Parto parte III: 62

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Ciro observou, mais uma vez impotente, sentindo-se inútil com a vida da mulher que tanto amava se esvaindo naquele lugar. Vislumbrou estarrecido seu último fôlego de vida, ela o olhou uma última vez e lhe dedicou todos os sentimentos apenas com seu olhar, tentou usar o que lhe restava de forças para dizer algo que jamais deixou sua boca. Ele sentia que o mundo estava desmoronando ao seu redor, que aquela sala se apequenava, que ali tudo pelo que lutaram era perdido. Se questionava se aquilo era um castigo, se estava pagando por todos os erros, quase não podia respirar e o coração batia tão forte e alto quanto àquela máquina segundos atrás. Tudo parecia mais frio, e apesar do quão congelado estava seu corpo no mesmo lugar o mundo a volta continuava apressado, os profissionais estavam frenéticos em cima da paciente sem vida, uma máscara de oxigênio colocada na mesma rapidamente e agora o desfibrilador fazendo seu papel, a doutora incansável tentando a trazer de volta. O que era dito pelos enfermeiros e médicos ali parecia um eco distante e insignificante aos ouvidos do homem parado e destruído.

Ele enfim se moveu sentindo a pele estremecer a cada passo, tentou alcançar sua mulher, queria a trazer em seus braços e rogar que retornasse para ele, para seus filhos que mal a conheceram, eles necessitavam dela... Ele precisava de seu amor como o ar que respirava. Queria ouvir sua voz, queria olhar em seus olhos, implorava para sentir o calor de um corpo que agora era assustadoramente frio, e então antes mesmo que conseguisse a tocar, sentindo apenas a gélida pele de seu braço na ponta dos dedos, enfermeiros o retiraram daquela sala. Pediam que deixasse a sala, que se acalmasse, enquanto o carregavam à força para fora. A última coisa que Ciro ouviu naquela sala foi o zunir da máquina, reforçando a parada cardíaca da mulher, enquanto a voz da médica soava alta e angustiada orientando a potência do desfibrilador.

- Me deixem ficar com a minha mulher! - Gritou, tentou retornar, e apenas foi barrado na porta que se fechara para ele.

- Se controle senhor! Precisamos reanimar a paciente e o senhor não pode se aproximar - Reforçou um enfermeiro cansado.

- Eu preciso estar com ela! - Continuou, a voz rouca e desesperada, os olhos vermelhos por lágrimas.

- Fique aqui e deixe que façamos nosso trabalho! - Outro enfermeiro o rebateu - Se ficar lá só irá atrapalhar.

Ciro fora deixado sozinho naquele corredor vazio, frio e melancólico, o silêncio ensurdecedor tornando sua mente extremamente barulhenta. Andando de um lado a outro, querendo passar por aquelas portas, passando mãos trêmulas pela cabeça em completa agonia. Encostando as costas na parede em frente a porta, o coração estourando no peito, a visão turva com sua cabeça girando e a têmpora latejando. Caindo lentamente ao chão, as lágrimas caindo copiosas dos olhos, os soluços engasgados, as mãos na cabeça, os cotovelos nos joelhos e as pernas recolhidas. Retirou a toca e a jogou forte ao chão, chorou com agonia e pavor, repassava em sua mente todas as vezes que a mulher o implorou para que cuidasse de seus filhos, as vezes que sentiu medo em não resistir ao parto e os momentos em que ele apenas se negou a acreditar nisso. Todas as declarações, os momentos de amor, a espera de seus filhos, nada parecia mais fazer sentido e tudo doía profundamente em pensar ou lembrar. Seu coração estava sendo arrancado cruel e lentamente do peito.

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"- Já não quero me distanciar de você, não quero mais esconder tudo o que sinto e não quero mais achar que o que sentimos é errado - Assumiu Ciro passando as costas de sua mão pela bochecha da morena enquanto seu braço rodeava a cintura dela - Estar ao seu lado é o que mais desejo, por você estou disposto a esperar o tempo que for e provar a veracidade dos meus sentimentos em cada atitude e em cada gesto. Eu não me arrependo de nada, te conhecer iluminou meus dias e estou aqui para mostrar que meu corpo e meus sentimentos estão entregues a você."

Salve-me do caosWhere stories live. Discover now