Do nosso amor não me arrependo: 81

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#Último capítulo#

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23 de fevereiro de 2027, CE

Com um sol reluzente coberto por nuvens volumosas, uma brisa sombria a passear por entre as árvores que se erguiam ali como um corredor natural e belo, o asfalto de pedras arredondadas que se seguia ao meio dos vários túmulos no gramado verdejante era o que destoava da leveza que poderia possuir o lugar aberto e extenso.

Simone caminhava devagar com seus filhos, ambos com as mãos entrelaçadas as suas e um boné na cabeça para proteger dos intensos raios solares daquela soturna manhã, a mulher observava com olhos penalizados as gravuras que permearam o lugar. Estavam fincadas ao chão e descreviam quem estava lá, há quanto tempo estava e como as saudades foram deixadas com dor por suas partidas. Segurou as lágrimas que vinham ao seu rosto com o pesar em seu peito. Olhou com o canto dos olhos para seus filhos que pouco pareciam entender onde estavam, distraídos com o reflexo da luz das lápides. Estava grata mais do que conseguia expressar de que estivessem ali, de que tivessem sido salvos e que ela, todavia, pudesse os acompanhar e amar com todo seu ser. Seus polegares acariciaram os dorsos das diminutas e rechonchudas mãozinhas que se agarravam com confiança e carinho nas suas. Quando sua mente a traia ela ainda podia ouvir o eco insuportável do disparo, podia sentir o calor se esvaindo do corpo de seu amado, via nitidamente o horror do sangue que fluía pelo chão e manchava suas mãos.

- Mãe! Aqui, as rosas - Gael, ainda mais alto e mais robusto, se aproximou ofegante com as rosas em mãos após correr até eles.

- Obrigada, meu amor! Eu tinha esquecido no carro - Simone se virou para ele e esse se inclinou para receber um beijo na testa.

- Me dá uma - Pediu Sofia estendendo a mão livre para pegar uma rosa.

- Toma maninha - Gael deu a sua irmã uma rosa branca - Quer uma também, Nando?

- Quelu! - Pegou a rosa e a ficou observando com curiosidade.

- Vamos continuar - Simone indicou para seguir o longo caminho de pedras.

Ao meio das pedras o atrito com os calçados era o som que se misturava aos dos pássaros ao longe, aos lados a vastidão de gramado e gravuras dos falecidos no local. O vento levantava as roupas, as vezes, alguns bancos como os de praça se espalhavam por lá para quem quisesse deter um tempo no silêncio dos que se foram. Simone olhou para seu filho mais velho com um sorriso amoroso enquanto os olhos se enchiam de lágrimas.

Ela jamais teria se perdoado, suportado ou sobrevivido se fosse ele ou os irmãos entre os nomes nas lápides. Sua alma era rasgada em pedaços cruéis em tão somente imaginar um cenário tenebroso como este. Antes dos seus filhos que fosse ela a não estar mais no mundo. Era um alívio ver seus pequenos com quatro aninhos e o mais velho chegando aos treze, estar por perto para os manter em seu regaço era uma dádiva da qual mal conseguia agradecer o suficiente ou pagar. O medo de os perder ainda reverberava por seu ser até quase a derrubar, mas quando podia sentir o aquecer deles perto ao seu peito todos os temores se afastavam e uma luz se acendia em seus olhos.

- Tudo bem, mãe? - Gael perguntou tendo Sofia agora carregada em suas costas, ela adorava isso.

- Tudo, meu amor - A morena pressionou os lábios e por segundos repousou sua cabeça no braço do filho.

Salve-me do caosWhere stories live. Discover now