percebi que havia outro carro logo a frente do que eu desci.

E em segundos alguém desceu do outro veículo e esse alguém para a minha surpresa tratava-se de Monique. Meus olhos encheram-se de lágrimas ao vê-la.

Tudo iria ficar bem.

- Vamos para a casa. - ela disse com os olhos marejados.

▪️▪️▪️

Fomos o caminho inteiro em silêncio. Estava com mil perguntas em mente, mas nada de concreto vinha para me ajudar. Eu estava cansada, com sede e fome, preocupada com o acontecido e com uma vontade imensa de ver Henry. Nós não fomos para o hotel como o esperado, muito pelo o contrário, estávamos à caminho do aeroporto.

- Monique? Para onde estamos indo?

- A viagem encerra aqui, bambina. Está na hora de voltarmos para casa.

O quê?

Não perguntei nada, permaneci quieta e amedrontada, tudo estava esquisito demais.

Nós fomos para uma pista distante do aeroporto, onde se encontrava um jatinho e dois seguranças esperando a gente. Fiquei com um pé atrás, parada olhando aquele jatinho, sem saber o que iria acontecer após minha entrada nele. Monique percebeu e me encarou.

- Nós vamos para a Itália e no caminho prometo explicar tudo o que está acontecendo. Agora me dê sua mão. - estendeu a dela, encorajando-me a fazer o mesmo. - Não existe mais Olívia Miller, você agora é uma Ferrari e se comportará como tal.

- Monique, eu não estou entendendo! E onde está Henry? Por que me levaram? - as lágrimas voltaram a cair, dessa vez com mais intensidade.

- Henry Bianchi é nosso inimigo. - disse, deixando-me com os olhos arregalados. - Esqueça-o! Ele não existe mais!

Henry Bianchi

O contrato foi assinado, mas não por livre espontânea vontade. Meu pai me apunhalou pelas costas, foi baixo o suficiente para conseguir o que queria e no processo me deixou ainda mais quebrado. Naquele momento, a última parte boa que existia dentro de mim havia morrido sem nem hesitar, já não tinha motivos para me comportar como um bom rapaz, um filho excelente e um futuro marido digno do amor de sua esposa. Henry Bianchi era uma peça simples de um tabuleiro maligno do próprio pai, a criança triste, rejeitada e com o sonho de ser amado morreu no exato momento em que assinei aquele maldito papel.

Giancarlo me olhava orgulhoso, enquanto no meu íntimo todas as coisas pesavam, caíam em um buraco negro. Ao redor ouviam-se gargalhadas, comemorações, mas em mim só se ouvia os batimentos cardíacos acelerados, o sentimento de tristeza profunda e uma dor no qual jamais havia sentido.

Fui apunhalado pelo o meu próprio pai.

Naquele mesmo dia, logo depois de arrumar as malas para voltar à Itália, Monique Ferrari adentrou a suíte onde eu fiquei pelos últimos meses. Ela me olhou com desaprovação, desprezo e raiva. Quase pude ver o descontentamento de Olívia em seus olhos pretos.

Não havia mais nada o que fazer, o que dizer ou o que tentar. Tudo estava perdido! Em três meses o noivado seria anunciado para a mídia, em seguida o casamento seria celebrado e o futuro de uma criança inocente decretado.

Lembrei de uma época que tentei suicido logo após a perda da minha virgindade. Tomei uma cartela de remédios com a intenção de morrer o mais rápido e menos doloroso o possível, mas não foi assim que aconteceu.

Pobre coitado! Era burro ao pensar que seria tão fácil livrar-se de um narcisista como Giancarlo.

Mas e se tivesse dado certo? Será que os abusos psicológicos durante toda a minha vida seriam amenizados depois da morte? A dor, a sensação de ser imponente diminuiria ao chegar no paraíso? Oh! Aquilo seria impossível de saber, pelo menos naquele momento, onde vi toda a minha vida cruel passar-se pelos meus olhos. Onde ouvi o grito de ajuda de Carmem ao me ver prostrado no chão frio daquele meu quarto escuro. Onde minha amada mãe só se importava com os noticiários desse "incidente" nos jornais. Onde o meu querido pai preferiu passar mais tempo em Las Vegas do que procurar saber como eu estava depois de uma tentativa frustada de suicido.

Era tão estranho pensar que sempre estive sozinho. E a única vez que tenho a possibilidade de ser amado verdadeiramente, perco tudo em um piscar de olhos.

Caminhos QuebradosWhere stories live. Discover now