Capítulo 26

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Henry Bianchi

"As asas do passarinho foram cortadas, mas ele ainda insiste em voar."

A mensagem enigmática que recebi há alguns dias não saía da minha cabeça. Não era muito difícil de se entender, porém a dúvida de quem era o remetente deixava a minha cabeça mais dolorida do que estava.
Há dias não dormia uma hora sequer, a mente embaralhada deixava-me em total conflito comigo mesmo. Ninguém sabia dessa mensagem e nem iriam saber, se ela foi enviada a mim, talvez o culpado fosse eu.

Conspirações contra os Bianchi eram frequentes graças a personalidade forte e nada agradável do meu pai. Ele coleciona muitos inimigos os quais desejavam sua cabeça como troféu constantemente, não sei até que ponto alguém tão sedento por vingança possa chegar, mas todos estávamos esperando pelo pior. Minha irmã caçula fora enviada a um lugar de difícil acesso, ela seria cercada por seguranças até a segunda ordem, não sabíamos com quem estávamos lidando e, se deram um golpe tão baixo ao levarem Matteo, consequentemente o próximo passo seria certeiro.

O sol estava forte naquele incio de tarde, quase não conseguia deixar as cortinas abertas pelos raios solares quentes e precisos. Deixei uma pasta cheia de papéis importantes relacionado à Matteo em uma mesinha pequena no centro da suíte, não havia nada, nenhuma pista sequer sobre o meu irmão.

Cogitei a possibilidade de contratar um detetive especializado em casos como esses, mas fiquei receoso de dar um tiro no próprio pé, afinal, alguém que consegue sequestrar o filho de um dos mafiosos mais conhecidos da Itália, era capaz de muita coisa e de ter muitas informações revelantes. Meu telefone vibrou e rapidamente o peguei, para a minha infelicidade era a mensagem da secretária do meu pai:

"O Sr. Bianchi voltou para a Itália. Ele pretende trabalhar o desaparecimento do Sr. Gali em sigilo absoluto."

Sigilo absoluto.

E não é que meu pai realmente esconde segredos cabeludos? Não me admira que ele saiba quem sequestrou Matteo, agora o sigilo absoluto deixou-me em alerta.

O terraço do hotel foi a minha escolha de lugar relaxante naquele dia ensolarado. Não estava com cabeça para ficar trancafiado naquela suíte, então me contentei com a vista deslumbrante de toda as Las Vegas e o ar fresco vindo dela. Passou-se exatos vinte minutos após minha chegada, quando uma mensagem de um número desconhecido chegou no meu telefone.

"O passarinho fugiu da gaiola, acredita-se que uma grande águia faminta está sedenta pela cabeça dele. Endereço: xxxx-xxx n°1044"

O quê?! Que droga de enigmas são esses? Pelo menos agora tenho um endereço concreto... Ou não. Novamente o telefone vibra, outra mensagem...

"Uma maleta com 200 mil dólares é o suficiente. Traga-na no endereço marcado, prometo devolver o passarinho sem nenhum arranhão... Talvez só um, ou dois... Não, não! Umas dezenas, mas pelo menos ele ainda canta."

Nervoso e com muita raiva, joguei o telefone no bolso e resolvi tirar aquela história a limpo. Mesmo com a paranóia de ser um trote, nada me importava mais do que resolver toda essa história.

Olívia andava impaciente de um lado para o outro. A mulher de cabelos lisos e negros estava odiando a ideia de estar em um deserto vazio comigo e pelo tanto de bufadas e reviradas de olhos, tive a total certeza de que ela me odiava. Mas que porra de culpa eu tinha dela ter entrado no meu carro? Eu estava prestes a sair da cidade e ir no endereço marcado da mensagem, inclusive com os 200 mil dólares pedidos no banco falso do carro. Não fazia ideia de que havia alguém me seguindo e que esse alguém queria me matar!

— Você pode parar de andar assim? Tá me deixando nervoso. — pedi calmamente e recebi o dedo do meio como resposta.

— Estamos em um deserto totalmente vazio e a culpa é exclusivamente sua! — parou de andar, cruzando os braços.

Era estranho pensar que alguém tão pequena pudesse ter tanta raiva. Esse questionamento me assombrava cada vez que eu pensava em Olívia.

— Queria ficar no meio do tiroteio e ser morta? Ok, desculpe por ter salvado a sua vida!

Ela abriu a boca totalmente zangada, fazendo-me segurar o riso. As bochechas levemente vermelhas e os olhos verdes brilhantes na escuridão do deserto deixavam-na mais linda do que normalmente era.

— Nós vamos ficar aqui por quanto tempo? Está fazendo frio! — abraçou o próprio corpo.

— Acho que já podemos voltar para Las Vegas. — olhei no relógio surpreso ao notar que já havia passado meia hora do ocorrido.

— Excelente! — abriu a porta do meu carro com certa força e entrou.

Dei a volta e sentei no banco do motorista, ligando o carro em seguida. Olívia me olhava discretamente, apreciando os detalhes do meu rosto. Seu rosto deu uma leve ruborizada quando sorri para ela.

— Desculpe por ter falado aquelas bobagens para você. Fui um tremendo idiota. - falei, me concentrado na estrada. Talvez por medo de dar de cara com um carro ou por medo de encara-la.

— Ainda bem que você sabe. — debochou, olhando para a janela do carro. — Não fiquei com você por dinheiro e nem menti para ganha-lo. Só precisava de um descanso da minha vida comum e complicada de Nova York.

— Tenho vontade de fazer a mesma coisa. - confessei sincero. Imagina puder ser outra pessoa por alguns dias? É um sonho!

Antes que Olívia respondesse, um carro preto estava estacionado bem no meio da estrada. Respirei fundo e segurei a arma na minha cintura com força, Olívia me olhou desconfiada e quase me xingou quando parei o carro.

Desci do automóvel pronto para saber de quem se tratava e notei um sorriso irônico do homem que estava parado. É, aquele era o remetente.

— Está ansioso para ver seu irmão? — sem medo ou qualquer sentimento que me impedisse, disparei um soco bem dado no rosto do homem. Ele tentou revidar, mas a violência que corria nas minhas veias não deixou.

Socos e mais socos forem disparados nele, o rosto estava totalmente roxo. O alívio por batê-lo era tão forte, que somente uma mão macia e pequena no meu ombro me fez parar.

— Já chega, Henry!

Como se o controle do meu corpo tivesse voltado, arregalei os olhos ao ver a cena deprimente das minhas mãos encharcadas de sangue. O cheiro de ferro do líquido vermelho deixou-me horrizado.

A fúria não machucou somente aquele homem, mas a mim também.

Caminhos QuebradosWhere stories live. Discover now