Salve-me do caos

Intrínseco sofrer: 26

Em Brasília o dia se tornava corrido. Entre reuniões e discussões para próximos passos a se tomar no governo, Simone Tebet tentava manter seu foco em seus planejamentos e obrigações, porém a última vez que vira Ciro todavia vinha a sua mente atormentando seus sentidos. A magoava profundamente repassar o que ouvira do homem que amava, a mágoa se misturava a raiva e seus pensamentos navegavam por águas turvas afastando sua atenção do meio a sua volta.
Quando a morena adentrou seu gabinete seus olhos logo desligaram dos papéis em suas mãos e encararam com certo vislumbre de surpresa ao notar mais um dos muitos buquês que Ciro mandara desde o ocorrido, respirando fundo e afastando qualquer emoção que pudesse sentir com o gesto, a mulher caminhou até sua mesa descansando os documentos ali. Por segundos sôfregos admirou as rosas chamativas e perfumadas, pegou o cartão no topo e passando os polegares no papel liso a mesma fechou os olhos e rasgou sem ler, mais uma vez, o que havia ali. Se desfazendo dos pedaços do papel que recém rasgara ela pegou o buquê, abriu a lixeira e o jogou fora sem remorso algum. Após se livrar de tudo a mulher sentou a cadeira sentindo um peso de exaustão dominar seu corpo, passando aos mãos pelos cabelos escuros e soltando uma respiração longa ela olhou para tela do seu celular que brilhava com mais notificações, anunciando uma mensagem do grisalho, de tantas que ela já havia ignorado e deixado acumular. Relaxando totalmente sobre a cadeira a ministra entrelaçou as mãos e descansou-as no abdômen fechando os olhos no processo e apertando os lábios evitando a vontade de chorar que a perseguia e insistia em incomodá-la todo o dia.

Ao entardecer Simone pegava sua bolsa, algumas pastas e deixava seu gabinete ansiosa para chegar ao seu apartamento e descansar. No caminho, enquanto dirigia, a mulher sentira uma pontada de saudade em recordar que em outro momento Ciro estaria a esperando com um sorriso meigo e em prontidão a massagear os pontos tensos na mulher para que a mesma relaxasse o máximo possível. Com um suspiro e sorriso singelo a mesma por um segundo, ao parar em um semáforo fechado, pensou em responder as mensagens do homem e pedir que ele viesse ao seu encontro, mas ao voltar a focar sua atenção na direção e avançar o sinal que agora estava verde ela negou com a cabeça no silêncio de seu carro e se desfez rapidamente da ideia sabendo que não acabaria bem. Ao chegar, totalmente distraída a procura das chaves em sua bolsa, Simone não notou a presença de um homem a porta de seu apartamento e quando, ao encontrar o que procurava, ergueu a cabeça seus olhos encontraram outros olhos brilhosos de lágrimas por derramar e arrependimento afogando órbitas avermelhadas. Parando de frente ao grisalho de rosto empalidecido, olheiras em olhos cansados, ombros caídos e mãos aos bolsos da calça entristecido. A mulher engoliu em seco tentando manter uma postura indiferente enquanto o coração balançava com o amado ali a sua espera, o amor que sentia brigava com a mágoa enraizada com a infeliz frase que o mesmo a dedicou e em uma inspiração curta ela não esperou o que ele tinha a dizer.

- Vá embora daqui! Eu não quero te ver mais por aqui, Ciro - Em um tom cortante a mesma expulsou o homem dali.

- Simone, por favor, me escuta... Eu te suplico - Com a voz embargada o cearense tentou se aproximar e parou ao receber um passo para trás da ex.

- Escutar o que? Que sou "fácil"? - Cruzando os braços a mulher ergueu o queixo em ar orgulhoso.

- Eu fui um idiota, não poderia ter dito uma ofensa maior que essa. O que disse não tem perdão, meu amor, mas eu imploro o seu mesmo assim - Em um semblante de derrota o homem tentou aproximação e sentiu a mão de Simone em seu peito evitando que viesse a chegar mais perto que o necessário - Morena, por favor... -

- Não me chame de morena! - Com o peito a subir e descer evidenciando uma respiração pesada a mulher tentou evitar o contato entre ambos - E me faça o enorme favor de ir, eu já deveria ter impedido sua entrada aqui -