Confissões dolorosas: 3

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O dia anterior parecia haver passado em um piscar de olhos e agora uma nova, iluminada e agitada manhã iniciara por São Paulo. As assessorias de campanha vagavam de um lado a outro marcando e remarcando compromissos de seus respectivos candidatos tentando encaixar a programação de suas agendas e fazer o máximo de campanha possível nessa reta final.

A notícia do atentado a vida da candidata Simone Tebet do MDB se espalhara rapidamente pelos veículos de comunicações gerando grande comoção do povo e preocupação nos adversários políticos. As notícias vinham acompanhadas do ato heroico do candidato Ciro Gomes, em se arriscar salvando a vida da adversária política, e de que o mesmo em decorrência disso havia ficado algumas horas internados. O burburinho em frente aos hotéis que Simone e Ciro se hospedavam estava enorme já que muitos jornalistas queriam conseguir alguns minutos com eles para obter mais detalhes do ocorrido.

Simone acordara mais tarde do que acostumava acordar, desde o início da campanha, sentindo o corpo, todavia, dolorido e cansado, estranhou que ainda não tivesse sido chamada pelos assessores. Ao levantar-se sua cabeça pesava e uma dor de cabeça alertava que ficaria forte em breve, respirando fundo a senadora levantou-se e procurou as medicações que o médico receitara nada a impediria de cumprir com sua agenda. Após um rápido banho a mesma sentou-se a pequena mesa que tinha no quarto do hotel apoiou os cotovelos na superfície da mesa e passou a massagear lentamente as têmporas com as pontas dos dedos esperando que a medicação fizesse efeito.

Queria fugir daquele lugar e ir em busca de quem naquele momento lhe traria calma, só havia uma pessoa que a levaria a outro universo sem dar um passo sequer. Pensar que precisaria conversar com Eduardo seriamente sobre o turbilhão de confusão que estava seu coração a angustiava mais, o que lhe dava a certeza de que aquela dor de cabeça não passaria tão facilmente.

- Você está se sentindo mal, querida? - Perguntou Eduardo adentrando o quarto com uma bandeja - Posso pedir que chamem algum profissional para te examinar - Sugeriu com preocupação colocando a bandeja na mesa e se ajoelhando ao lado da morena que recém erguia a cabeça para encará-lo com um olhar firme.

- Só estou com um pouco de dor de cabeça, mas já me mediquei - Disse com a voz fraca - Não irei atrasar mais meus compromissos - Afirmou acariciando a mão dele que repousara em sua coxa.

- Você não consegue relaxar mesmo - Comentou o homem com um sorriso sarcástico - Aceitaria descansar se fosse o Ciro pedindo?! - Destilando veneno em sua frase, Eduardo deixou que escapasse um pouco de sua raiva pelo que ouvira da ligação de sua esposa com a mãe.

- O que está insinuando com isso, Eduardo? - Pediu a mulher com indignação.

- Nada... Eu só estou preocupado, Simone - Engolindo em seco ele se levantou - Como está seu braço? - Perguntou tentando desviar o assunto enquanto aproximava a bandeja de sua mulher.

- Meu braço está melhor - Simone estreitou seu olhar desconfiada de que Eduardo tenha escutado sua ligação - Se você está incomodado com algo a única forma de resolvermos é com diálogo - Ela se levantou, se aproximou dele até que seus corpos estivessem em contato e esfregou os braços dele calmamente com suas mãos - Olhe nos meus olhos e diga o que está sentindo - Exigiu sem desviar seu olhar do dele.

- É o estresse, meu amor! Não estou dizendo coisa com coisa - Tentou parecer convicto do que dizia a sua mulher, colocando as mãos no rosto da mesma com carinho e depositando um terno beijo em seus lábios - Agora, por favor, coma o café da manhã que te trouxe. Se não posso te convencer a descansar ao menos quero que esteja alimentada para enfrentar esse dia - Esboçou um sorriso divertido e a sentiu relaxar.

Salve-me do caosWhere stories live. Discover now