Um abraço: 46

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Uma noite luminosa se iniciava pelo apartamento da Tebet. A ministra chegara cansada e com sua mente em várias divagações distintas, sentia suas costas cada vez doerem mais e o sono que pairava sobre seus olhos e os cansava rápido continuava trazendo seu peso pelo corpo da mesma. Retirando seus saltos, e deixando no canto próximo a porta, seu blazer era o próximo a ser descartado junto a sua bolsa na mesinha por ali, as mãos iam ao quadril e um suspiro pesado ecoava pela sala. Ciro vinha ao seu encontro com um pano de prato no ombro, e as mangas da camisa arregaçadas, lhe depositando um doce beijo aos lábios e um terno cumprimento a sua pequena barriga o que foi capaz de arrancar um singelo sorriso da morena que agora se sentia mais leve por estar em seu lugar seguro. Caminharam juntos até a cozinha onde a mesma foi direto as panelas quentes apreciando o cheiro que emanava delas e beliscando a massa e o molho feito para se deliciar do sabor que desejara, com um som de satisfação a mulher se virou para o grisalho que a observava com um sorriso bobo e lhe abraçou deixando um beijo suave em sua bochecha.

- Obrigada, meu amor - Agradeceu, ainda agarrada a seu pescoço, se demorando no abraço.

- Qualquer desejo da minha morena é uma ordem - Falou enterrando o nariz nos cabelos dela - Como estão meus pimpolhos? - Perguntou se afastando um pouco para acariciar a barriga que tanto o encantava.

- Cheios de querer - Sorriu, revirando os olhos, colocando sua mão em cima da dele.

- Fiz a massa com molho de tomate que você desejou - Comentou - Gael falou que eu iria queimar a cozinha - Riu.

- Que bom que dessa vez ele estava errado no palpite - Brincou.

- Segui a receita da dona Fairte direitinho - Pegou seu celular no bolso da calça e mostrou a conversa.

- Salvo pela sogra - Estreitou os olhos com um sorriso incrédulo - Onde está o Gael? -

- No quarto fazendo uma atividade da escola - Contou enquanto guardava o celular e pegava na mão da morena - Agora, senhora ministra, sente aqui pra descansar um pouquinho - A guiou até a mesa onde ela repentinamente parou antes de sentar a cadeira.

- Tem café aí? - Perguntou com os olhos desejosos - Aposto que não, antes dos nossos filhos eu não tinha a mínima vontade por isso - Comentou enquanto ia até os armários e procurava.

- Tinha me esquecido que nossos pimpolhos adoram um cafezinho - Sorriu encantado - Posso ir comprar rapidinho - Observou a hora no relógio pendurado na parede da cozinha.

- Você é um amor, querido - Ela caminhou até o grisalho e acariciou seu rosto - Agradecemos sua boa vontade - Sorriu.

- Tudo para os meus amores - Com um beijou deixado na testa da morena, e um em sua barriga, ele se despediu - Não demoro - Garantiu.

Simone acompanhou o amado até a porta e se despediu com um selinho meigo. Quando fechou a porta e caminhou lentamente pela sala observando o lugar, agora parecendo vazio, a mulher sentiu um nó formar-se em sua garganta, o peso de algum perigo iminente dominava seu peito e o apertava, seu coração pareceu bater forte e sua mente começou a traí-la trazendo flashs de memórias da noite na qual foi agredida. Com a mão suando frio ela se apoiou as costas do sofá e recordou nítida e cruelmente o homem levemente embriagado que a pressionava naquele mesmo lugar e invadia sua pele com mãos indecentes, seu estômago embrulho lembrando de seus beijos pegajosos e seu hálito forte percorrendo por seu rosto. Fechando os olhos com força, tentando afastar aquela visão, ela sentiu-se arrebatada e levada ao momento em que sentiu os golpes e sua inconsciência a dominou, o pavor de não poder proteger seus filhos martelou outra vez em seus sentidos e o ar pareceu faltar a sua volta. Quando o vômito alertou a chegada em sua garganta a mulher caminhou rápido até seu quarto, o corpo trêmulo, as lágrimas ardendo em seus olhos, os joelhos cederam em frente ao vaso e a mesma colocou o pouco que comeu durante o dia para fora. Alguns minutos agonizantes e visão turva deixaram-na prostrada ao chão do banheiro, até que conseguiu com o pouco de força que lhe restava levantar-se, fazer sua higiene e deixar o local. Suas pernas estavam bambas e sua cabeça rodopiava, a mesma sentou ao pé da cama e abraçou suas pernas escondendo seu rosto ali enquanto um choro forte tomava conta dela, o soluço alto e as lágrimas incontroláveis fluiam. Parecia ouvir a voz arrastada e maliciosa de seu agressor ao pé de seu ouvido e quando uma batida delicada em sua porta ecoou pelo quarto até que fosse aberta lentamente a mulher sentiu um calafrio em sua espinha e se encolheu mais enquanto sua respiração era irregular, ofegante.

Salve-me do caosWhere stories live. Discover now