Necessitam de sua mãe: 63

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Ciro fora convencido a deixar o hospital para trocar de roupa e tomar um banho, o que o mesmo fez com relutância. Sequer se demorou, voltando rapidamente ao ambiente do qual sentia que sempre faria parte de suas vidas. O hospital estava silencioso, frio, o ar estéril pesando ao derredor. Ele caminhou abatido para ver seus filhos, um sorriso aguado permeando suas feições, eles dormiam e o mesmo se resignou a tocar suas bochechas rosadas cuidadosamente com o polegar e desejar um "bom dia, pimpolhos". Mesmo em um sono sereno eles lembravam a mãe, aos olhos do grisalho, mantendo a mesma expressão que ela quando dormia entre seus braços, com aquele pensamento um suspiro longo lhe escapou junto a uma lágrima solitária descendo pela bochecha pálida. Respirou fundo para se recompor e sorriu quando Sofia agarrou seu dedo com força, trazendo para perto de si, os olhinhos ainda fechados e um biquinho formado. Ele abriu um largo e emocionado sorriso, acariciando os cabelos escuros dela.


- O papai vai ver seu irmão e a mamãe... Mas já, já tá de volta, moreninha - Falou baixinho, não querendo desperta-la, sabia o berreiro que ela abria para que ele não saísse de lá - Cuide bem do seu irmãozinho - Pediu, com um olhar terno agora voltado para o pequeno com as mãozinhas próximas ao rosto, tocou-lhe a roupinha que usava e respirou fundo desejando que tudo estivesse ocorrendo de maneira mais leve.

Deixando o lugar com cautela, após deixar um doce beijo no topo da cabeça dos gêmeos, ele se dirigiu ao quarto de Gael. Naquele momento os filhos estavam sendo seu maior alicerce para continuar de pé, as esperanças de que tudo pudesse voltar ao seu eixo bradava em seu peito cultivando suas forças, o loiro dormia enquanto Fairte ficara atenta ao seu lado, acariciando lhe ternamente os cabelos, com um esmero zelo pelo menino. Com a chegada dela as filhas da Tebet deixaram o hospital para descansarem um pouco prometendo estar de volta logo e se certificando de que as deixassem avisadas com qualquer novidade. Ciro tocou o ombro da sogra e sentiu a mão dela segurar a sua com certo consolo, um olhar compreensível e um sorriso empático o recebendo.

- Bom dia, meu genro – Cumprimentou, os olhos inchados evidenciando seu choro poucas horas atrás, se afastando de Gael para não o acordar.

- Bom dia, dona Fairte – Esboçou um singelo sorriso.

- Como estão meus netos? – Indagou, ansiosa em poder os ter nos braços.

- Estão bem. Dormindo agora, são tão lindos, tão a cópia da mãe deles – Seus olhos encheram de lagrimas e limpou a garganta na tentativa de evitar chorar.

- As meninas me mandaram uma foto deles e aquelas duas coisinhas preciosas já tem todo meu coração – Suspirou – Quando as meninas voltarem irei ver eles.

- Se quiser eu fico aqui com o Gael pra você ir lá – Sugeriu, se aproximando do filho que ainda dormia.

- Não precisa, eu espero você ir ver minha filha – Tocou o braço dele – Deixe-a saber que estamos todos esperando por ela e cuidando dos pequenos dela.

- Pode ter certeza de que a farei saber disso – Recebeu um abraço grato da mais velha.

- Cuida direitinho dela, Ciro – Pediu, o coração pesando, se afastando do mesmo – Manda meu abraço pra ela.

- É claro – Apertou as mãos dela e então caminhou até Gael, deixando um beijo em sua testa – Te deixo sobre os cuidados da dona Fairte, filhão.

- A vovó vai cuidar bem dele, vai tranquilo Ciro – Deu suaves tapinhas nas costas dele.

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Chegando naquela UTI, o homem sentia o sentimento amargo da derrota o atingir outra vez, sua única vontade era poder trocar de lugar com ela e lhe arrancar aquele sofrimento o qual fora pressentido pela mesma. Parando ao pé da cama que ela estava, todavia, inerte e ligada em tantos pontos e máquinas que lhe sufocava olhar. Os sons dos batimentos traziam uma angústia profunda, como se a qualquer momento fossem parar outra vez, o som do respirador torcendo seu estômago e evidenciando a fragilidade da vida. Ele respirou fundo, tocou os pés dela embaixo do grosso lençol, e baixou sua cabeça, tentava recordar a terna imagem de seus filhos dormindo em uma tranquilidade invejável. Ver os frutos de seu amor o levava as nuvens e ver a mulher que amava com todo seu corpo naquele estado arrancava-lhe o chão. 

Salve-me do caosWhere stories live. Discover now