Não se afaste de mim: 8

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O sol irradiava naquela manhã fria de segunda-feira dissipando as nuvens pesadas e cinzas da noite anterior, o asfalto molhado evidenciando que uma chuva densa caíra ali toda a noite. Era um dia com ventania amena e de pouco movimento em decorrência dos acontecimentos no dia anterior.

A imprensa fazia plantão do lado de fora do hospital em que Simone estava internada, todos os noticiários queriam novas informações do atentado e do estado que a senadora se encontrava naquele momento. Sites sensacionalistas lançavam manchetes maldosas tentando ligar o atentado ao suposto caso entre os dois ex-candidatos a presidência e que poderia ser uma vingança de seus cônjuges. Os advogados e assessores de ambos trabalhavam furtivamente para não permitir muitas fakes envoltas de uma situação tão delicada, providenciando respostas diretas aos canais de notícias sobre o que já sabiam e evitando que os jornalistas não sufocassem os envolvidos e suas famílias em um momento crítico e estressante o suficiente.

Maria Fernanda e Maria Eduarda fizeram o exame de compatibilidade para poder doar sangue a mãe, que já havia usado uma parte do estoque do próprio hospital durante a cirurgia para retirada do projétil, que necessitava de transfusão sanguínea já que a mesma perdera muito sangue com o ferimento da bala lhe causando uma séria hemorragia. Ambas estavam apitas para doação e se sentiram aliviadas em saber que seriam úteis para sua mãe naquele momento de horror que viviam.

As duas garotas ficaram satisfeitas quando Ciro não retornou durante a madrugada, mas a preocupação só aumentava com as horas que sua mãe passava em uma mesa de cirurgia. Sentiam que morreriam de angústia e ansiedade quando sempre que buscavam notícias apenas eram informadas que a cirurgia continuava, mas sequer diziam o estado de sua mãe enquanto isso e seus corações apertavam insuportavelmente em seus peitos. Ambas as jovens estavam sentadas na sala de espera cada uma descansando a cabeça em ambos os ombros da avó que parecia que a qualquer momento levantaria e irromperia pelas portas da ala cirúrgica para procurar sua filha. As netas da matriarca Tebet podiam sentir a tensão e medo de sua avó que tentava reunir forças para consolá-las e se consolar, a ouviam rezar baixinho com os olhos fechados implorando pela vida de sua filha e as lágrimas desciam silenciosas e cortantes por seu rosto pálido e aflito.

Eduardo havia dobrado as mangas de sua camisa social na tentativa de se sentir mais confortável naquele lugar tão claustrofóbico. O homem andava de um lado a outro sentindo a garganta fechar e o peito doer a medida que as horas se passavam e não recebiam uma notícia de Simone. Apesar de entender que a senadora já seria sua ex-mulher seu amor não mudara por ela e seu mundo parecia ser rasgado dolorosa e cruelmente só em cogitar perdê-la dessa maneira, ver suas filhas chorosas e aflitas tornava aquele pensamento ainda mais insuportável. As filhas dela, as filhas dos dois, necessitavam de sua mãe, todavia, e ele sabia que elas jamais se perdoariam se a última vez em que viram Simone fora em uma discussão cheia de raiva e desprezo. Eduardo queria poder voltar no tempo e nunca ter a deixado sair daquela casa no meio de uma noite nublada e perigosa.

Ciro adentrou o hospital sentindo uma enxaqueca se iniciar em volta de seus olhos. Passara a madrugada toda perambulando desolado pelas ruas sentindo a chuva enxarcar suas roupas, desejando poder tirar Simone daquela situação. Os agentes que outrora deixara para trás no aeroporto o encontraram e lhe ofereceram carona até algum hotel, entregaram ao mesmo sua mochila com seus pertences, que o mesmo havia deixado no chão do aeroporto, e tentaram lhe convencer a prestar um depoimento e os acompanhar até uma delegacia para que pudessem explicar tudo que havia acontecido, mas Ciro pediu que o deixasse descansar o que os mesmos respeitaram e avisaram que lhe procurariam no outro dia. Quando o ex-governador se instalou em um hotel, pelos arredores do hospital, tomou um banho e trocou sua roupa ensanguentada e molhada da chuva. Durante o que restou da noite o grisalho não pregou os olhos apenas contando os minutos para voltar aquele hospital e ficar ao lado da mulher que amava, sentado ao chão ao pé da cama ele tinha seus cotovelos descansados em seus joelhos e a cabeça entre as mãos não conseguindo esquecer o rosto com uma palidez estranhamente acentuada da senadora e o sangue fluindo assustadoramente de seu corpo. Recordara o calor dos lábios dela tocando os seus sedentos por um beijo apaixonado e logo depois o som ensurdecedor de um disparo e o olhar cheio de agonia e pavor da morena o encarando.

Salve-me do caosTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang