Desespero momentâneo: 29

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Uma ambulância rumava ao hospital mais próximo e sua sirene ecoava pelas ruas e martelava nos ouvidos de quem estivesse por perto.
Simone sentara ao lado da maca de Ciro e segurava delicadamente a mão do homem desfalecido querendo assim fazê-lo sentir, de alguma forma, que ele não estava só, mas de mesma forma querendo comprovar a si mesma que todavia não o perdera. Sentir sua mão ainda morna trazia algum refrigério a sua alma atormentada pelo pavor de jamais voltar a estar com o homem que amava, as lágrimas salgavam seus lábios trêmulos e sua garganta sentia o nó das palavras que sequer pôde pronunciar a pessoa que agora estava inconsciente sobre uma maca tendo o sangue estancado por paramédicos ágeis em mantê-lo estável. Com o apitar de uma máquina que checava os sinais vitais e um acesso ao braço Ciro vagueava pela inconsciência enquanto a mulher que nunca deixou de querer segurava uma de suas mãos entre as dela e acariciava suavemente, os olhos negros não desviavam a atenção do rosto empalidecido do grisalho e a culpa bradava em um coração arrependido do tempo perdido com uma distância agora desnecessária.

Chegados ao hospital o cearense foi levado as pressas portas a dentro para um atendimento e procedimento de urgência enquanto Simone fora barrada de ir além do limite permitido apenas aos profissionais da área. Ela se despediu do amado receosa e ficou parada a recepção sentindo que as forças se esgotaram, sentando a uma das cadeiras do local a mulher então baixou seu olhar e percebeu as mãos completamente ensanguentadas, e suas roupas, respirando fundo ela voltou a experimentar o medo de deixar que o amor escapasse entre seus dedos e um pânico tomou conta de seu corpo. O coração parecia que sairia por sua boca, o suor frio incomodava em suas mãos que tremiam, seus olhos com a visão embaçadas por lágrimas e vidrados naquele sangue seco, sua respiração falha lhe provocando sensação de afogamento e a mente a levando a cenários trágicos e assustadores dos quais a mesma queria apenas fugir e gritar e não conseguia, não podia... Todavia sentia o corpo de Ciro entre seus braços e seus olhos gradativamente a fecharem sem saber se voltariam a abrir e encara-la, as barreiras erguidas para manter a força por quem não a tinha estavam ruindo rapidamente e Simone sentia que seu estômago revirava com tanta angústia e seu foco foi tirado de tanta tormenta apenas quando sentiu duas mãos em seu rosto e uma voz cheia de mansidão a chamando para que pudesse se acalmar.

- Simone! Ei, respira tá, olhe aqui pra mim - Pediu em um tom tranquilo e manso Lívia ao chegar e perceber o desespero contido da morena na cadeira.

- Lívia... - Olhando nos olhos da enteada Simone deixou as lágrimas descerem por sua bochecha.

- Quer ir lavar essas mãos? - Perguntou sentando ao lado da outra mulher.

- Acho que não consigo levantar agora - Confessou a morena com a voz embargada - Seu pai... Ele está sendo atendido agora - Explicou ainda desnorteada e sem foco.

- Eu sei... Vai ficar tudo bem viu, meu pai é um cabra forte! - Tentou consolar Lívia - Vai ficar tudo bem - Reafirmou trazendo a outra mulher para um abraço acolhedor.

- Eu não quero perder ele - Se refugiando no abraço da filha do cearense a mulher desabou por completo - Se eu não tivesse vindo aqui, se eu não tivesse pedido pra ele sair... É minha culpa, tudo minha culpa - Chorou.

- Não, não diga isso! Ninguém teve culpa aqui além do filho da puta que fez isso - Sentindo revolta e medo Lívia prosseguiu - Vai ficar tudo bem, Simone! Você vai ver - Respirou fundo tentando se convencer disso também.

Abraçadas por alguns minutos as duas apenas ficaram em silêncio tentando alcançar alguma calmaria dentro daquele afago. Lívia convencera Simone a ir lavar as mãos e braços e a ajudou no processo sentindo que a outra mulher a qualquer momento falharia em seus passos. Quando voltaram a sentar na sala de espera e Lívia trouxe uma água para que a morena bebesse e se acalmasse as duas puderam interagir com mais tranquilidade.

Salve-me do caosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora