Capítulo 29

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Olívia Miller
Dois dias depois

O dia de irmos embora finalmente tinha chegado, Emily estava a todo vapor arrumando suas malas, já eu, bom estava desanimada e com o coração aflito. Depois que Henry falou sobre ficar em Las Vegas mal consegui pregar os olhos nas últimas noites de tanta ansiedade, até porque ele não tinha falado o motivo daquilo e tinha se fechado novamente.

— Você é a única que deu sorte nessa viagem. Arrumou um ricaço gato e agora vai morar aqui com ele. — Emily disse ao terminar sua última mala.

— Não vou morar aqui, Emily. Acredito que semana que vem estou em casa, pronta para voltar a minha vida normal. — era isso que eu tanto desejava.

— Credo, como você pode querer voltar? Estou surtando e nem peguei o vôo. — riu, sentando na cama cansada.

— Vou sentir sua falta. — confessei. Desde que nos conhecemos não passamos um dia sequer sem nos ver.

— Eu também, Oli. Agora me promete que vai se jogar nessa relação com o Sr. B? Você merece ter alguém, amiga.

Mereço? Ou talvez meu destino seja ficar sozinha? Henry mudava da água para o vinho e aquilo deixava-me confusa.

— Vou tentar, prometer já é demais! — joguei-me na cama e encarei o teto.

Emily deitou ao meu lado, abraçando-me carinhosamente como sempre fazia. Eu a amava, ela era minha melhor e única amiga! E, apesar das suas loucuras, ela faria falta.

***

O aeroporto estava lotado, quase não conseguimos transitar pelas pessoas, estavam tão apressadas e aborrecidas. Quando o vôo de Emily foi anunciado, minha melhor amiga me deu um abraço forte, quase sufocante.

— Por favor, dê um chá nesse homem! Precisamos de dinheiro. — brincou, rindo em seguida.

— Eu te amo. — falei, apertando-a mais forte.

— Eu te amo e já estou com saudades dos seus roncos à noite. — franzi a testa e ela riu alto.

— Eu não ronco! — ela assentiu e beijou minha testa.

— Até mais! — virou-se nervosa em direção ao seu destino.

Por mais que tentasse, Emily não aguentou a emoção e me olhou com lágrimas nos olhos. Detestavamos despedidas! Segurei o choro o quanto pude, mas infelizmente não sou tão forte assim e chorei com a partida dela.

Depois de um tempo, tomei coragem para voltar para o hotel e ao chegar no hall, deparo-me com Giancarlo Bianchi. O homem estava de cadeira de rodas e acompanhado por uma moça que deduzi ser enfermeira. Ele estava na recepção falando com Diana e assim que notou a minha presença fez questão de me chamar.

Receosa, caminhei com as mãos suando até o homem. Ele tinha um jeito estranho que me causava arrepios, o seu sorriso falso deixou-me enjoada.

— Aparentemente o destino está ao meu favor. Preciso conversar com você, bambina.

É óbvio que aquilo causou-me estranhamento, o que aquele homem poderia querer comigo? Ele falou em italiano com a enfermeira e me fez segui-lo até um escritório chique num lugar calmo do hotel. A enfermeira deixou-nos a sós e por um minuto desejei que se abrisse um buraco nos meus pés, aquela situação era desagradável.

— O senhor deseja me caluniar novamente? — as palavras praticamente saíram da minha boca.

Giancarlo sorriu.

— Não, não. Estou sabendo que uma Ferrari está transitando no meu hotel. — não entendi muito bem e então ele continuou. — Monique é uma mulher ambiciosa, tem tudo que deseja nas mãos, mas não estou morto para deixá-la aqui, principalmente com a ordem do meu filho idiota.

— Bom, não sei se tenho alguma coisa a ver com isso e...

— Não se faça de sonsa, é óbvio que sabe do que estou falando e tem tudo a ver com você, querida!

Cruzei os braços, aproximando-me dele. Era mais um jogo? Um tipo de brincadeira para me humilhar mais?

— Talvez eu saiba. — entrei no jogo, não vou me sair por baixo! — Deve ser por isso que está aqui. — coloquei as mãos na mesa onde ele se encontrava, encarando-o como um leão pronto para dar o bote.

— Eu realmente acreditei na sua inocência, mas sei que um Miller é capaz de tudo. No entanto, seus planos estão acabados, amore mio! Se está querendo vingança...

O quê?!

— Ah, que bom que sabe! Não tenho medo algum do senhor. — ele assentiu em um semblante irritante de deboche.

— E usou o meu filho para chegar até a mim, bravíssimo! Onde Monique entra nessa história toda? Ela sequestrou Matteo a mando do pai? Que baixo! — e em um movimento rápido, Giancarlo tirou uma arma de algum lugar da mesa, apontando diretamente pra mim.

— O-o que pensa que está fazendo? Vai me matar aqui, agora? Ainda fala que somos baixos? — oh céus, preciso calar minha boca!

— Quero Matteo no hotel até o final do dia ou você irá morrer como o seu pai morreu! Estou dizendo, querida, nada me enfurece mais quando se trata da vida dos meus filhos! — e um banho de água fria fora me dado aí ouvir aquilo.

— Você matou o meu pai? — minhas mãos começaram a tremer e lágrimas de horror derramaram-se no meu rosto.

— Ah, você não sabia da história? — riu diabólico. — Vincent era o meu melhor amigo, praticamente um irmão para mim! Ele me traiu de maneira cruel, sem nenhum tipo de consideração! — havia mágoa em sua voz.

— V-você não tinha o direito de matar o meu pai! Seu demônio! — acabei esbravejando, sentindo um ódio maior do que tudo dentro de mim.

Giancarlo fez um barulho estranho na arma, deixando-me em alerta.

— Ele tinha um caso com a minha esposa, sua vagabunda burra! Passaram anos juntos, transando debaixo do meu teto! Como não poderia matá-lo? Como alguém que dizia ser meu melhor amigo podesse cometer tamanha crueldade? Eu sempre estive ao lado dele, ajudando, cuidando para nada de ruim acontecê-lo por causa do maldito Ferrari e ele me trai? Agora você está seguindo os passos do seu pai e vai acabar numa cova justamente por isso!

E então tive uma breve lembrança.

Quinze anos antes...

Por que você fez isso, Vincent? Como pôde destruir nossa família assim? - Jenna soluçava de tamanho horror ao descobrir o caso do seu marido e de sua amiga.

— E-eu não sei, querida! Por favor, me perdoe! Juro que foi tudo um erro e não será mais cometido, estou arrependido e disposto a refazer nossa família! Pense bem, principalmente na nossa pequena, ela não merece viver longe do pai...

— Ele vai matar você. — Jenna disse desesperada. Se Giancarlo soubesse da traição, Vincent seria morto e a vida dela acabaria.

Na escada, encolhida, a pequena Olívia escutava tudo aquilo amedrontada. Sabia que alguma coisa de ruim estava acontecendo e não estava preparada emocionalmente para o que ia acontecer.

E anos depois, Olívia provaria que estava certa. A ruína de sua família era uma certeza que ela carregava, principalmente depois da morte de sua querida mãe.

Caminhos QuebradosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora