Mal presságio: 59

151 11 127
                                    


As semanas após o diagnóstico passaram como em um piscar de olhos. A gestante estava a um passo de seu oitavo mês, a barriga crescia cada vez mais, o peso aumentava, o desenvolvimento dos bebês avançava acompanhado de perto pela obstetra e a tristeza e temor que encontrara um lugar para fazer raízes se alastrou no coração e mente da mulher que carregava aquelas vidas com tudo que era e tinha.

A cada nova consulta, a cada medicação regularmente tomada, a cada novo ultrassom e a cada nova manhã com, todavia, seus filhos crescendo saudáveis em seu ventre a mulher agradecia aos céus tudo parecer ir bem apesar de não estar bem. Afastada do trabalho para manter-se estável até o nascimento a mesma sentia que os dias passavam mais lentamente, havia muito tempo para que repassasse em sua mente tudo que a atormentava, com isso manteve uma tentativa de ocupar sua mente com leitura, as vezes assistia algo, analisava alguns documentos do ministério, aceitava fazer algumas caminhadas acompanhada do amado. Porém nada levava embora a angústia que todos os pesadelos que a rodeava causavam em seu corpo. Sentada na poltrona de amamentação, os olhos paralisados no guarda-roupa quase vazio, um dedo aos lábios, uma mão acariciando a barriga distraidamente, respiração profunda ecoando pelo ambiente e os olhos fechando-se em culpa e pesar. Engolindo em seco o ímpeto por chorar a mulher deixou que o temor de não estar ali dominasse toda sua estrutura e a estremecesse completamente. Visão borrada de lágrimas amargas não derramadas, os berços ocupando seus olhos, ela os imaginou pequenos e adormecidos ali, e a cabeça foi jogada para trás na poltrona como em rendição e derrota.

- Eu amo vocês - Afirmou, sozinha no quarto, para sua barriga - Amo vocês profundamente, amo com tudo que sou... Se eu não estiver aqui para os ver crescer, e saibam que eu adoraria isso mais do que poderiam imaginar, por favor não me esqueçam... Não esqueçam do amor que tenho por vocês e tenho certeza que de qualquer lugar que eu venha a estar, meu coração estará os acompanhando a cada pequeno e lindo passo - A voz embargou, as mãos cobriram o rosto e as lágrimas lhe deixaram dolorosamente.

__________________

Ciro havia saído para buscar Gael na escola, todo o tempo atento em seu celular caso a amada necessitasse de seu retorno mais rápido, após mandar o filho para um banho o homem buscou preocupado pela morena que parecia não estar na casa de tão silenciosa e vazia. Vendo a porta do quarto dos gêmeos entreaberta e o quarto iluminado o mesmo soltou um suspiro de alívio e adentrou cautelosamente. Encontrou uma Simone chorosa na poltrona, a mão apoiada na cabeça enquanto os ombros tremiam, escutava as fungadas e viu as tentativas de enxugar as lágrimas com um lencinho. Rasgava seu coração a ver naquele estado tão frágil, perceber que a mulher perdia peso com os enjoos mais fortes e a falta de apetite que acompanhava sua tristeza, ela se esforçava em manter seus filhos e dar tudo de si para parecer melhor, mas ele sabia que não era assim e desejava poder fazer algo para solucionar aquilo. Se aproximando da mesma, sentando no braço da poltrona e tirando os fios de cabelo do rosto dela, ele apenas a trouxe em um abraço caloroso e a sentiu retribuir carinhosamente.

- Minha vida, se tiver algo que eu possa fazer... - Engoliu em seco, acariciando os cabelos sedosos.

- Eu estou bem - Sequer a própria acreditava no que pronunciou - Ou, bem, vou ficar - Fungou - Seu abraço já está de bom tamanho.

- Vou preparar o jantar... Meus pimpolhos tem algum desejo especial? - Questionou, quando a percebeu mais tranquila.

- Não estou com muito apetite - Fez uma careta.

- Você precisa comer, meu amor - Sua voz soava preocupação.

- Eu sei, eu sei - Uma respiração frustrada lhe escapou.

Salve-me do caosTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon