Capítulo 79

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Olívia Miller

O velório de Emily foi feito da forma que ela merecia, cheio de flores e palavras de conforto. Eu não acreditava na morte dela, na verdade, não queria acreditar. No primeiro momento, a negação me pegou, quis acreditar que tudo não passava de um engano, mas depois veio o choque de realidade e eu me desesperei. Enquanto o caixão era colocado na cova, tirei o bilhete do sorteio do bolso - por incrível que pareça, antes de sair de casa acabei o achando em meu porta-joias. Eu o levava sempre comigo, pois foi por causa dele que vivi tudo o que estou vivendo agora.

Estava um pouco amassado por conta do tempo, mas ainda continha as informações do sorteio e os nossos nomes escritos nele. Com muita dor no peito, joguei o bilhete na cova juntamente do caixão e agradeci mentalmente pelos bons momentos que passei com ela naquela viagem. O destino tinha sido cruel em dose duplas, primeiro Adam e agora Emily, tudo que me vinha era a criança órfã de pais, o mesmo que aconteceu comigo há muitos anos.

- Eu sinto muito, amor. - Henry disse me abraçando.

- Perdemos nossos melhores amigos, Henry. - o apertei com todas as minhas forças.

Não tivemos palavras para falar um para o outro, o som dos nossos choros se misturaram e falaram por si só. Estávamos de corações partidos e com um buraco imenso no peito. Era cruel a forma que tudo se desenrolou.

Avistei Monique, ainda de resguardo, descer do seu carro e aproximar-se de nós. Ela me abraçou, desejou seus pêsames e jogou uma flor vermelha na cova. Apesar da tristeza, eu estava aliviada pelo regaste de Luigi, ao menos ele se salvou.

Um carro havia chegado e dele desceram; Josh, Mary e uma garotinha pequena. Como doeu vê-la, ela se parecia tanto com Emily. Os três vieram ao meu encontro e Josh chorou em meu colo, se culpando por tudo o que aconteceu, o confortei da melhor maneira possível.

- Essa é Sophia. - ele disse ao me apresentar a garotinha. Ela era idêntica a Emily, até mesmo o olhar firme que ela tinha.

- Sophia... - segurei sua mãozinha e a beijei com carinho.

- Olívia, preciso falar com você, mas a sós. - Mary disse e eu assenti.

Ela estava abatida, os olhos inchados e bastante pálida. Logo após o sepultamento, levei os três para a minha casa. Monique se trancou no quarto e Henry nos deixou sozinhos, como forma de respeito por tudo o que estava acontecendo.

A pequena Sophia ficou aos cuidados de Grace, minha funcionária. Ela a levou para a cozinha e assim ficamos eu, Josh e Mary.

- Não sei se Josh a contou, mas estou passando por alguns problemas de saúde. - ela começou.

- Sim, já estou sabendo. Quero ajudá-la com o que for necessário para a sua saúde e para a criação de Sophia...

- Eu fico grata, mas... Não é sobre isso que quero falar.

- Escute ela, Oli. - Josh pediu.

- Eu estou com um câncer avançado, venho passando por problemas sérios por conte da minha idade. Já não tenho mais forças para cuidar de um bebê... - fungou, ela estava chorando. - Como sabe, não temos família, perdemos muitas pessoas e criei Emily sozinha até sua maioridade. Eu aceitei cuidar do bebê assim que ele nasceu, mas logo em seguida descobri a doença já em estado avançado. Tentei o tratamento, mas não está funcionando... Não consigo mais cuidar dela, Oli. - limpou o rosto. - Principalmente agora com a morte de Emily, estou devastada.

- Eu também. - confessei, aquela perca estava acabando comigo por dentro.

- Então... Eu venho aqui, pedir que fique com ela... Sophia precisa de cuidados assim como qualquer outro bebê e-e eu não tenho muito tempo de vida. Por favor, eu assino toda a papelada e passo a guarda para você.

Aquilo me assustou, deixando-me em choque. Eu não sabia o que falar, era informação demais. Não sei se consigo cuidar de um bebê...

- Olívia, faça isso por Emily. Eu não fico, pois como sabe, a minha situação não é nada boa. - Josh disse, porém sua voz saiu como oco na minha cabeça.

🔸🔸🔸

- Meu amor. - Henry disse ao abrir a porta do meu quarto. - Você já comeu alguma coisa? - andou até a mim e sentou na beirada da cama.

- Henry, preciso te contar uma coisa.

- O quê?

- É algo que pode mudar nossas vidas, mas estou ciente disso e não abro mão. - levantei da cama e o encarei.

- Me diga, o que aconteceu? - cruzou os braços.

- E-eu entrei com um processo de adoção. - ele me olhou incrédulo. - Mary vai passar a guardar de Sophia para mim.

Henry ficou em silêncio, parecia não saber o que dizer. Fiquei com medo da sua reação, mas eu estava disposta a adotar Sophia.

- Sei que parece um absurdo, você pode não querer continuar comigo e eu entendo! Mas... - parei de falar ao vê-lo se ajoelhar. - O que está fazendo?

- Case comigo. - falou. Meu estômago revirou de nervosismo.

- O quê?! Como assim? - sorri de nervoso.

- Eu estou dando um nome para a nossa relação, assim como falei. - sorriu. - Quero que case comigo, se torne a minha esposa, o amor da minha vida.

- E Sophia? Você ouviu o que eu falei? - ele levantou-se do chão e me puxou pela cintura.

- Eu cuidarei dela com você. - selou nossos lábios. - E então?

- Eu caso. - sorri.

Começamos um beijo calmo, apaixonado e pela primeira vez naquele dia, feliz. Fomos interrompidos pelo toque irritante do meu celular, infelizmente.

- Não atende. - ele pediu manhoso, depositando vários beijos em todo o meu pescoço.

- Eu preciso. - com dificuldade, me soltei de seus braços e ouvi uma bufada frustada do meu noivo.

Olhei na tela do celular e o nome "Adriana" brilhava no visor. Atendi imediatamente.

"Adriana? Oi?"

"Olívia! Ainda bem que você atendeu... Adivinha?"

"O quê? Fale, já estou nervosa"

"A justiça recebeu provas que incriminam o juíz Xavier. Ele foi preso agora pela manhã, recorri com o seu caso e o processo foi passado para outro juíz. A audiência está marcada em duas semanas"

"Meu Deus! E-eu não acredito! Quem denunciou?"

"Uma denuncia anônima, com um dociê completo de crimes cometidos pelo juiz. O meu palpite foi Rosa! Ela saiu da cidade há dias."

"Caramba! Obrigada, Adriana. Inclusive, preciso que entre com um processo de adoção para mim"

"Excelente"

Ao desligar o celular, corri em direção de Henry e o enchi de beijos. Finalmente Rafael iria cair do cavalo como merecia.

Caminhos QuebradosWhere stories live. Discover now