Em família: 18

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Em algum lugar distante da civilização e da movimentação corriqueira da cidade, um barraco insalubre e sufocante se escondia em um matagal mal-cuidado. Um homem encasacado se sentara a uma cadeira velha, de madeira mofada, tomando uma cerveja rodeado por várias latinhas vazias e amassadas pelo chão úmido. O desconhecido se inclinara sobre a pequena mesa enferrujada do lugar e parecera ponderar algo com rosto obscurecido pelo capuz escondendo sua expressão severa. Alguns materiais estavam espalhados com desleixo pelo local mal iluminado, cordas, galões de gasolina, alguns tecidos velhos e sacos faziam a composição do que havia ali. O homem ajeitara sua pistola ao cós da calça e sorria prepotente com o brilho do revólver, com olhos maldosos ele voltara a encarar o celular pequeno a mesa, a tela do aparelho estava aberta em uma mensagem curta e objetiva tendo logo abaixo uma foto de um grisalho sorridente acenando para algumas pessoas em alguma movimentação no período de campanha eleitoral.

"Cumpra a execução e saía do país com o valor que mandaremos após efetivada sua missão. Não aceitaremos falha!"

- Não sou um imbecil feito o outro! - Exclamou com uma voz arrastada se gabando para o nada do lugar.

O homem taciturno sorriu com perversão e voltou a beber sua cerveja com gana por cumprir o que havia sido mandado. Enxugando a boca úmida na manga de seu casaco esfarrapado e desbotado ele jogou a lata ao chão e se levantou deixando o local silenciosamente.

***

Em Sobral o dia decorria passivamente enquanto Ciro finalizava suas pendências no escritório para iniciar o recesso de final de ano. O grisalho fechava seu notebook esfregando os olhos cansados e recostava sua cabeça a cadeira descansando alguns minutos sua mente e vista. Suas lembranças o levaram a primeira vez que encontrou com Simone e um suspiro saudoso escapou de seus lábios, os cabelos negros esvoaçantes, os olhos intensos, o corpo exuberante e a voz imponente lhe arrebataram de uma maneira tão ligeira e inesperada que ao perceber o que estava se passando já era tarde demais. A paixão que aquela mulher despertara era uma chama viva que queimava a pele e incendiava os sentidos, nada se comparava ao poder que ela exercia por quem cruzava seu caminho e ele, mais do que ninguém, podia afirmar com toda propriedade. A imagem do sorriso atraente se desfez pela recordação do dia em que Giselle chegou para ver Gael e ao sair se sentiu mal, aquilo voltou a intrigar o cearense e a preocupação pela saúde da ex-mulher voltava fortemente. Se perguntara naquele dia se ela estava doente e não queria dizer, e se fosse isso gostaria de poder ajudá-la de alguma forma, sentia que devia a ela isso depois de anos juntos. Respirando pesadamente ele se levantou da cadeira e alcançou seu celular discando o número de Giselle enquanto colocava a mão livre ao bolso de sua calça social, esperando ser atendido o homem parou próximo ao sofá médio que havia na sala se encostando nele.

#LIGAÇÃO ON#

- Bom dia, Giselle! Espero não estar te atrapalhando - Começou o grisalho receoso.

- Bom dia, Ciro! Não se preocupe, não estou fazendo nada importante - A mulher suspirou pesado do outro lado da linha - O que você quer? Tem algo de errado com o Gael? - Indagou em um tom de preocupação.

- O Gael está bem. Eu liguei para saber de você, me deixou muito preocupado o mal-estar que sentiu quando esteve aqui - O homem mexeu distraído na sua gravata - Você está doente, Giselle? -

- Eu não estou doente e mesmo que estivesse isso não seria mais um problema seu - Giselle temia o rumo que aquela conversa tomava e em um tom seco tentava finalizá-la.

- Ainda me preocupo com você e valorizo os anos que passamos juntos. Eu só queria que soubesse que pode contar com minha ajuda no que for - Informou sentindo a mandíbula tensionar.

Salve-me do caosWhere stories live. Discover now